Não há como refazer o que houve em 1991, mas há maneiras de fazer melhor.
Os fatos subjacentes à alegação de Christine Blasey Ford de que foi agredida sexualmente por Brett Kavanaugh, indicado para ocupar uma vaga na Suprema Corte, quando jovem continuarão a ser revelados conforme o processo de confirmação do juiz avançar.
Mas é impossível não ver os paralelos entre a audiência de confirmação de Kavanaugh em 2018 e a audiência de confirmação do juiz Clarence Thomas em 1991 [Anita Hill acusou Thomas, então indicado a Suprema Corte de assediá-la sexualmente no trabalho ao longo de dois anos].
Os resultados dessas investigações são mais confiáveis e menos propensos a ser considerados maculados por partidarismo. Os senadores devem contar com as conclusões dos investigadores, juntamente com conselhos de especialistas, para formular as perguntas a Kavanaugh e Blasey.
Novamente, o papel dos senadores como apuradores de fatos deve determinar seu comportamento. O relatório dos investigadores deve ditar a audiência, e não a política ou mitos sobre agressão sexual.
- Não apressem as audiências. Fazê-lo não apenas indicaria que acusações de agressão sexual não são importantes como muito provavelmente levaria a se desprezar fatos que devem ser analisados pelo Senado e o público.
Que a comissão pretenda realizar uma audiência na próxima segunda (24) é desanimador. Simplesmente uma semana de preparação não é tempo suficiente para uma investigação profunda de acusações muito sérias.
- Finalmente, tratem Christine Blasey Ford por seu nome. Ela já foi anônima, mas não o é mais. A doutora Blasey não é simplesmente “a acusadora do juiz Kavanaugh”. Blasey é um ser humano com vida própria. Ela merece o respeito de ser tratada e mencionada como uma pessoa íntegra.
- O processo é importante, mas não pode apagar a dificuldade de depor em rede nacional de TV sobre a agressão sexual que Christine Blasey diz ter ocorrido quando ela tinha 15 anos. Tampouco negará o fato de que enquanto estiver sentada diante da Comissão Judiciária do Senado, Blasey estará em desvantagem.
Incentivar cartas de amigos e desconhecidos poderá ajudar, mas isso não se equipara ao apoio organizado que tem o juiz Kavanaugh. Como Blasey e Kavanaugh têm a mesma obrigação de mostrar a verdade, esse desequilíbrio pode não parecer justo.
Mas, enquanto o juiz Kavanaugh se coloca para conquistar o privilégio vitalício de servir no mais alto tribunal do país, a ele cabe o ônus de convencer. Este é o justo.
Em 1991, a frase “eles simplesmente não entendem” tornou-se uma maneira popular de descrever a reação dos senadores à violência sexual.
Em retrospecto, pilhas de provas da prevalência e do mal que a violência sexual causa a indivíduos e a nossas instituições, assim como um Senado com mais mulheres do que nunca, “não entendem” não é uma opção para nossos congressistas. Em 2018, eles precisam entender direito.
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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