Vaticano e China chegam a acordo inédito sobre nomeação de bispos

Igreja aceitou sete bispos que haviam sido nomeados pelos chineses sem o consentimento do papa

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Fiel chinês é batizado durante uma missa na Catedral da Imaculada Conceição, uma igreja católica sancionada pelo governo em Pequim - Mark Schiefelbein/Associated Press
Pequim | AFP, Associated Press e The New York Times

O Vaticano e a China anunciaram neste sábado (22) um acordo provisório para resolver a questão da indicação de bispos, que vem atrapalhando as relações diplomáticas há décadas e que causou uma divisão entre os católicos chineses.

O acordo dá fim a uma das maiores discussões entre Pequim e a Igreja nos últimos anos, com a aceitação pelo Vaticano de sete bispos que haviam sido nomeados pelos chineses sem o consentimento do papa.

Já a China reconheceu pela primeira vez a autoridade do papa como líder da Igreja Católica.

A China, uma ditadura de partido único, e o Vaticano não têm relações diplomáticas há quase sete décadas. Pequim insiste em ter o poder de aprovar a escolha de bispos, decisão que a igreja vê como de absoluta autoridade do papa.

Com a questão dos sete bispos agora resolvida, o Vaticano diz que todos os bispos da China estão em comunhão com Roma. A comunidade católica na China, porém, segue dividida entre os que pertencem à religião católica oficial chinesa e aqueles que seguem a igreja subterrânea que havia continuado leal ao papa.

"O papa Francisco acredita que, com essas decisões, um novo processo pode começar, que permitirá que as feridas do passado sejam superadas, levando à total comunhão de todos os católicos chineses", disse o Vaticano em comunicado.

Críticos dizem que o acordo faz com que a igreja divida poder com um governo autoritário e abre um precedente perigoso nas futuras relações do Vaticano com outros países.

O acordo também foi criticado alguns católicos chineses, como o cardeal de Hong Kong, Joseph Zen, que disse antes de o acordo ser anunciado que ele era uma afronta aos católicos que pagaram o preço para continuarem seguindo Roma durante anos de perseguição pelo regime.

Francisco está sob pressão de grupos conservadores dentro da igreja, que vem usando a forma como ele vem lidando com denúncias de abuso sexual por religiosos para atacar seu papado. O acordo com a China, que não é bem visto por essas correntes, deve aumentar o descontentamento.

O papa vem falando há anos sobre seu desejo de visitar a China, onde o catolicismo vem perdendo terreno em face da perseguição a religiões não oficiais pelo governo de Xi Jinping. Os protestantes vêm ganhando espaço no país asiático, enquanto o número de católicos é hoje de cerca de 10 milhões a 12 milhões.

Taiwan

O Vaticano e a China romperam relações em 1951, dois anos depois da chegada dos comunistas ao poder e após o reconhecimento de Taiwan por parte da Santa Sé.

Após o anúncio do acordo sobre as nomeações, Taiwan disse neste sábado que ele não fará Taipé perder seu único aliado diplomático na Europa.

O Ministério taiwanês das Relações Exteriores disse esperar que o novo acordo abra caminho para as liberdades religiosas na China, mas também manifestou sua expectativa de que a Santa Sé se assegure de que os católicos do continente "receberão a devida proteção e não estarão sujeitos à repressão".

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