Descrição de chapéu Venezuela

Venezuelanas grávidas cruzam fronteira para ter bebê no Brasil

A estimativa é de que três bebês venezuelanos nasçam em Boa Vista a cada dia

Nacho Doce
Boa Vista (RR) | Reuters

Venezuelanas grávidas estão deixando seu país devido à falta de cuidados pré-natais, remédios e fraldas e cruzando a fronteira com o Brasil para ter o bebê. A estimativa é de que três bebês venezuelanos nasçam no estado de Roraima a cada dia. 

"Meu bebê teria morrido se eu tivesse ficado. Não havia comida, remédios ou médicos", afirmou Maria Teresa Lopez enquanto alimentava a filha Fabiola, nascida na noite de segunda-feira (20) em uma maternidade em Boa Vista, Roraima. 

Lopez, 20, pegou carona por 800 km de sua casa no delta do rio Orinoco até a fronteira com o Brasil, há cinco meses. Ela é uma dos centenas de milhares de venezuelanos que estão fugindo da crise econômica, política e humanitária no país.

O fluxo de venezuelanos sobrecarregou os serviços públicos em Roraima, levando a um aumento do crime, da prostituição, de doenças e de incidentes de xenofobia.

"Chegamos a um limite. Há filas nos hospitais e não temos equipamentos para atender tanta gente que precisa de cuidados médicos", disse a prefeita de Boa Vista, Teresa Surita. Os cerca de 3.000 venezuelanos sem-teto nas ruas da cidade causaram um surto de sarampo, segundo ela.

Os nascimentos de bebês venezuelanos na maternidade de Boa Vista aumentou para 566 no ano passado e 571 apenas na primeira metade de 2018, contra um total de 288 em 2016, quando a chegada de venezuelanos começou a crescer, afirmou a secretaria de Saúde de Roraima. Não houve nascimentos em 2015.

A coordenadora de segurança da saúde de Roraima Daniela Souza afirmou que o estado tem apenas uma maternidade, que está atendendo no limite de sua capacidade. Os pacientes estão dormindo em macas nos corredores; seringas, luvas e outros suprimentos estão acabando, disse ela.

"Há 800 pessoas cruzando a fronteira todos os dias, e muitas mulheres e crianças precisam de atendimento médico", disse.

Segundo ela, o número de venezuelanos atendidos pelos centros médicos do estado cresceu de 700 em 2014 para 50 mil em 2017 e 45 mil apenas nos três primeiros meses deste ano. 

Procurado, o Ministério de Informação da Venezuela não comentou.

A governadora de Roraima, Suely Campos, pediu que o Supremo Tribunal Federal feche temporariamente a fronteira, dizendo que o estado não consegue lidar com o fluxo migratório. O Planalto, porém, descarta a medida.

Já Surita pede que o governo federal acelere o programa que pretende transferir venezuelanos da região  para outras partes do país, além de instituir a vacinação obrigatória na fronteira.

Carmen Jimenez, 33, que chegou de Ciudad Bolívar com oito meses de gravidez e deu à luz em Boa Vista, disse estar surpreendida com a quantidade de mães venezuelanas ali.

"Não vou voltar para a Venezuela até que haja comida e remédio e que as ruas estejam seguras novamente", disse ela, segurando Amalia, de quatro dias de vida.

Lopez disse ter sido bem recebida e que seu marido tem feito bicos de pintura e jardinagem. Ela, que é indígena da etnia Warao, do delta do Orinoco, diz que voltaria a seu país apenas para buscar sua filha mais velha, que ficou com a avó por ser muito pequena para a longa viagem até o Brasil.

"Não há nada para nós lá. Não fiz um ultrassom até que cheguei no Brasil, e foi gratuito. Quero ficar."

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