Brasileiro que matou tios e primos na Espanha depõe em julgamento

Promotoria pede prisão perpétua para jovem que confessou esquartejar parentes em 2016 em Pioz

Patrick Nogueira Gouveia (de óculos) no primeiro dia de seu julgamento; ele é acusado de matar tios e primos na Espanha
Patrick Nogueira Gouveia (de óculos) no primeiro dia de seu julgamento; ele é acusado de matar tios e primos na Espanha - Reprodução/TV Cabo Branco
AFP

O brasileiro acusado de matar e esquartejar dois tios e dois primos em agosto de 2016 começou a ser julgado nesta quarta-feira (24) na cidade espanhola de Guadalajara. A promotoria pede pena de prisão perpétua com possibilidade de revisão. 

O julgamento —deve durar uma semana e terá depoimentos do assassino confesso, de dezenas de testemunhas e de investigadores e legistas— começou com a escolha dos nove membros do júri na Audiência Provincial de Guadalajara, que fica 60 km ao leste de Madri.

O crime aconteceu na cidade de Pioz, perto de Guadalajara, no dia 17 de agosto de 2016.

Algemado, o assassino confesso, François Patrick Nogueira Gouveia, que tinha 19 anos na época do crime e hoje tem 21, manteve o rosto sério enquanto eram lidas as acusações contra ele.

Nogueira, que em um exame psicológico foi descrito com um perfil de personalidade psicopática, manipulador, egocêntrico e sem empatia, assassinou primeiro a tia, Janaína Santos Américo, 39, e os dois filhos do casal, de 1 e 3 anos. Esperou a chegada do tio materno Marcos Campos, 40, e também o matou. 

Nogueira respondeu apenas às perguntas de sua advogada, pediu perdão à sua família e à da tia e disse que não escolheu ser como é. "Gostaria de ter evitado que isso acontecesse”, afirmou. “Não escolhi funcionar da maneira que funciono”, completou.

Marcos Nogueira e Janaína Américo foram mortos pelo sobrinho na Espanha
Marcos Nogueira e Janaína Américo foram mortos pelo sobrinho na Espanha - Reprodução/Facebook/Janaina Diniz Diniz

O brasileiro disse que teve uma infância sofrida e tem problemas com álcool desde os dez anos de idade. Afirmou ainda que seu tio inventava mentiras a seu respeito, dizendo que consumia drogas e não contribuía com os gastos da casa.

De acordo com seu relato, ele decidiu cometer o crime quando soube que houve uma reunião na casa de sua avó, no Brasil, para tratar desse assunto. Ele disse que tinha “a ideia fixa de que tinha que fazer aquilo”.

No dia dos crimes, Nogueira chegou à casa dos tios com uma faca afiada, sacolas plásticas e fita de vedação.

Os adultos foram esquartejados e os pedaços dos corpos foram colocados em sacolas plásticas. Depois ele limpou a casa, se limpou e esperou para pegar o ônibus de volta na manhã seguinte, de acordo com os documentos judiciais.

Os corpos foram encontrados um mês depois, graças a um funcionário da manutenção que alertou para o odor procedente da residência.

Enquanto cometia os crimes, Nogueira trocou mensagens por WhatsApp com um amigo no Brasil, Marvin Henriques, a quem "pedia conselhos, relatava o que estava fazendo e enviava fotografias dos cadáveres, recebendo por parte de seu interlocutor mensagens de incentivo", afirma um documento judicial.

Henriques está em liberdade provisória e aguarda o julgamento como cúmplice dos assassinatos no estado da Paraíba, de onde é a família de Nogueira.

Após a descoberta do crime, Nogueira fugiu em 20 de setembro para João Pessoa. Mas no dia 19 de outubro retornou à Espanha para entregar-se voluntariamente, convencido por sua família de que era melhor ser condenado na Espanha do que no Brasil.

Pelos assassinatos das duas crianças, a Promotoria pede para Patrick Nogueira pena de prisão permanente com possibilidade de revisão, a condenação máxima na Espanha, que é uma prisão perpétua que pode ser revista após 25 anos de pena.

Além disso, a Promotoria pede 20 anos de prisão por cada assassinato dos tios, que receberam o jovem quando ele chegou a Espanha em março de 2016 sonhando com a carreira de jogador de futebol.

A defesa de Nogueira, que confessou ter sentido uma "vontade irrefreável de assassinar", tentará reduzir a condenação com a alegação de "transtorno mental transitório" e o atenuante da confissão.

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