Líder de Mianmar defende condenação de jornalistas

Para Aung San Suu Kyi, repórteres violaram lei de segredos oficiais

Cingapura | Bloomberg

A líder de Mianmar, Aung  San  Suu  Kyi, disse nesta quinta-feira (13) que os jornalistas Wa Lone e Kyaw Soe Oo foram presos porque violaram a Lei de Segredos Oficiais do país, e não por serem jornalistas.

Ao defender o Estado de Direito de Mianmar para a plateia de um evento do Fórum Econômico Mundial no Vietnã, Suu  Kyi disse que esse caso controverso “não teve nada a ver com liberdade de expressão” e questionou se os críticos internacionais do veredicto realmente haviam lido a decisão do tribunal.

A líder de Mianmar, Aung San Suu Kyi, chega para encontro com o presidente do Vietnã, Tran Dai Quang, em Hanói - Kham/AFP

“Se alguém acha que houve erro judicial, gostaria que apontasse”, disse Suu Kyi, em resposta a uma pergunta citando críticas do vice-presidente dos EUA, Mike Pence, ao julgamento.

“Acho que ninguém se importou em ler”, disse, acrescentando que os jornalistas, da agência de notícias Reuters, tinham “todo o direito de apelar”.

Pence disse nas redes sociais um dia depois do veredicto que estava “profundamente perturbado” com a decisão de prender os jornalistas “por fazerem seu trabalho de reportar as atrocidades cometidas contra o povo rohingya”, em referência às acusações de assassinatos em massa e limpeza étnica dos muçulmanos rohingya pelo Exército de Mianmar no estado de Rakhine. Mianmar rejeita as acusações.

Os repórteres foram presos em 12 de dezembro depois que a polícia os acusou de violar a lei de 1923 ao adquirirem “documentos secretos importantes” de dois policiais. Os dois se declararam inocentes, e a Reuters citou “evidências convincentes de armação policial” depois que um policial testemunhou que um oficial superior havia ordenado que se fizesse uma armadilha para os repórteres.

Apesar disso, um juiz de Mianmar condenou os dois jornalistas a sete anos de prisão em 3 de setembro, o que provocou protestos globais.

As críticas internacionais relacionadas ao caso prejudicaram a reputação de Mianmar, tornando mais difícil a situação das empresas que buscavam oportunidades no país depois que os EUA suspenderam amplas sanções a Mianmar após a transição para a democracia.

Suu Kyi, que foi prisioneira política antes de chegar ao poder, enfrenta críticas por não garantir a liberdade de imprensa, nem se esforçar para proteger os rohingya.

“Hoje é um dia triste para Mianmar, para os jornalistas Wa Lone e Kyaw Soe Oo, da Reuters, e para a imprensa em todas as partes”, disse o editor-chefe da organização de notícias, Stephen J. Adler, em comunicado, após o veredicto.

“Este é um grande passo para trás na transição de Mianmar à democracia, algo que não corresponde ao Estado de Direito ou à liberdade de expressão e que deve ser corrigido urgentemente pelo governo.”

Ao comentar a crise no estado de Rakhine, que segundo relatório da ONU do mês passado deveria resultar na investigação e no processamento de generais de Mianmar por genocídio, Suu Kyi disse que a situação poderia ter sido mais bem conduzida.

“Olhando para trás, há situações que claramente poderiam ter sido mais bem conduzidas”, disse Suu Kyi. “Mas acreditamos que para ter segurança e estabilidade a longo prazo, temos de ser justos com todos os lados.”

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