Operação policial revista casa da ex-presidente Cristina Kirchner na Patagônia

Desde quinta (23), policiais cumprem mandados judiciais atrás de dinheiro e documentos em propriedades da família Kirchner

Ex-presidente argentina e senadora Cristina Fernández de Kirchner participa de sessão no Senado em Buenos Aires - Marcos Brindicci - 22.ago.2018/Reuters
Buenos Aires | AFP

Funcionários judiciais e policiais fizeram buscas neste sábado (25) em uma casa de campo da ex-presidente e senadora argentina Cristina Kirchner, investigada por corrupção, em um caso que envolve empresários e ex-altos funcionários. 

A residência revistada é uma casa de dois andares na localidade de El Calafate, na Patagônia. A casa com jardim fica próxima da geleira Perito Moreno, uma das atrações turísticas do país, 2.000 km a sudoeste de Buenos Aires.

Esta semana também foram alvo de procedimentos similares outras duas residências de Kirchener, que governou a Argentina entre 2007 e 2015, após suceder o marido, o ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007). 

Até o momento, não foi encontrado nada importante, segundo fontes judiciais citadas pela imprensa local.

"Foi analisado neste sábado o subsolo da casa", disse uma fonte da investigação. Não houve confirmação se a operação prosseguirá neste domingo (26).

O juiz encarregado do caso, Claudio Bonadio, considera que o casal Kirchner comandava uma associação ilícita, destinada a arrecadar propinas milionárias. 

Kirchner reagiu e disse esta semana ser uma perseguida política e acusou Macri de montar "um show midiático", enquanto a população sofre com "políticas econômicas horríveis".

BUSCAS EM PAREDES E PISOS

Batalhões de funcionários judiciais e policiais realizaram as buscas, equipados de escâneres para examinar dentro das paredes ou dos pisos.

Os procedimentos foram realizados após o Senado ter dado autorização a um pedido da Justiça para fazer buscas nas residências de Kirchner, um passo necessário devido ao foro privilegiado da senadora, que também votou a favor da medida.

As buscas no apartamento de Kirchner em Buenos Aires duraram 13 horas entre a quinta e a sexta-feira. A segunda operação foi na casa da família em Río Gallegos, também na Patagônia, a 300 Km de El Calafate.

"O dinheiro da corrupção explica todas as coisas que nos faltam [no país]", disse Macri na sexta (24).

Policiais federais da divisão científica da Argentina chegam para revistar propriedade de Cristina Kirchner no bairro da Recoleta, em Buenos Aires - Juan Mabromata - 23.ago.2018/AFP

O arquiteto e ativista dos Direitos Humanos Adolfo Pérez Esquivel, ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1980, afirmou neste sábado (25) que "desatou-se em todo o continente a criminalização e a perseguição das frentes políticas populares" em Argentina, Brasil e Equador.

Um comunicado judicial informou que na investigação foram tomados até agora "52 depoimentos indagatórios, tendo conseguido a detenção de 26 pessoas, 11 das quais foram postas em liberdade, subsistindo duas pessoas com ordem de captura".

"Entre os acusados, 17 depuseram como arrependidos, e 15 deles assinaram acordos que foram homologados pelo juizado e serão beneficiados com redução de pena", diz o documento.

Entre os grandes empresários envolvidos, estão magnatas de obras públicas e da indústria, como Paolo Rocca (Techint). Entre os arrependidos está um executivo da empresa espanhola Isolux.

CADERNOS DA CORRUPÇÃO

As investigações começaram em 2 de agosto quando o juiz federal Claudio Bonadio chamou para depor Óscar Centeno, motorista de Roberto Baratta, homem próximo ao ex-ministro do Planejamento, Julio De Vido

Bonadio quis saber sobre o conteúdo de oito cadernos nos quais, durante mais de uma década, anotou viagens, encontros, restaurantes, hotéis, estacionamentos e subsolos, onde entregou milhões de dólares de supostas propinas de empresários para altos funcionários. 

Ex-militar expulso do Exército, Centeno está em liberdade sob custódia.

Os chamados cadernos da corrupção, como foram apelidados pela imprensa argentina, registram uma suposta movimentação de US$ 56 milhões. Já o juiz Bonadio diz que sua investigação calcula um total de cerca de US$ 160 milhões em desvios de verba pública, durante todo o período.

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