PF prende em Foz do Iguaçu homem acusado de financiar o Hizbullah

Governo americano diz que Assad Ahmad Barakat atuava como tesoureiro da facção libanesa

Curitiba | Reuters

A Polícia Federal brasileira prendeu nesta sexta-feira (21) um homem que o governo americano acusa de ser um dos principais financiadores do grupo islâmico libanês Hizbullah, considerado uma entidade terrorista por Washington, por Israel e pela União Europeia.

O comerciante Assad Ahmad Barakat, 51, foi detido em Foz do Iguaçu, no Paraná, após autorização do Supremo Tribunal Federal.

A prisão foi decretada pela justiça paraguaia, pelo crime de falsidade ideológica.

Em 2004, autoridades americanas afirmaram que Barakat era um dos “mais proeminentes e influentes membros” do Hizbullah e teria atuado como tesoureiro do grupo —o que ele sempre negou.

“É um financiador chave do terrorismo, que cometeu todos os crimes financeiros de que se tem notícia, inclusive por meio do seu próprio negócio, para financiar o Hizbullah”, afirmou na época Juan Zarate, secretário-assistente do Tesouro dos EUA.

Segundo o governo americano, Barakat usava suas empresas de importação e exportação de eletrônicos na Tríplice Fronteira para enviar dinheiro ao Hizbullah no Líbano e na Síria.

Comerciantes da região ainda teriam sido extorquidos por ele para contribuir com o grupo terrorista, sob pena de verem seus familiares incluídos numa “lista negra” do Hizbullah no Líbano, segundo Zarate.

Preso e investigado pela Justiça paraguaia em 2002, Barakat foi condenado por sonegação fiscal e associação criminosa, mas sua suposta conexão com o terrorismo não foi comprovada.

O Ministério Público do Paraguai informou, na época, ter encontrado pôsteres do Hizbullah em sua loja, além de vídeos que mostravam marchas militares e atentados com bombas em várias partes do mundo —o que equivaleria a uma espécie de “curso de formação de homens-bomba”, segundo os procuradores.

“É evidente o caráter terrorista dos documentos. Barakat e seus comparsas agiam no recrutamento e utilizavam esses discursos como propaganda”, afirmou, na época, o procurador paraguaio Carlos Advin Calcena.

Documentos apreendidos no local também indicavam remessas de US$ 500 mil em dinheiro para o Líbano, Nova York, Chile e Canadá. Barakat afirmou que eram pagamentos a fornecedores.

Cinco anos atrás, a Polícia Federal brasileira chegou a levantar informações sobre membros de sua família por suspeita de terrorismo, mas acabou não abrindo inquérito por “falta de elementos”.

O Itamaraty sempre negou a existência de células terroristas na Tríplice Fronteira. Ao governo americano, ressaltou o risco de se “satanizar” a região, “acusando-a, sem indícios, de ser uma área de terrorismo”, conforme telegramas revelados pela Folha.

O governo também reagiu, em 2006, às sanções anunciadas pelo Tesouro dos EUA a empresas brasileiras, de propriedade de Barakat e de outros suspeitos de financiarem o Hizbullah, afirmando que não havia “quaisquer novos dados ou evidências” que corroborassem as acusações norte-americanas.

O atual mandado de prisão contra Barakat foi emitido pela Justiça do Paraguai em 31 de agosto. Ele é acusado de apresentar declaração de nacionalidade incorreta quando tentou renovar seu passaporte no país, em abril deste ano, omitindo que havia perdido sua cidadania.

O governo argentino também acusa Barakat e sua família de comandarem uma rede de lavagem de dinheiro na região da Tríplice Fronteira, que teria movimentado ao menos US$ 10 milhões (cerca de R$ 40 milhões) em cassinos da cidade de Puerto Iguazu.

O libanês já havia sido preso no Brasil em 2002 e extraditado para o Paraguai no ano seguinte, quando foi condenado pela Justiça.

Ficou na prisão até 2008, quando foi solto e decidiu retornar ao Brasil, mantendo negócios no Paraguai, na Argentina e no Chile, segundo a PF.

Barakat foi detido preventivamente nesta sexta e deve ser deportado para o Paraguai, a pedido da Justiça daquele país.

A Folha entrou em contato com a defesa do libanês, mas os advogados ainda não tinham informações sobre o novo mandado de prisão.

Barakat sempre negou associação com o terrorismo, embora admitisse ser um simpatizante do Hizbullah, que também tem representação política no Líbano.

Em entrevista à Folha em 2002, ele disse que havia “uma grande ignorância no Ocidente” sobre o grupo, e atribuiu sua prisão a uma “vingança comercial” contra si.

Com Reuters

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