Alemanha debate monitorar sigla de direita nacionalista após confrontos

Dois estados vão passar a vigiar as ações da AfD por suspeita de ligação com grupo anti-islâmico

Berlim | Reuters

Os governos de dois estados alemães anunciaram nesta segunda-feira (3) que vão começar a monitorar a ala jovem do partido de direita nacionalista AfD (Alternativa para a Alemanha).

A decisão aconteceu em um momento em que cresce no país a pressão para que o governo federal comece a vigiar a sigla e sua ligação com o grupo anti-islâmico Pegida.  

Autoridades de Bremen começaram a monitorar o Junge Alternative (Alternativa Jovem) na semana passada, disse um porta-voz do serviço de inteligência local.

Já a vizinha Baixa Saxônia anunciou que vai passar a acompanhar o grupo a partir desta segunda. O ministro do Interior do estado, Boris Pistorius, disse que braço jovem local da AfD “sem dúvidas tem sinais de ligação estrutural com extremistas organizados”.

Cerca de 6.000 apoiadores dos dois grupos participaram no sábado (1º) na cidade de Chemnitz de um protesto contra a imigração após um homem ter sido morto em um assalto que as autoridades atribuíram a dois estrangeiros.

O crime já tinha causado manifestações que terminaram em conflito na cidade na semana passada, após a polícia anunciar que os suspeitos pela ação eram um sírio e um iraquiano.

O monitoramento é uma questão delicada na Alemanha devido aos abusos cometidos pela Gestapo durante o nazismo e pela Stasi na Alemanha Oriental durante a Guerra Fria.  

Uma pesquisa recente feita de Instituto Cívico Funke Mediengruppe e divulgada nesta segunda, porém, mostrou que 57% dos alemães apoiam que a AfD seja monitorada pelo governo.

A sigla tem atualmente 92 das 709 cadeiras do Parlamento e é o maior grupo de oposição, já que os dois principais partidos —a CDU (de centro direita, da chanceler Angela Merkel) e o SPD (social-democrata)— fazem parte da coalizão governista.

Um dos líderes da AfD, Joerg Meuthen, disse a apoiadores nesta segunda que não houve violência contra estrangeiros em Chemnitz e que não há razões para seu partido ser monitorado.

Ele disse que Merkel é responsável por espalhar notícias falsas e pediu sua renúncia.

Durante o auge da crise de refugiados na Europa, em 2016, a chanceler manteve uma política de braços abertos para os imigrantes. Para os críticos, essa decisão impulsionou a AfD, que tem discurso contra a imigração. A sigla conseguiu 13% dos votos nas últimas eleições, em 2017, e hoje conta com 16% de apoio, de acordo com pesquisa da RTL.

A líder do SPD, Andrea Nahles, defendeu o monitoramento da sigla nacionalista. “A AfD se permitiu se tornar uma organização de fachada para a extrema direita nas ruas de Chemnitz, voluntariamente ou não", disse ela.

Mas o ministro do Interior, Horst Seehofer, da CSU (sigla aliada da CDU que atua na Bavária) disse que ainda não há necessidade de monitorar a AfD como um todo, mas afirmou que o governo vai seguir analisando a situação.

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