Desunião pode nos custar o 'brexit', alerta May

Primeira-ministra britânica é aplaudida ao subir ao palco de reunião de seu partido ao som de Abba

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Paris e Birmingham | Reuters

Após subir no palco da conferência anual de seu partido ao som de "Dancing Queen", do Abba, a primeira-ministra britânica, Theresa May, fez um alerta: a desunião dentro do Partido Conservador pode custar o "brexit" ao país. 

"Se os Tories não se unirem, nos arriscamos a ficar sem nenhum 'brexit'", afirmou a primeira-ministra, no encerramento do encontro em Birmingham, referindo-se à possibilidade de o Reino Unido deixar a União Europeia sem um acordo sobre os termos dessa saída.

"O Reino Unido não tem medo de sair sem acordo, se tiver de ser assim", disse. "Mas temos de ser honestos sobre isso. Sair sem um acordo, introduzir tarifas e checagens nas fronteiras, seria um resultado ruim para o Reino Unido e para a União Europeia." 

A primeira-ministra britânica, Theresa May, entra no palco dançando ao som de Abba, no encerramento da conferência anual do Partido Conservador, em Birmingham - Oli Scarff/AFP

May reconheceu a existência de pedidos para que um novo referendo sobre o 'brexit' seja realizado, mas descartou essa possibilidade.

"Tivemos o voto do povo, e o povo decidiu sair. Um segundo referendo seria o voto dos políticos. Seria os políticos pedindo por outro resultado", afirmou.

A primeira-ministra disse que é crucial a união de seu partido contra o Partido Trabalhista que, segundo ela, está torcendo pela derrota das negociações. "Os trabalhistas aceitariam qualquer acordo com Bruxelas, não importando o quão ruim seja para o Reino Unido. Mas eles rejeitariam qualquer acordo que eu traga para casa, não importando o quão bom seja para o Reino Unido." 

Na terça-feira (2), numa bateria de entrevistas para rádios e TVs britânicas, May havia anunciado um plano de imigração para o período pós-“brexit” que colocaria fim à livre circulação de pessoas entre o Reino Unido e os territórios da União Europeia (EU), além de priorizar a instalação de estrangeiros altamente qualificados.

 

A ideia foi imediatamente rechaçada por líderes do bloco, que viram nela inclinação discriminatória e, mais do que isso, voluntarismo.

Eles dizem que Londres quer escolher unilateralmente as áreas em que ficará mais próxima ou mais distante do continente após a separação (programada para 29 de março de 2019), adotando réguas diferentes segundo sua conveniência.

A proposta atual de May para a circulação de bens manufaturados e produtos agrícolas entre as duas partes, por exemplo, envolve a criação de uma união aduaneira, na contramão da ruptura litigiosa que ela acaba de sugerir na rubrica da imigração.

Para analistas, o anúncio surpreendente de terça pode ter sido também um expediente de Downing Street a fim de esvaziar a fala de Boris Johnson, ex-ministro das Relações Exteriores de May, na conferência conservadora.

Ele deixou o governo em julho, quando a primeira-ministra apresentou o chamado “plano de Chequers” (referência à casa de campo da chefia de governo britânica, onde foi lançado), sob a justificativa de que o esboço previa concessões demais à UE. Desde então, tem sido um de seus mais ferozes críticos.

Não foi diferente no discurso de terça, quando Johnson, também ex-prefeito de Londres, chamou o plano de May de ultraje e engodo.“Se não acertarmos, se desistirmos do ‘brexit’ agora, o povo deste país dificilmente nos perdoará”, disse ele.

“Isto não é democracia [a proposta atual para a separação]. Não é aquilo em que votamos [no referendo de 2016]. Não é tomar o controle de volta para o Reino Unido, mas cedê-lo.”

Fazendo menções à política fiscal e às insuficiências do sistema de habitação britânico (este último um tema bastante sensível para o eleitorado), o agora parlamentar buscou se posicionar como nome alternativo para a chefia de governo caso May enfrentasse (e perdesse) um voto de confiança no Legislativo, o que hoje parece improvável.

Também para contra-atacar a fala do agora antagonista, o gabinete da primeira-ministra adiantou ainda na terça uma medida que ela divulgaria oficialmente em seu discurso aos correligionários: o congelamento, pelo nono ano consecutivo, do imposto sobe combustível.

A iniciativa deve privar os cofres públicos de 800 milhões de libras (R$ 4,1 bilhões).

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