'Acreditei que ele fosse me estuprar', diz professora sobre juiz indicado por Trump

Christine Blasey Ford e Brett Kavanaugh prestam depoimento nesta quinta (27)

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Christine Blasey Ford presta depoimento diante de Comitê do Judiciário no Senado americano, em Washington - Saul Loeb/AFP
Washington

A professora Christine Blasey Ford, que acusa o juiz indicado para Suprema Corte Brett Kavanaugh de tê-la atacado sexualmente na década de 1980, afirmou nesta quinta (27) em audiência no Senado que pensou que ele fosse estuprá-la e que o incidente "alterou drasticamente" a sua vida.

A audiência começou por volta das 11h10 (horário de Brasília). Ao abrir a sessão, o senador Chuck Grassley, presidente do Comitê Judiciário da casa, voltou a defender que uma investigação das alegações por parte do FBI, pedido feito por Ford na última semana, não era necessário.

A senadora Dianne Feinstein, membro do comitê que recebeu uma carta de Ford relatando o incidente em julho, relembrou a audiência de Anita Hill em 1991, que acusava o hoje juiz Clarence Thomas de assédio sexual, e disse que a forma com que as mulheres que decidem contar as suas histórias são tratadas "precisa realmente de muita reforma."

"Enquanto as jovens mulheres estão se levantando e dizendo 'chega', nossas instituições não progrediram na forma com que tratam as mulheres que vêm a público", afirmou, acrescentando que a credibilidade e a lembrança delas são atacadas "com muita frequência".

Ford começou a falar por volta das 11h30. Com a voz embargada, disse que estava "aterrorizada", mas que era seu dever cívico informar o que aconteceu enquanto ela e o juiz estavam no ensino médio. "Nós não nos conhecíamos bem, mas eu fui a várias festas para as quais Brett também foi", afirmou.

Falou também que não se lembra de todos os detalhes do encontro onde o ataque teria ocorrido, mas que alguns detalhes ficaram em sua memória e a "assombraram episodicamente enquanto adulta". Também disse ter certeza de que Kavanaugh foi o autor do ataque.

O episódio teria ocorrido em um encontro de jovens na região de Chevy Chase e Bethesda, cidades vizinhas a Washington. Ela conta que foi empurrada para um quarto e que Kavanaugh e um amigo, Mark Judge, entraram e trancaram a porta. O primeiro teria a bolinado e tentado tirar as suas roupas, enquanto o outro assistia.

Questionada pelo senador democrata Patrick Leahy sobre o que mais a marcou durante o incidente, ela disse que as risadas de Kavanaugh e de Mark Judge, amigo do juiz que também estaria no quarto onde foi atacada.

"Os dois pareciam estar se divertindo", afirmou. "Algumas vezes eu fiz contato visual com Mark e pensei que ele poderia tentar me ajudar, mas ele não o fez."

Disse que acreditou que ele fosse a estuprar. "Eu tentei gritar por ajuda. Quando o fiz, Brett colocou a sua mão sobre a minha boca para me impedir", falou. "Não conseguia respirar. Achei que ele fosse me matar acidentalmente."

Decidiu levar a história a público depois de se sentir pressionada. Ela conta que repórteres apareceram em sua casa e no trabalho (uma jornalista se passou por sua aluna) e que colegas começaram a receber muitas ligações da imprensa.

As últimas semanas foram as mais difíceis de sua vida, segundo ela --a história veio à tona em 16 de setembro, por meio de uma reportagem do The Washington Post. "Não é a minha responsabilidade determinar se ele merece sentar na Suprema Corte. Minha responsabilidade é dizer a verdade."

Três mulheres já acusaram o juiz de algum tipo de delito sexual, o que tem levado a um atraso no processo de nomeação de Kavanaugh para a Suprema Corte, segundo nome indicado por Trump para o cargo. O primeiro foi Neil Gorsuch, conservador moderado.

Caso Kavanaugh seja aprovado, o equilíbrio da mais alta corte dos Estados Unidos será alterado. Ela passará a ter quatro progressistas e cinco conservadores.

Caso a nomeação seja rejeitada ou trocada, e os democratas consigam maioria em ao menos uma das casas do Congresso nas eleições legislativas de novembro, o processo pode se estender para até depois de 1 de janeiro, quando começa a nova legislatura, o que complicaria a vida de Trump. 

 
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