Descrição de chapéu RFI

Nicaraguenses fogem de repressão de Ortega e buscam asilo na Costa Rica

País vizinho monta estrutura para receber imigrantes, que chegam aos milhares

Refugiados nicaraguenses recebem alimentação em San José, na Costa Rica
Refugiados nicaraguenses recebem alimentação em San José, na Costa Rica - Juan Carlos Ulate - 28.jul.18/Reuters
Léa Morillon
San José | RFI

Todos os dias, muitos nicaraguenses se veem obrigados a fugir da repressão. Por causa de sua estabilidade política e pela proximidade geográfica, a Costa Rica tem visto, nos últimos três meses, a chegada de milhares de imigrantes a seu território, em busca de asilo.

Recém-chegada a San José, uma família de Masaya concordou em conversar com a RFI, mas preferiu permanecer anônima por medo de represálias. O filho participou dos protestos no dia 19 de abril.

"Os aliados do regime estão tentando destruir, matar todos aqueles que são contra o governo de Daniel Ortega. E é difícil ver seus amigos caírem, quando eles os matam... Vê-los morrer, matar uns aos outros, pedir ajuda, gritar ... É horrível!", afirmou a mãe.

"Então tivemos que sair", continua. "Eu pedi ajuda do meu irmão que mora na Costa Rica. Eu disse a ele: 'Por favor, ajude-nos'! É por isso que estamos aqui, estamos pedindo asilo, porque na Nicarágua é impossível viver."

Nicaraguenses refugiados em San José, na Costa Rica, protestam contra o governo de Daniel Ortega
Nicaraguenses refugiados em San José, na Costa Rica, protestam contra o governo de Daniel Ortega - Juan Carlos Ulate - 29.jul.18/Reuters

A família teve que fugir durante a operação de Masaya, deixando para trás três crianças. Para essa mãe e seu filho de 20 anos, é difícil conter as lágrimas. O pai tenta controlar suas emoções.

"Nós nunca saímos da Nicarágua. Nunca! Portanto, não temos nem passaporte nem nada. Nós partimos com o que nós tínhamos em nossos bolsos. Nós deixamos tudo para trás", desabafa. Como milhares de nicaraguenses, a família teve que deixar o país ilegalmente.

Além da ajuda financeira da Costa Rica, a família encontrou apoio da associação Cenderos, que ajuda os requerentes de asilo há mais de 20 anos.

Para a coordenadora da ONG, Marisela Hinkelammert, o Estado tem demorado para implantar estruturas para a recepção dos migrantes. Ela reconhece hoje que, na fronteira, a situação está melhorando.

"As coisas melhoraram porque as horas de abertura foram muito limitadas. As pessoas tinham que passar a noite na fronteira, antes de serem cuidadas, com crianças. Mas não mais. Hoje, os agentes os recebem das 8h até a meia-noite, em condições adequadas. A entrevista é agora feita em um escritório fechado. Então, há melhorias. E o Departamento de Imigração da Costa Rica abriu dois abrigos para os migrantes, para que eles não fiquem mais desalojados", diz Hinkelammert.

Além da abertura de dois albergues, a Costa Rica implementou um mecanismo para a gestão dos fluxos migratórios, a fim de fornecer os serviços necessários aos requerentes de asilo. Mas, para o governo, a crise migratória não é a única preocupação.

A situação na Nicarágua tem um impacto sem precedentes na economia do país e da região, particularmente por causa da impossibilidade de usar as estradas da Nicarágua, afirma Epsy Campbell, vice-presidente e ministro das Relações Exteriores.

"A Nicarágua é um dos parceiros comerciais mais importantes da Costa Rica. Como resultado, a crise da Nicarágua leva a uma diminuição do comércio entre os dois países. Em segundo lugar, 40% da produção industrial da Costa Rica é exportada para o norte da América Central, incluindo a Nicarágua. Então, muitas exportações estancaram. Além disso, há cada vez menos empregos na Nicarágua. E isso também gera pressão econômica aqui."

Para compensar as perdas econômicas da região, da ordem de mais de US$ 21 milhões, os Estados da América Central estabeleceram uma nova rota marítima entre a Costa Rica e El Salvador, mas esperam, acima de tudo, poder sair da crise rapidamente.

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