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Movimento de esquerda e anti-imigração é lançado na Alemanha

Iniciativa suprapartidária quer conquistar eleitores que discordam de abertura a imigrantes

Berlim | RFI

Um novo movimento de esquerda está sendo apresentado nesta terça-feira (4) em Berlim. O  Aufstehen  ("levantar", em alemão) é uma iniciativa controversa criada como resposta à ascensão do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que se tornou rapidamente a maior força de oposição no Parlamento, atraindo cada vez mais eleitores com seu discurso anti-imigrantes.

 
Os fundadores do Aufstehen Oskar Lafontaine, que saiu do partido Social Democrata em 2005, e Sahra Wagenknecht, líder da bancada parlamentar do partido A Esquerda
Os fundadores do Aufstehen Oskar Lafontaine, que saiu do partido Social Democrata em 2005, e Sahra Wagenknecht, líder da bancada parlamentar do partido A Esquerda - Fabrizio Bensch/Reuters

O Aufstehen se diz suprapartidário e não tem, por isso, um programa de partido. É fundado por duas das mais importantes figuras do partido de oposição A Esquerda: Sahra Wagenknecht, líder da bancada parlamentar desse partido, e Oscar Lafontaine, que deixou o Partido Social-Democrata (SPD) em 2005, por discordar das reformas neoliberais do então chanceler Gerhard Schröder. Lafontaine também é um dos fundadores do A Esquerda e marido de Sahra Wagenknecht.

O movimento Aufstehen se inspira em outros movimentos estrangeiros, como o Podemos, da Espanha, e o francês A França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon. Mas, curiosamente, difere desses partidos por ter um discurso anti-imigração. Sua meta principal é conquistar os eleitores que nos últimos tempos votaram na extrema-direita por discordarem da política de portas abertas para refugiados da chanceler Angela Merkel.

A iniciativa é uma reação à sangria que A Esquerda tem sofrido para o partido de extrema-direita AfD. Esse partido anti-imigrantes e ultranacionalista não tem atraído somente o eleitor conservador, de direita, mas também os cidadãos das classes mais baixas e do leste alemão, que votavam no A Esquerda como forma de protestar contra o governo e não são movidos por ideologia de esquerda ou direita.

Pelo menos 400 mil eleitores do A Esquerda migraram para o AfD nas últimas eleições parlamentares alemãs, fazendo com que os ultranacionalistas superassem A Esquerda em quase todos os tradicionais bastiões do partido no leste da Alemanha.

Embora se defina como um movimento de esquerda, o Aufstehen tem sido criticado por alguns dos principais nomes da esquerda e centro-esquerda alemãs. As lideranças do Partido Verde e do SPD não veem a iniciativa com bons olhos. Alguns acreditam que o novo movimento poderá provocar um racha na esquerda alemã, em vez de uni-la.

O secretário-geral do SPD chegou a afirmar que o movimento nada mais é do que “uma luta de poder dentro do A Esquerda”. A própria liderança do A Esquerda não vê com bons olhos o movimento, criado por duas de duas principais figuras. Alguns dizem que a iniciativa é uma tentativa de abrir uma dissidência dentro da legenda.

Quatro semanas depois de o movimento abrir sua página na internet, o número de apoiadores do Aufstehen teria chegado a 100 mil, segundo o próprio movimento. Entre os integrantes, estariam membros de outros partidos mais de esquerda e centro-esquerda da paisagem política alemã, como o SPD e o Partido Verde, além de membros do próprio A Esquerda.

A fundadora do Aufstehen, Sahra Wagenknecht, é uma das políticas mais proeminentes do A Esquerda. É líder do partido no parlamento e convidada frequente dos principais talk shows alemães. Entretanto, Wagenknecht tem uma história de rusgas com o partido. Isso ficou claro no último congresso da sigla, em junho, em que ela bateu de frente com as lideranças partidárias por defender uma política mais dura contra imigrantes. Sua posição contra fronteiras abertas e concessão de aceso ilimitado de imigrantes ao mercado de trabalho alemão difere da linha da legenda.

O Aufstehen une um discurso populista, contra imigrantes, a tradicionais bandeiras da esquerda mais radical, a favor da ampliação do Estado social e do pacifismo, se opondo à atuação da Alemanha em missões militares no exterior. 

Sahra Wagenknecht afirma que a Alemanha deve dar refúgio a pessoas perseguidas em seus países ou a refugiados de guerra, mas precisa controlar a entrada dos chamados imigrantes econômicos, ou seja, os que chegam a Europa buscando emprego, fugindo das condições econômicas de seus países.

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