Presidente do Paraguai deixa cargo às escondidas após tentativa de renúncia

Na quarta (15), o impopular Horacio Cartes, 62, entrega a Presidência a Mario Abdo Benítez, 46

Operários assentam pedras em uma área de praça. Ao fundo, está um banner de letras em tamanho gigante da palavra Asunción, com ASU em maiúsculo e vermelho e as demais letras em minúsculo e branco. Em terceiro plano, o Palácio dos López.
Operários preparam calçada em frente ao Palácio dos López, sede do governo paraguaio em Assunção, para a posse do novo presidente, na quarta-feira (15) - Jorge Adorno/Reuters
Sylvia Colombo
Assunção

O presidente paraguaio, Horacio Cartes, 62, deixa o cargo na próxima quarta-feira (15) com popularidade baixa (18%) e enfrentando seguidos "escrachos" diante de sua residência particular ou nos poucos espaços públicos que ainda frequenta.

O mandatário colorado entrega o posto para Mario Abdo Benítez, 46, jovem representante da ala mais tradicional de seu partido.

Os atos contra o presidente começaram depois de sua fracassada tentativa de fazer aprovar uma emenda constitucional que o permitisse concorrer à reeleição, no ano passado.

Em meio aos intensos protestos de rua e uma tentativa de manifestantes de incendiar parte do Congresso, veio à tona a denúncia de que parte das assinaturas que Cartes havia reunido para pedir a alteração na Carta eram falsas.

Horacio Cartes, ex-presidente do Paraguai, ri em foto de terno azul e gravata vermelha
Horacio Cartes, ex-presidente do Paraguai - Jorge Adorno/Reuters

Sua popularidade caiu ainda mais depois que tentou, por meio de uma controvertida manobra, renunciar ao cargo, em junho, para desta forma poder assumir como senador com poder de voto.

No Paraguai, ex-presidentes viram senadores honorários e vitalícios, um cargo de prestígio, porém sem efeito político.

O Congresso não aceitou a manobra, e Cartes continuou sendo o presidente, mas com menos aparições públicas. Sua vice, Alicia Pucheta, assumiu grande parte de sua agenda internacional.

Nas últimas semanas, os "escrachos" contra o presidente se fizeram mais frequentes. Na última sexta-feira, num evento no panteão de heróis da pátria, ouviu xingamentos de "rato", "ladrão", "traidor e vendedor do país".

Um dos estudantes que vêm frequentando esses atos, Mauricio Venegas, 21, disse que sua geração está inconformada com o fato de Cartes "ter feito acordos que só beneficiam a Argentina, em troca de benefícios pessoais".

Um dos principais exemplos da suposta traição do presidente é ter assinado contrato pela hidrelétrica de Yacyretá, no rio Paraná, na fronteira com a Argentina, que "só vai inundar território paraguaio e só vai render para os argentinos", completa Venegas.

O estudante se refere a uma lei promulgada no último mês, em que o Paraguai se compromete a abrir mão de seus primeiros dividendos vindos da hidrelétrica para pagar parte de sua dívida de US$ 4 bilhões (R$ 15,5 bilhões) com a Argentina.

Há ainda queixas e denúncias de outros países, como Colômbia e México, de que os cigarros paraguaios piratas, muitos deles fabricados pelas empresas de Cartes, estão entrando ilegalmente em seus países.

A queda de popularidade do presidente aparece também em outros números. Segundo pesquisa encomendada pelo jornal Última Hora em julho, 52% dos cidadãos dizem acreditar que a corrupção aumentou durante seu governo, iniciado em 2013.

Na área de segurança, 33% dos entrevistados afirmaram que o país está pior, e do ponto de vista econômico, 41,5% consideram que o país não vai bem.

Por outro lado, o presidente Cartes, um dos empresários mais ricos do país, com empresas que atuam na área do tabaco e dono de bancos, fez com que o Paraguai recuperasse certa estabilidade política desde o afastamento do ex-presidente Fernando Lugo, em 2012.

Além disso, o país chegou a ser visto como caso de sucesso em fóruns internacionais como o de Davos (que reúne a elite empresarial na Suíça) por suas medidas favoráveis ao livre-comércio e a estratégia de tornar o país mais atrativo ao investimento estrangeiro, reduzindo impostos e barateando a mão de obra.

Foi o auge das chamadas "maquilas", empresas de montagem estrangeiras instaladas aqui, 80% delas brasileiras.

Além disso, o Paraguai cresceu em média de 3% a 4% nos últimos anos, enquanto as demais economias da região ficaram em torno de 2% ou abaixo, como ocorreu com Brasil e Argentina.

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