Primo de Macri admite ter pago subornos ao kirchnerismo na Argentina

Ángelo Calcaterra era dono de empreiteira e foi citado nos 'cadernos da corrupção'

Sylvia Colombo
Bogotá

O primo do presidente argentino, Mauricio Macri, e ex-proprietário da empresa de construção IECSA, Ángelo Calcaterra, 60, reconheceu nesta segunda-feira (6) que colaborou com doações por caixa 2 a funcionários dos governos kirchneristas (2003-2015), em troca de benefícios para obter concessões de obras públicas no período.

Ángelo Calcaterra (à esq.), primo de Macri e ex-dono de empreiteira, durante evento em Buenos Aires em 2012
Ángelo Calcaterra (à esq.), primo de Macri e ex-dono de empreiteira, durante evento em Buenos Aires em 2012 - Enrique Garcia Medina - 3.set.12/Reuters

Calcaterra compareceu diante da Justiça por ter sido mencionado nos chamados “cadernos da corrupção”, uma série de anotações feitas por um ex-motorista da cúpula do kirchnerismo, que vêm sendo analisadas pelos promotores.

Não é a primeira vez que o nome de Calcaterra surge vinculado a casos de corrupção do governo antecessor ao de seu primo. A IECSA era a parceira local da Odebrecht no caso do soterramento de uma linha de trem da capital, a do trem Sarmiento —por ora a obra de maior peso para a qual a Odebrecht teria pago propinas para participar, segundo as delações surgidas nas investigações da Lava Jato no Brasil.

O caso respinga no presidente Macri. Além do primo, ele tem um de seus melhores amigos, e atual chefe do serviço de inteligência, Gustavo Arribas, citado em casos de corrupção ocorridos durante o período kirchnerista.​

Ao juiz Claudio Bonadio, Calcaterra disse que foi “pressionado” pelos funcionários kirchneristas para que pagasse para continuar com suas obras.

Porém, as anotações do motorista Oscar Centeno apontam para pagamentos voluntários, dele e de outros diretores da empresa, num valor mais alto do que o admitido por Calcaterra. Javier Sánchez Caballero, ex-CEO da IECSA, é um dos empresários presos por conta do escândalo.

Calcaterra, por ora, ainda permanece em liberdade. Segundo o jornal argentino La Nación, os advogados do primo do presidente estariam negociando uma espécie de “delação premiada”, para que este não fosse preso (na Argentina, a chamada “Lei do Arrependido” só era usada em casos de narcotráfico, mas a Justiça passou a aceitar que também seja usada em casos de corrupção).

Mesmo antes dos “cadernos da corrupção”, apenas com o caso Odebrecht, Calcaterra já havia decidido se afastar da empresa, que foi vendida ao empresário Marcelo Mindlin. A IECSA era parte do Grupo Macri, fundado e dirigido pelo pai do presidente, Franco Macri.

Outras empresas do grupo mantiveram negócios com os governos kirchneristas, quando Macri era chefe de governo de Buenos Aires, e Cristina Kirchner, presidente do país.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.