Ex-aliado de Ortega critica ditador e prevê crise mais grave na Nicarágua

Ex-vice-presidente, Sérgio Ramírez diz estar decepcionado com democracia brasileira

Sylvia Colombo
Medellín

“Daniel Ortega já realizou a grande repressão, em abril, e agora está refinando a repressão por setores, contra jornalistas, contra sindicatos, contra universitários”, conta o escritor Sérgio Ramírez, 76, que participou da Frente Sandinista de Libertação Nacional que derrubou a ditadura de Anastasio Somoza, nos anos 1970, e foi vice-presidente do país entre 1985-1990.

Hoje é um crítico do ex-companheiro de combate transformado em ditador da Nicarágua, e vem atuando por meio de sua literatura e da participação em fóruns por uma pacificação do país e pela substituição de Ortega.

O escritor Sérgio Ramírez, ex-vice presidente da Nicarágua, em Manágua em 2017
O escritor Sérgio Ramírez, ex-vice presidente da Nicarágua, em Manágua em 2017 - Oswaldo Rivas - 14.dez.17/Reuters

“O uso da lei antiterrorista está acabando com as liberdades. Temos cerca de 400 estudantes presos sem julgamento. E nas últimas semanas, seis correspondentes estrangeiros foram expulsos usando a mesma legislação”, conta, em entrevista à Folha, em Medellín.

Por enquanto, diz, ainda não falta comida como na Venezuela, mas o medo da repressão já causa um pequeno êxodo —desde abril, 23 mil pessoas se mudaram para a Costa Rica.

“Já se perderam 300 mil postos de trabalho. Não há mais ajuda da Venezuela e investidores não consideram colocar dinheiro no país. Aí sim, teremos uma crise mais grave.”

O escritor crê que é correto chamar a Nicarágua de ditadura e que há elementos novos na política linha-dura de Ortega. “Hoje ele se apresenta de forma mais messiânica, como um escolhido para liderar o país e livrá-lo de seus inimigos.”

Sobre as eleições no Brasil, Ramírez se diz decepcionado com as perspectivas. “Eu tinha Brasil, Chile e Uruguai como exemplos de países que, mesmo tendo passado por ditaduras, tinham construído democracias que funcionavam bem. Mas parece um momento perigoso.”



 

A jornalista viajou a convite da Fundación Nuevo Periodismo Iberoamericano

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