Rebaixado, ex-ministro argentino defende reforma de Macri

Presidente corta ministérios de 21 para 10 em meio a desvalorização do peso e inflação em alta

Sylvia Colombo
Buenos Aires

Um dos ministros que passou a ser secretário na reforma de gabinete realizada pelo presidente argentino, Mauricio Macri, no último fim de semana, Pablo Avelluto crê que sua pasta, a de Cultura, não será muito atingida.

O então ministro da Cultura argentino, Pablo Avelluto, durante evento na Escola Nacional de Circo, no Rio, em março
O então ministro da Cultura argentino, Pablo Avelluto, durante evento na Escola Nacional de Circo, no Rio, em março - Tomaz Silva - 9.mar.18/Agência Brasil

Ela foi integrada às de Ciência e Tecnologia e de Educação, mas por ora não estão previstos cortes do orçamento de cada uma.

“Nem mesmo os salários dos ex-ministros vai diminuir. A ideia dessa reforma era mais a de tornar a administração mais ágil, sem tantas intermediações”, afirmou à Folha.

Atingida por uma crise financeira, a Argentina anunciou duas medidas no começo da semana, para reequilibrar suas contas e devolver estabilidade ao governo.

Uma delas foi aumentar a taxa às exportações. A outra, cortar os ministérios de 21 para 10. Os que deixaram de ter essa categoria transformaram-se em secretarias subordinadas a outros ministros.

O objetivo principal, porém, foi político. Mais do que cortar gastos, Macri buscou aliviar a tensão produzida por conta da pressão que o mercado e que alguns membros do governo estavam fazendo pela saída dos dois ex-vice-chefes de gabinete, Mario Quintana e Gustavo Lopetegui.

“Ambos introduziram algo que eu achava saudável, mas alguns colegas não, que era uma mentalidade empresarial da gestão, que chocava com antigas formas de fazer política", disse Avelluto.

Lopetegui e Quintana eram os responsáveis por levar adiante reuniões constantes de acompanhamento de cada pasta, estabelecer metas, cobrar, e reportavam os resultados ao presidente Macri.

A fricção maior passou a ser com a equipe econômica, que começou a achar que as decisões, com ambos no meio, demoravam muito tempo para serem tomadas.

“Com um gabinete menor, em tempos de crise, é mais fácil obter respostas, aprovação, creio que alguns colegas queriam isso, além do fato de que os nomes de ambos acabaram se desgastando com o tempo”, afirma.

Avelluto também é um dos “roteiristas” de Macri, ajuda a escrever discursos e opina na área de comunicação. Para ele, a mensagem que o presidente transmitiu na segunda-feira (3) pela manhã, quando anunciou as medidas após um tenso fim de semana de reuniões com o gabinete, na Residência de Olivos, foi eficiente.

Macri apareceu arfante, com ar de abatido e fazendo longas pausas. “A ideia principal dessa aparição, que era mais conceitual que as outras, era mostrar que ele sentia o que a população está sentindo, a incerteza e a angústia que esses aumentos do dólar e da inflação estão causando.”

Para isso, o próprio Macri decidiu incluir uma menção à sua vida pessoal, em que afirmava que estes últimos cinco meses haviam sido os “piores” de sua vida “desde o sequestro” (o atual presidente foi sequestrado nos anos 1990 e ficou 12 dias em cativeiro enquanto se negociava o resgate).

“Um dos problemas que são gerados durante o exercício de uma Presidência é que se corre o risco de as pessoas acharem que o presidente não está sensível ao que sente a população. Com essa mensagem, nesse tom, a ideia foi mostrar que ele está a par”, conta Avelluto.

O texto, nesse caso, passou por toda a equipe de comunicação e pelo próprio Macri, que fez questão de incluir a lembrança do sequestro e algumas frases de efeito, como a referência aos professores universitários, que vêm fazendo greves e protestos por salários.

“Alguém imagina que não quero aumentar o salário dos professores? Que eu acho que eles não merecem?”, disse o presidente.

Avelluto crê que o mau momento irá passar, e que espera que a parte política dessa superação ocorra logo, fazendo referência às negociações com os governadores das Províncias, para que cortem gastos, e com o Congresso, para que aprove o orçamento do ano que vem.

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