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A xenofobia avança na Suécia, mas não tanto

Aumentou o apoio a sigla de extrema direita, mas partido deve ficar de fora do governo

Clóvis Rossi
São Paulo

Não foi desta vez que a Suécia caiu na tendência contemporânea dos países europeus, nos quais, na média, 20% dos eleitores vêm preferindo partidos ditos populistas, em geral xenófobos.

Mas ficou bem perto: o Democratas da Suécia, partido de extrema direita, alcançou 17,7% dos votos, computados 85% dos sufrágios na votação deste domingo (9).

Cresceu cinco pontos percentuais em relação ao pleito de 2014, avanço insuficiente, no entanto, para que possa ser chamado a participar do governo. Também nesse ponto, a Suécia ficará fora de crescente tendência na Europa: no momento, partidos populistas estão representados em governos de nove países europeus e dão respaldo parlamentar a outros dois.

O líder dos Sweden Democratas da Suécia, Jimmie Akesson, durante a divulgação dos resultados
O líder dos Sweden Democratas da Suécia, Jimmie Akesson, durante a divulgação dos resultados - Ints Kalnins/Reuters

“Portanto, um terço dos governos europeus são constituídos por ou dependentes de partidos populistas”, constata Andreas Johansson Heinö, do Timbro, centro de pesquisas liberal da Suécia.

Continua Heinö: “Nunca antes os partidos populistas tiveram um respaldo tão forte em toda a Europa”.

Respaldo que se deve, em grande medida, à grande crise de refugiados de 2015 —só a Suécia teve que acolher 163 mil pessoas, número que se torna mais significativo quando se sabe que o país tem 10 milhões de habitantes.

“A Suécia sempre se imaginou como diferente, uma sociedade unida por seu jeito único de comunidade. Mas essa condescendência justificou um enfoque míope ao muito complexo problema de como integrar vasto número de estrangeiros”, escreveu Jochen Bittner, editor político do semanário alemão Die Zeit.

O relativo fracasso na integração só podia causar danos aos dois partidos que governaram nos quatro anos mais recentes, a social-democracia e os verdes. A social-democracia teve o pior resultado da história (28%, quando nunca havia caído abaixo dos 30% desde que foi adotado o sufrágio universal, em 1921).

Já os verdes passaram o dia de apurações angustiados ante a ameaça de que não alcançariam os 4% que é o mínimo necessário para dar acesso ao Parlamento. Ficaram com 4,4%, dois pontos a menos do que em 2014.

Caiu a votação também no outro partido tradicional, o conservador Moderados.

Se, com esses resultados, fica improvável que a extrema direita seja chamada a participar do governo ou a apoiá-lo mesmo sem fazer parte, também fica complicada a negociação para formar governo.

Afinal, “já não há somente dois grandes partidos, o social-democrata e o conservador. Há um terceiro partido, com pouco mais ou pouco menos de 20%, o que significa uma mudança drástica e terá impacto antes de tudo na formação do governo”, diz Ann-Cathrine Jungar, da Universidade Södertörn, de Estocolmo.

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