A câmara baixa do Parlamento espanhol aprovou nesta quinta-feira (13) um decreto do governo para exumar os restos mortais do ditador Francisco Franco do mausoléu onde ele está enterrado, perto de Madri.
O decreto foi aprovado por 172 votos a favor, 164 abstenções e dois votos contra.
O objetivo do governo socialista é remover os restos do Vale dos Caídos até o final do ano.
Esta é uma decisão que provoca divergências políticas no país, que tem dificuldades para lidar com questões do passado.
Para concretizar a medida, que tem a oposição da família do ditador e da oposição conservadora, o governo do primeiro-ministro Pedro Sánchez optou por apresentar um decreto-lei.
Após a exumação, a solução lógica será enviar os restos mortais para o túmulo que a família Franco tem no cemitério El Pardo, na região de Madri.
Desde 23 de novembro de 1975, três dias depois de sua morte, o corpo do general Franco está no Vale dos Caídos.
O local, um impressionante complexo a 50 km de Madri, tem uma basílica com uma cruz de 150 metros de altura.
O militar, que governou o país de 1939 a 1975 está enterrado no altar da basílica sob uma laje sempre coberta por flores frescas, assim como o fundador do partido fascista Falange, José Antonio Primo de Rivera.
No mesmo complexo foram sepultados quase 27 mil combatentes franquistas e 10 mil opositores republicanos, motivo pelo qual o ditador apresentou o vale como um local de "reconciliação".
Os críticos, no entanto, o consideram um insulto às vítimas da repressão franquista, porque os corpos dos republicanos, retirados de cemitérios e valas comuns, foram levados até o local sem o consentimento de suas famílias. Além disso, o conjunto monumental foi construído por quase 20 mil presos políticos, entre 1940 e 1959.
Pedro Sánchez defendeu a iniciativa poucos dias depois de chegar ao poder, alegando que um lugar como Vale dos Caídos seria inimaginável em países como Alemanha ou Itália.
Os socialistas afirmam que desejam transformar o vale em um verdadeiro local de reconciliação e memória, sem apresentar detalhes sobre como pretendem modificar um conjunto monumental de forte caráter católico e idealizado pelo próprio Franco.
O governo insiste que a exumação foi objeto de uma proposta aprovada no Parlamento em maio de 2017 sem votos contrários, quando o Executivo era comandado pelo conservador Partido Popular, agora na oposição.
Mas em um país onde a memória sobre a guerra e a ditadura continua sendo um tema delicado, todos os projetos esbarraram na oposição da família do ditador, da Fundação Francisco Franco, que reivindica sua memória, e sobretudo com a do PP, que insiste na necessidade de não reabrir "antigas feridas".
Os conservadores devem recorrer ao Tribunal Constitucional contra a exumação, pois consideram abusivo o uso de um decreto-lei para um tema que não é urgente.
"Os socialistas estão mais interessados em abrir as trincheiras fechadas e as cicatrizes já cicatrizadas de nosso pior passado, ao invés de concentrar-se em nosso melhor presente", afirmou Pablo Casado, líder do PP no mês passado
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