Parlamento espanhol aprova decreto para exumar Franco de seu mausoléu

Objetivo do governo socialista é remover os restos do Vale dos Caídos até o final do ano

Madri | AFP

A câmara baixa do Parlamento espanhol aprovou nesta quinta-feira (13) um decreto do governo para exumar os restos mortais do ditador Francisco Franco do mausoléu onde ele está enterrado, perto de Madri.

O decreto foi aprovado por 172 votos a favor, 164 abstenções e dois votos contra. 

O objetivo do governo socialista é remover os restos do Vale dos Caídos até o final do ano.

O Vale dos Caídos, em San Lorenzo del Escorial, próximo a Madri - Oscar del Pozo - 3.jul.19/AFP

Esta é uma decisão que provoca divergências políticas no país, que tem dificuldades para lidar com questões do passado.

Para concretizar a medida, que tem a oposição da família do ditador e da oposição conservadora, o governo do primeiro-ministro Pedro Sánchez optou por apresentar um decreto-lei.

Após a exumação, a solução lógica será enviar os restos mortais para o túmulo que a família Franco tem no cemitério El Pardo, na região de Madri.

Desde 23 de novembro de 1975, três dias depois de sua morte, o corpo do general Franco está no Vale dos Caídos. 

O local, um impressionante complexo a 50 km de Madri, tem uma basílica com uma cruz de 150 metros de altura.

O militar, que governou o país de 1939 a 1975 está enterrado no altar da basílica sob uma laje sempre coberta por flores frescas, assim como o fundador do partido fascista Falange, José Antonio Primo de Rivera.

No mesmo complexo foram sepultados quase 27 mil combatentes franquistas e 10 mil opositores republicanos, motivo pelo qual o ditador apresentou o vale como um local de "reconciliação".

Os críticos, no entanto, o consideram um insulto às vítimas da repressão franquista, porque os corpos dos republicanos, retirados de cemitérios e valas comuns, foram levados até o local sem o consentimento de suas famílias. Além disso, o conjunto monumental foi construído por quase 20 mil presos políticos, entre 1940 e 1959.

Pedro Sánchez defendeu a iniciativa poucos dias depois de chegar ao poder, alegando que um lugar como Vale dos Caídos seria inimaginável em países como Alemanha ou Itália.

Os socialistas afirmam que desejam transformar o vale em um verdadeiro local de reconciliação e memória, sem apresentar detalhes sobre como pretendem modificar um conjunto monumental de forte caráter católico e idealizado pelo próprio Franco.

O governo insiste que a exumação foi objeto de uma proposta aprovada no Parlamento em maio de 2017 sem votos contrários, quando o Executivo era comandado pelo conservador Partido Popular, agora na oposição.

Mas em um país onde a memória sobre a guerra e a ditadura continua sendo um tema delicado, todos os projetos esbarraram na oposição da família do ditador, da Fundação Francisco Franco, que reivindica sua memória, e sobretudo com a do PP, que insiste na necessidade de não reabrir "antigas feridas".

Os conservadores devem recorrer ao Tribunal Constitucional contra a exumação, pois consideram abusivo o uso de um decreto-lei para um tema que não é urgente.

"Os socialistas estão mais interessados em abrir as trincheiras fechadas e as cicatrizes já cicatrizadas de nosso pior passado, ao invés de concentrar-se em nosso melhor presente", afirmou Pablo Casado, líder do PP no mês passado

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