Descrição de chapéu Venezuela

Secretário-geral da OEA diz que avalia até intervenção militar para tirar Maduro do poder na Venezuela

Luiz Almagro afirma que crise migratória é responsabilidade do governo de Caracas

O secretário-geral da OEA, o uruguaio Luis Almagro, conversa com o bispo Victor Manuel Ochoa, durante visita a Cúcuta, na Colômbia
O secretário-geral da OEA, o uruguaio Luis Almagro, conversa com o bispo Victor Manuel Ochoa, durante visita a Cúcuta, na Colômbia - Schneyder Mendoza/AFP
Cúcuta (Colômbia) | AFP

O secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), Luis Almagro, afirmou que não deve ser descartada uma "intervenção militar" na Venezuela para "derrubar" o governo de Nicolas Maduro.

A declaração do uruguaio ocorreu na Colômbia, no momento em que tratava da migração em massa de venezuelanos. De acordo com Almagro, o governo venezuelano tem cometido "violação dos direitos humanos" e "crimes contra a humanidade".

"Nesse caso é miséria, é fome, é a falta de remédios, que são como instrumentos repressivos para impor uma vontade política ao povo, isso é inadmissível", afirmou.

"O sofrimento do povo, no êxodo induzido que está sendo conduzido [pelo governo venezuelano], coloca as ações diplomáticas em primeiro lugar, mas não devemos descartar nenhuma ação. Quanto à intervenção militar para derrubar o regime de Nicolas Maduro, eu acho que não devemos descartar nenhuma opção."

O secretário-geral da OEA, Luis Almagro, durante visita a Cúcuta, na Colômbia
O secretário-geral da OEA, Luis Almagro, durante visita a Cúcuta, na Colômbia - Carlos Eduardo Ramirez/Reuters

A vice-presidente venezuelana, Delcy Rodríguez, respondeu que Caracas denunciará Almagro, ante as Nações Unidas "por promover intervenção militar" na Venezuela.

"Almagro pretende ressuscitar os piores casos de intervenção militar imperialista em nossa região, cuja estabilidade está seriamente ameaçada pelo comportamento insano da pessoa que se desvia e abusa da secretaria-geral da OEA", assinalou Rodríguez.

Em nota, o Grupo de Lima - composto por Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, Guatemala, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lúcia - rechaçou a defesa de intervenção militar feita por Almagro, sem citar nominalmente o secretário-geral da OEA. "(Os países) expressam sua preocupação e seu rechaço a qualquer curso de ação ou declaração que implique uma intervenção militar ou o exercício da violência, a ameaça ou o uso da força na Venezuela", dizia nota enviada pelo Itamaraty no início da noite de sábado (15).

Não foi a primeira vez que Almagro, que foi ministro das Relações Exteriores do Uruguai 2011 a 2015 –neste último ano, assumiu a OEA–, critica o governo de Maduro.

E, apesar de falar em uso militar, a organização fundada em 1948 não dispõe de tropas  –suas ações estão voltadas ao campo da diplomacia, com uma estrutura que inclui, como apresenta em seu site, "diálogo político, inclusividade, cooperação, instrumentos jurídicos e mecanismos de acompanhamento". 

Qualquer decisão da entidade, além disso, precisaria ser tomada de forma colegiada, com a anuência dos membros —entre eles Caracas e seus aliados.

As declarações da Almagro, dadas em Cúcuta, cidade na fronteira com a Venezuela, após uma reunião com o presidente da Colômbia, Iván Duque, soaram mais como uma resposta ao governo de Nicolás Maduro.

Nesta semana, a Venezuela rejeitou ofertas de ajuda de outros países e informou que a atual crise humanitária pela qual o país passa faz parte de uma "campanha mundial de difamação" para derrubar o ditador.

Maduro disse ainda que iria pedir uma indenização a Bogotá devido ao número de imigrantes colombianos que vivem na Venezuela. As declarações fizeram parte da primeira manifestação pública do ditador venezuelano após o jornal americano The New York Times ter revelado um encontro entre militares rebeldes do regime e representantes de Washington, o que segundo ele comprova que países estrangeiros trabalham contra seu governo, em especial os Estados Unidos.

Relatório

Na visita de três dias à Colômbia, Almagro liderou um grupo da OEA que preparará um relatório que abordará ações de cooperação para as nações envolvidas na questão dos migrantes. Participam do grupo os coordenadores  David Smolansky e Betilde Muñoz e José Miguel Vivanco, diretor-executivo da ONG Human Rights Watch para as Américas.

"Nunca vimos um governo tão imoral no mundo, que não admite ajuda humanitária quando está no meio de uma crise humanitária (...) A ajuda humanitária precisa chegar à Venezuela", afirmou Almagro.

Para ele, a comunidade internacional não pode "permitir uma ditadura na Venezuela", que, além de afetar sua população, causa instabilidade regional em termos humanitários e de segurança.

O povo venezuelano "pagou um alto preço para recuperar sua liberdade, recuperar sua democracia e ainda não a recuperou, a comunidade internacional definitivamente tem que responder a isso", disse ele.

O presidente colombiano defendeu o fortalecimento da pressão diplomática contra Caracas e pediu que "vários chefes de Estado" apoiem ​​a queixa da OEA ao Tribunal Penal Internacional contra o governo de Maduro.

"Continuaremos a bater nas portas do mundo inteiro para criar condições que permitam à Colômbia enfrentar essa crise migratória", disse o ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Carlos Holmes Trujillo, que acompanhou Almagro em sua jornada.

Apesar a OEA e Colômbia terem pedido ajuda internacional na crise migratória, especialistas avaliam que a declaração de Almagro apenas corrobora para que o governo de Caracas se diga vítima de uma tentativa de golpe.

"Uma das características das organizações intergovernamentais é precisamente para evitar conflitos surgidos entre estados (...) para os países encontrarem através de espaços de diálogo para resolver diferentes problemas", afirma Ronal Rodríguez, professor da Universidade de Rosário, de Bogotá.

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