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Como serão os megaexercícios militares da Rússia, os maiores desde a Guerra Fria

Evento com 300 mil militares tem participação de China e Mongólia

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A Rússia deu início a seus maiores exercícios militares desde a Guerra Fria, mobilizando cerca de 300 mil militares no leste da Sibéria.

Batizados de Vostok-2018 (Vostok significa leste), eles contam com a participação da Mongólia e da China, que está enviando 3,2 mil militares, além de veículos e aeronaves.

Os últimos exercícios russos com escala similar foram em 1981, durante a Guerra Fria. Ainda assim, eles envolveram menos tropas do que Vostok-2018, que acontecerá de 11 a 17 de setembro.

Quais são as intenções da Rússia?

O presidente Vladimir Putin tem feito da modernização militar do país, incluindo a fabricação de novos mísseis nucleares, uma prioridade de seu governo.

Em uma declaração de apoio à política de investimentos na indústria bélica, o senador russo e oficial da reserva Frants Klintsevich declarou que "convinha para o Oeste que nossas unidades e quartéis não tivessem habilidades de combate e coordenação, mas os tempos mudaram; agora temos uma atitude diferente".

As Forças Armadas russas contariam com um milhão de pessoas no total.

Por que a China está envolvida?

Putin se encontrou recentemente com o líder chinês Xi Jinping na cidade Vladivostok, no leste do país, e disse que eles têm "um relacionamento de confiança na esfera de política, segurança e defesa".

O Ministério de Defesa da China citou como a cooperação militar entre os países se aprofundou, melhorando a habilidade dos dois de responder juntos a "várias ameaças de segurança", sem especificar quais.

Em anos recentes, Rússia e China vêm aprofundando a cooperação militar. Durante os exercícios, inclusive, eles usarão o mesmo quartel-general - um contraste com os anos de Guerra Fria, quando a União Soviética e a China eram rivais, disputando a liderança global comunista e com confrontos em sua fronteira oriental.

A Mongólia não deu detalhes de seu envolvimento.

O ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, diz que o extremismo islâmico na Ásia Central é a maior ameaça à segurança da Rússia.

Nesse sentido, a China tem acentuado suas ações de repressão para conter o que considera "extremismo religioso" em Xinjiang, no extremo oeste do país, habitado pela minoria muçulmana uigur.

Há anos a região é foco de tensão. A China culpa os militantes islâmicos e separatistas pela intensificação do conflito. Na última semana, a ONU acusou o país de manter cerca de um milhão de muçulmanos uigures presos de forma ilegal na província.

O que a Otan pensa dos exercícios?

Segundo o porta-voz da Otan, Dylan White, a organização foi informada da operação Vostok-2018 e irá monitorá-la.

Ele disse que "todas as nações têm o direito de exercitar suas Forças Armadas, mas é essencial que isso seja feito de forma transparente e previsível".

"Vostok demonstra o foco da Rússia em treinar conflitos de larga escala. Isso se encaixa no padrão que temos visto há algum tempo: uma Rússia mais assertiva, aumentando significativamente seu orçamento de defesa e sua presença militar."

Por que há tensão entre a Rússia e a Otan?

A tensão entre a Rússia e a Otan tem aumentado desde que a Rússia interveio na Ucrânia em 2014, apoiando rebeldes separatistas russos.

A Otan respondeu aumentando a presença de suas forças no leste europeu, enviando 4 mil tropas para os países bálticos.

A reação foi considerada provocativa e injustificada pela Rússia. Ela diz que a revolução ucraniana de 2013 e 2014 - uma resistência à ocupação russa na península da Crimeia - foi um golpe orquestrado pelo "Oeste", referindo-se aos países do Ocidente.

Em mais capítulo da relação cada vez mais conturbada entre as duas partes, diplomatas russos foram expulsos de países membros da Otan depois que o ex-espião russo Serguei Skripal e sua filha, Iulia, foram envenenados no sul da Inglaterra em março.

O Reino Unido culpou a inteligência militar russa pelo ataque. Moscou nega envolvimento.

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