'Apenas quero matar judeus', disse acusado por ataque em sinagoga de Pittsburgh

Robert Bowers tinha posse legal de armas; casal, irmãos e mulher de 97 anos estão entre as 11 vítimas

Mulher coloca flores em homenagem a vítimas de ataque armado contra sinagoga em Pittsburgh, nos EUA - Brendan Smialowski /AFP
Pittsburgh | Associated Press, Reuters e AFP

O suspeito pelo ataque a tiros contra uma sinagoga em Pittsburgh, no estado americano da Pensilvânia, expressou ódio a judeus durante o ataque e os acusou de cometer genocídio contra brancos americanos, afirmam documentos judiciais divulgados neste domingo (28).

Robert Gregory Bowers, 46, matou 8 homens e 3 mulheres na sinagoga Tree of Life durante uma cerimônia religiosa até que uma equipe da polícia tática o localizou e o feriu. 

“Apenas quero matar judeus”, afirmou Bowers a um dos agentes, segundo um dos documentos. 

Neste domingo, autoridades divulgaram os nomes das 11 vítimas, todas de meia idade ou idosas. Entre elas estão dois irmãos, Cecil, 59, e David Rosenthal, 54, e o casal Bernice, 84, e Sylvan Simon, 86. A vítima mais velha foi Rose Mallinger, de 97 anos.

Entre mortos também estão Joyce Fienberg (75), Richard Gottfried (65), Jerry Rabinowitz (66), Daniel Stein (71), Melvin Wax (88) e Irving Younger (69).

Foi “o dia mais sombrio na história de Pittburgh”, afirmou o prefeito Bill Peduto. 

Bowers disparou diversas vezes contra dois dos primeiros agentes a responderem o chamado de emergência. Outro agente foi ferido por estilhaços de balas e de vidro, ainda de acordo com os documentos.

Segundo autoridades, o atirador levava um fuzil AR-15 e três revólveres. Enquanto era tratado por ferimentos, ele disse que “queria que todos os judeus morressem e que eles [judeus] estavam cometendo genocídio contra ‘sua gente’”. 

Bowers foi indiciado por 11 homicídios, seis agressões qualificadas e 13 intimidações étnicas, além de 29 acusações de obstrução ao livre exercício da crença religiosa resultante em mortes — crime de ódio pela lei federal— e uso de arma de fogo para cometer assassinato.

O secretário da Justiça, Jeff Sessions, afirmou que as acusações “poderiam levar à pena de morte”. 

O promotor Scott Brady disse que “o fato de que este ataque ocorreu durante um culto de adoração o torna ainda mais hediondo”.

Bowers passou por uma cirurgia e continua internado no hospital Mercy, em Pittsburgh. Ele se apresenta para audiência judicial nesta segunda (29). 

Seu vizinho, Chris Hall, disse que nunca ouviu nada que indicasse que Bowers era antissemita ou representasse algum perigo. “Ele ficava na dele”, disse Hall. 

“O mais aterrorizante de tudo é o quão normal ele parecia. Quem dera eu soubesse o que se passava na sua cabeça. Talvez algo pudesse ter sido feito”, disse. 

Na noite de sábado, milhares de pessoas se reuniram em Pittsburgh para uma vigília em homenagem às vítimas. Alguns responsabilizam o clima político no país pelo massacre.

“Quando você vomita discurso de ódio, as pessoas agem em cima disso. Muito simples. E esse é o resultado: muitas pessoas mortas”, afirmou Stephen Cohen, co-presidente da New Light, uma das três congregações que usa o espaço da Tree of Life.

“Nossa perda é incalculável”, afirmou.

No sábado, o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que o massacre poderia ter sido evitado se a sinagoga mantivesse seguranças armados e que o crime não tem “nada a ver” com a questão de controle de armas no país.

Para Peduto, manter armas longe do alcance de “pessoas irracionais” era a melhor maneira de evitar violência. 

“Deveríamos trabalhar para eliminar o comportamento irracional e o empoderamento de pessoas que busquem esse tipo de carnificina”, afirmou.

Autoridades disseram neste domingo que Bowers tinha licença para carregar armas de fogo e fez ao menos seis compras registradas de armas desde 1996. Ele não tem passagens pela polícia. Acredita-se que ele tenha agido sozinho.

Bowers postava conteúdo antissemita nas redes sociais, com insultos e teorias da conspiração.

Duas horas antes do ataque, ele postou na comunidade Gab sobre a HIAS, uma organização que ajuda refugiados judeus a se estabelecerem nos EUA.

“HIAS gosta de trazer invasores que matam nossa gente. Eu não posso ficar sentado e ver minha gente sendo abatida. Que se dane o que vocês pensam, estou indo”, escreveu.

As postagens de Bowers no Gab desde que entrou na rede, em janeiro, mostram um homem que compartilhava mensagens como: “Lembrete do dia: diversidade significa o fim do último branco”.

O supremacista Frazier Glenn Miller Jr., condenado em 2015 por matar três judeus no Kansas em abril de 2014, disse em seu julgamento: “Diversidade é uma senha para genocídio dos brancos”.

Por meio de nota, o governo brasileiro expressou “suas profundas condolências às famílias das vítimas, bem como sua solidariedade para com o povo e governo norte-americanos”.

“O governo brasileiro reitera sua mais veemente condenação a qualquer ato de extremismo violento ou terrorismo”, diz a nota.

O papa Francisco condenou o ataque contra a sinagoga e pediu a extinção de “focos de ódio” e por valores morais e civis mais fortes. “Todos nós estamos feridos por esse ato desumano de violência”, disse.

O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, disse nas redes sociais que “os canadenses estão incondicionalmente com a comunidade judaica de Pittsburgh, que sofreu um ataque antissemita horrível quando orava. Que as famílias dos assassinados sejam consoladas e que os feridos possam se recuperar rápida e plenamente”.

“Meus pensamentos estão com as vítimas e meu apoio, com seus parentes”, disse o presidente da França, Emmanuel Macron.

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