Secretário-assistente da Justiça dos EUA sugeriu gravar Trump secretamente

Rod Rosenstein discutiu tentar apoio para invocar a 25ª Emenda, que permite declarar o presidente inapto

Adam Goldman Michael S. J. Schmidt
Washington | The New York Times

Rod Rosenstein, secretário-assistente da Justiça dos Estados Unidos, sugeriu no ano passado gravar secretamente uma conversa com o presidente Donald Trump na Casa Branca, para expor o caos que consumia o governo, e discutiu recrutar membros do gabinete a fim de invocar a 25ª Emenda à constituição americana, que permitiria declarar o presidente inapto e removê-lo do posto.

Rosenstein fez essas sugestões no segundo trimestre de 2017, quando Trump demitiu James Comey, então diretor do FBI, causando tumulto na Casa Branca. Nos dias que se seguiram, o presidente transmitiu informações confidenciais aos russos no Gabinete Oval e surgiram informações de que Trump havia pedido a Comey que ele lhe jurasse lealdade e pusesse fim a uma investigação sobre um assessor importante do presidente.

Rosenstein estava no posto há apenas duas semanas. Ele começou seu trabalho supervisionando a investigação sobre a Rússia, e desempenhou papel-chave na demissão de Comey pelo presidente, ao redigir um memorando que criticava o papel do diretor do FBI na investigação dos emails de Hillary Clinton. Mas Rosenstein foi apanhado de surpresa quando Trump citou o memorando ao demitir Comey, e começou a dizer a algumas pessoas que temia ter sido usado.

Rosenstein falou sobre gravar Trump clandestinamente e sobre a 25ª Emenda, que prevê que o vice-presidente e o gabinete possam pedir destituição do presidente pelo Congresso, se o considerarem "incapaz de desempenhar os poderes e deveres do cargo", em reuniões e conversas com outros funcionários do Departamento da Justiça e representantes do FBI. Diversas pessoas descreveram os episódios, insistindo em que seus nomes não fossem mencionados por estarem falando de deliberações internas.

As pessoas estavam informadas ou por terem tomado parte dos acontecimentos ou por terem lido memorandos de dirigentes do FBI, entre os quais Andrew McCabe, então diretor interino da agência, que documentavam as ações e comentários de Rosenstein.

Aparentemente, nenhuma das propostas de Rosenstein foi colocada em prática.

"A reportagem do The New York Times é inexata e factualmente incorreta", afirmou Rosenstein em comunicado. "Não farei outros comentários sobre uma reportagem baseada em fontes anônimas e claramente hostis ao departamento e que estão promovendo agendas pessoais. Mas permita-me ser claro quanto a uma coisa: com base em meus contatos pessoais com o presidente, não vejo base para invocar a 25ª emenda".

Uma porta-voz do Departamento da Justiça também divulgou um comunicado de uma pessoa que estava presente quando Rosenstein propôs usar uma escuta clandestina para gravar o presidente. A pessoa, que não quis que seu nome fosse revelado, reconheceu que a ideia de usar uma escuta foi mencionada, mas que Rosenstein o fez sarcasticamente.

No entanto, de acordo com outras pessoas que descreveram seus comentários, Rosenstein não só confirmou que estava falando sério sobre a ideia como levou o assunto adiante ao sugerir que outros funcionários do FBI que estavam sendo entrevistados para o posto de diretor da agência também poderiam gravar Trump secretamente.

McCabe, que foi demitido do FBI posteriormente, não quis comentar.

 

Tradução de Paulo Migliacci

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