Trump diz que jornalista saudita desaparecido provavelmente está morto

Americano disse confiar na investigação, que aponta participação do príncipe saudita no caso

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O príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman (dir.) recebe o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, em Riad - Leah Mills - 16.out.18/AFP
São Paulo, Washington e Istambul | Reuters

O presidente americano Donald Trump afirmou na tarde desta quinta (18) que "certamente parece" que o jornalista saudita Jamal Khashoggi, desaparecido desde 2 de outubro, está morto.

Ele disse ainda que a Arábia Saudita terá que sofrer consequências "severas" caso a morte seja confirmada.

Trump tem sido criticado por não condenar o desaparecimento do jornalista de forma incisiva e de manter uma postura benevolente em relação aos aliados árabes.

Mais cedo, o republicano afirmou a repórteres do jornal The New York Times ter confiança nos relatórios de inteligência que sugerem a participação de autoridades sauditas no assassinato.

"A não ser que o milagre de todos os milagres aconteça, eu diria que ele está morto", disse a repórteres no salão oval da Casa Branca.

O republicano também reconheceu, segundo o jornal, que as alegações de que o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman (MBS), ordenou o assassinato de Khashoggi colocam em xeque a aliança entre Washington e Riad. 

A fala de Trump aconteceu após ele se encontrar com o secretário de Estado, Mie Pompeo, que acabaou de voltar de viagem a Riad, onde se reuniu com autoridades sauditas exatamente para tratar do assunto. 

Também nesta quinta o New York Times e o The Washington Post Também revelaram que a Arábia Saudita transferiu na última terça-feira (16)  para contas do governo dos EUA US$ 100 milhões (R$ 369 milhões), no mesmo dia que Pompeo desembarcou no reino árabe. 

O dinheiro havia sido prometido por Riad ao governo de Donald Trump como contribuição aos esforços americanos de estabilizar áreas da Síria liberadas do Estado Islâmico. 

A transferência é uma vitória para Trump, que sempre reclama de quanto o país gasta no exterior e exige de aliados contribuições. Mas o timing da transferência levantou questionamentos mesmo de burocratas cujos programas vão se beneficiar dos fundos, segundo o Times.

"Esse timing não é coincidência", disse ao Times uma fonte envolvida nas políticas para a Síria. 

Khashoggi desapareceu no dia 2 de outubro durante uma visita ao consulado saudita em Istambul, na Turquia, onde foi retirar documentos para poder se casar.

Relatos da mídia turca com base em gravações de áudio indicam que o jornalista foi torturado, morto e esquartejado logo após entrar no edifício. 

A Turquia acusa Riad pelo crimes, mas as autoridades sauditas negam. 

Nesta quinta (18), Pompeo sugeriu que os EUA devem dar mais tempo à Arábia Saudita para que investigação dê resultados.

"É importante lembrar também que temos uma longa parceria estratégica com o reino da Arábia Saudita, desde 1932", afirmou. 

Após conversar com o príncipe saudita MBS, na segunda-feira (15), Trump sugeriu que "matadores de aluguel" poderiam ter matado o jornalista. Depois, questionou a imprensa por estar culpando antecipadamente o regime saudita pelo ocorrido. 

Brett McGurk, enviado do Departamento de Estado para a coalizão que luta contra o Estado Islâmico, negou que a transferência de fundos esteja ligada ao caso, dizendo que o dinheiro havia sido prometido em agosto. 

"Essa transferência específica de fundos estava em processo há muito tempo e não tem nada a ver com outros eventos ou com a visita do secretário", afirmou, segundo o Times. 

Uma monarquia rica em petróleo, a Arábia Saudita sempre confiou em sua liberalidade financeira para persuadir parceiros a darem apoio a seus objetivos de política externa. Segundo o Post, diplomatas ocidentais suspeitam que o reino também compensará a Turquia por sua disposição em lançar uma investigação conjunta sobre o desaparecimento de Khashoggi —como um perdão de dívidas.

"Em toda probabilidade, os sauditas querem que Trump saiba que essa cooperação em acobertar o caso Khashoggi é importante para o monarca saudita", disse Joshua Landis, da University de Oklahoma, ao Post. "Muitas das suas promessas financeiras aos EUA seriam contingenciadas por essa cooperação." 

A Embaixada da Arábia Saudita em Washington não respondeu a pedidos de comentários. 

Nesta quinta, o secretário do Tesouro dos EUA, Steve Mnuchin, e o ministro das Finanças da França, Bruno Le Maire, o ministro das Finanças da Holanda, Wopka Hoekstra, e o ministro do Comércio do Reino Unido, Liam Fox, cancelaram a ida a cúpula saudita que vem sendo chamada de "Davos do deserto"

"Aqueles responsáveis pelo desaparecimento devem ser punidos", disse o porta-voz de Fox. 

Investigadores turco deixaram o consulado saudita em Istambul após fazer novas buscas no prédio pela segunda vez, além de buscas nos veículos consulares. A residência do cônsul-geral também foi investigada, e o teto e a garagem foram vasculhados com um drone. 

Quatro grupos de direitos humanos ocidentais — Human  Rights Watch, Anistia Internacional, Comitê para Proteger Jornalistas (CPJ) e Repórteres Sem Fronteiras— pediram que a Turquia peça à ONU que investigue o desaparecimento de Khashoggi. 

"O envolvimento da ONU é a melhor garantia contra um acobertamento saudita ou tentativas de outros governos de varrer o assunto para debaixo do tapete para preservar seus negócios lucrativos com Riad", afirmou Robert Mahoney, vice-diretor-executivo do CPJ. 

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