O índice anual de inflação na Venezuela atingiu 488.865% em setembro em relação ao mesmo mês do ano passado, afirmou relatório divulgado nesta segunda-feira (8) pela Assembleia Nacional (oposicionista). O FMI previu que o índice pode passar de 1.000.000% neste ano.
A inflação diária está na casa dos 4%, enquanto a mensal subiu de 223% em agosto para 233% em setembro, afirma o relatório. De janeiro a setembro deste ano, o índice fica em 115.824,2%.
Para comparação, a inflação de 2018 no Brasil deve fechar o ano em 4,4% de acordo com o Banco Central —patamar semelhante a alta diária na Venezuela.
Parlamentares da oposição se tornaram a única fonte confiável de indicadores econômicos depois que o Banco Central venezuelano deixou de publicar dados há cerca de três anos, quando a economia do país começou a entrar em colapso.
"Tudo indica que esse número continuará aumentando no mês que vem. Nosso conselho ao venezuelano é que utilize o dinheiro que tenha, que não o deixe no banco para que perca seu valor", afirmou Juan Andrés Mejía, deputado da Assembleia Nacional.
"Essa situação não vai mudar se não houver uma mudança dos que dirigem o setor econômico. Não há forma de que seja o socialismo do século 21, que é o modelo econômico que acabou com a produção do nosso país. Se é esse o modelo, então esses são os resultados que vamos ter", acrescentou.
Em um esforço para estabilizar os preços, o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, anunciou várias medidas em agosto, que segundo os novos dados da oposição não geraram o efeito esperado.
Na ocasião, o governo anunciou uma desvalorização de 96% do valor oficial da moeda do país, aproximando seu preço do que já era praticado no mercado negro. Ela também ganhou um novo nome e passou a se chamar "bolívar soberano".
O câmbio, assim como os salários, passaram a ser indexados a uma criptomoeda criada pelo regime, o petro, em uma medida criticada por economistas.
O pacote de Maduro incluiu ainda um corte de cinco zeros e o aumento do salário mínimo em 3.000%, o que a consultoria Econométrica afirmou que levaria a um aumento da inflação.
Foi a segunda reconversão no país em uma década. Em 2008, o então presidente Hugo Chávez, antecessor e padrinho político de Maduro, eliminou três zeros da moeda, criando o que chamou de "bolívar forte" —nome que permaneceu até agosto deste ano.
Para tentar conter a crise, Maduro também mexeu no preço da gasolina, a mais barata do mundo, flexibilizou o câmbio, que era controlado desde os tempos de Chávez e chegou a prender gerentes de supermercado acusados de aumentar os preços.
Os atuais problemas econômicos desencadearam uma crise social no país, que sofre com um desabastecimento generalizado que atingiu alimentos e medicamentos, e até mesmo o papel-moeda chegou a faltar.
Isso levou mais de 1 milhão de pessoas a emigrarem, a maior parte para outras nações da região, como a Colômbia, o Equador e o Peru —o Brasil recebeu cerca de 120 mil, sendo que metade segue no país segundo o governo federal— que passaram a enfrentar dificuldades para receber o grande contingente de refugiados.
Maduro culpa os problemas nas sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos contra seu regime e diz que a Venezuela é vítima de uma “campanha mundial brutal” diariamente em todos os organismos internacionais.
Ele já acusou também o governo colombiano de trabalhar para prejudicar seu regime.
Em meio a esta situação, Maduro foi reeleito em maio para mais seis anos no poder, em uma votação marcada por denúncias de fraudes, boicotada pela maior parte da oposição e não reconhecida por diversos países.
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