Trump pede que líderes evangélicos dos EUA o ajudem nas urnas em novembro

'Se as pessoas não votarem, teremos dois anos horrorosos', disse presidente a religiosos

Washington | The New York Times

Em declarações a líderes evangélicos no salão de jantar da Casa Branca na segunda-feira (28), o presidente Donald Trump falou em tom elevado sobre liberdade religiosa, aborto e desemprego entre os jovens. Apontou para uma citação de John Adams entalhada na lareira da sala: "Oro aos céus para que confiram suas melhores benções a esta casa".

Mas, assim que os repórteres e as câmeras de TV saíram da sala, Trump passou a tratar de preocupações mais pragmáticas: de que maneira os líderes evangélicos poderiam usar seus púlpitos para ajudar os republicanos a vencer a eleição legislativa de novembro, de acordo com uma gravação de suas declarações fornecida ao The New York Times por alguém que participou do evento.

O presidente dos EUA, Donald Trump, ao lado da pastora Paula White durante encontro com líderes evangélicos na Casa Branca
O presidente dos EUA, Donald Trump, ao lado da pastora Paula White durante encontro com líderes evangélicos na Casa Branca - Leah Millis/Reuters

"Peço só que vocês batalhem para que todo o seu pessoal vote", disse Trump ao grupo de cerca de cem ministros evangélicos. "Porque se eles não o fizerem —em 6 de novembro—, se as pessoas não votarem, teremos dois anos horrorosos; francamente, teremos um período horrível, porque tudo depende de uma só eleição —vocês estão a uma eleição de distância de perder tudo que têm".

Trump dedicou a maior parte do tempo de sua conversa particular com o grupo a se gabar por ter "jogado fora" a Emenda Johnson, uma cláusula tributária de 1954 que ameaça privar organizações religiosas como as igrejas de sua isenção de impostos caso elas endossem ou se oponham a candidatos políticos.

Nos termos daquela emenda, disse Trump, os líderes religiosos teriam sido impedidos de dizer o que pensam.

"Talvez seja por isso que vocês estão meio parados. Detesto dizer isso, mas se vocês fossem uma ação, estariam parados", disse Trump, causando risos na sala. "E eu acho que vocês pararam de subir porque não podiam falar. Eles realmente os silenciaram. Mas agora vocês deixaram de ser silenciados."

O presidente lembrou a ocasião em que foi informado sobre a Emenda Johnson, durante a campanha de 2016, quando dezenas de pastores e ministros se reuniram com ele na Trump Tower em Nova York. Ele disse que o encontro o agradou porque os líderes religiosos pareceram gostar dele.

"Sei quando as pessoas gostam de mim", disse Trump. "Sei quando não gostam. Vocês sabem, sou bom nisso. Muita gente gosta, outras não, e tudo bem. Mas aquele grupo realmente gostou de mim".

Trump também recordou ter olhado pela janela durante a reunião na Trump Tower, mas não ficou claro por que ele resolveu falar do assunto.

"Estávamos no 68º andar da Trump Tower e olhamos para as calçadas lá embaixo, e vimos milhares e milhares de pessoas", ele disse. "Pareciam formigas, pessoas minúsculas caminhando para toda parte —boom, boom, boom—, porque quando você está no 68º andar tudo parece realmente pequeno. Mas havia muita gente".

Trump contou ter dito aos líderes religiosos, naquela reunião, que ele se oporia à Emenda Johnson, caso eleito presidente, e que "batalharia muito pela revogação da cláusula".

Na verdade, o presidente não chegou a cumprir essa promessa. Eliminar a cláusula legal requereria ação do Congresso. Em lugar disso, Trump assinou uma ordem executiva em maio de 2017 instruindo o Serviço de Receita (IRS) a não investigar agressivamente casos nos quais uma igreja apoie candidatos ou faça doações políticas.

Especialistas dizem que o IRS raramente trabalhou com agressividade em casos contra igrejas, e líderes religiosos muitas vezes se pronunciam de maneira franca sobre política, mesmo que não endossem oficialmente um candidato.

Trump ignorou essa realidade na noite de segunda-feira. Instou os líderes religiosos a usar o que ele descreveu como "sua liberdade de expressão restaurada" para fazer campanha, de seus púlpitos, em benefício de candidatos republicanos.

"Temos pessoas que pregam para quase 200 milhões de fiéis —150, perto disso, a depender de que domingo estejamos discutindo, e fora dos domingos, para 100, 150 milhões de pessoas", ele disse.

Trump advertiu que, se os republicanos não retiverem o controle do Congresso, as comunidades religiosas perderão todas as vantagens que ele garantiu para elas.

"Eles porão fim a tudo imediatamente", disse Trump, aparentemente falando dos democratas. Acrescentou, de novo sem esclarecer sobre quem estava falando, que "eles derrubarão tudo que fizemos, e o farão de modo rápido e violento. E violento. Há violência. Basta ver o Antifa e grupos como esse, são pessoas violentas".

Antifa é um termo que descreve algumas organizações militantes que se opõem ao fascismo nos Estados Unidos.

Tradução de Paulo Migliacci

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