Descrição de chapéu Governo Trump

Senadores divergem sobre resultado de investigação do FBI sobre juiz Kavanaugh

Para democratas, apuração foi 'limitada'; Casa Branca e republicanos se declaram satisfeitos

Júlia Zaremba
Washington

Os resultados da nova investigação do FBI sobre o passado do juiz Brett Kavanaugh, acusado de ter atacado sexualmente a professora Christine Blasey Ford na década de 80, geraram divergências entre senadores republicanos e democratas. 

O lado conservador diz que não foram apontadas evidências que comprometam o postulante ao cargo. Já integrantes do partido da oposição dizem que o trabalho foi limitado e não incluiu testemunhas que estavam dispostas a falar. 

O relatório da polícia federal americana foi entregue à Casa Branca e encaminhado para o Congresso durante a madrugada desta quinta (4). Os senadores avaliaram durante a manhã os resultados. 

A apuração sobre o que aconteceu há quase 40 anos era uma demanda de Ford, que não se lembra de todos os detalhes do incidente. O procedimento foi autorizado por Trump na última sexta (28), desde que fosse "limitada no escopo e concluída em menos de uma semana". Na segunda (1º), no entanto, o republicano autorizou que fosse mais ampla. 

Chuck Grassley, presidente do Comitê Judiciário do Senado, disse que "não há nada no relatório que ainda não soubessem" e que era "hora de votar". O senador afirmou durante coletiva de imprensa nesta quinta (4) que a votação final deve ser realizada no sábado (6). 

Kavanaugh precisa de ao menos 50 votos (a casa tem 51 republicanos). Caso dê empate, o vice-presidente, Mike Pence, dará o voto de minerva. 

Foto do dia 5 de setembro mostra o juiz indicado por Trump Brett Kavanaugh (esq.) com o presidente do Comitê Judiciário do Senado, Chuck Grassley
Foto do dia 5 de setembro mostra o juiz indicado por Trump Brett Kavanaugh (esq.) com o presidente do Comitê Judiciário do Senado, Chuck Grassley - Saul Loeb/AFP

Em comunicado, Raj Shah, porta-voz do governo, disse que estão "totalmente confiantes de que o Senado vai votar para confirmar" Kavanaugh para a Suprema Corte. Em entrevista à CNN, Shah afirmou que o FBI havia entrado em contato com dez testemunhas e entrevistado nove delas e que o presidente e a Casa Branca apoiam o juiz. 

Trump criticou democratas durante a manhã em uma rede social. "É a sétima vez que o FBI investiga o juiz Kavanaugh", escreveu. "Se fizéssemos cem, ainda não seria suficiente para os obstrucionistas democratas." 

O presidente também afirmou, em mais uma declaração em defesa do indicado, que o juiz está sendo tratado de forma "dura e injusta" e que a vida dele "não pode ser arruinada por democratas maus e desprezíveis e alegações totalmente não corroboradas." 

Os democratas Chuck Schumer e Dianne Feinstein disseram que a investigação foi limitada, que houve tentativas de bloquear o trabalho do FBI e que o relatório, confidencial, deveria ser tornado público. 

"A parte mais notável do relatório é o que não está nele", disse Feinstein, criticando o fato de Kavanaugh, Ford e outras testemunhas não terem sido entrevistadas. "Parece ser produto de uma investigação incompleta, limitada, talvez, pela Casa Branca", continuou. 

"Certamente bloquearam o acesso a milhões de documentos de registros de Kavanaugh." "Por que todos os americanos não deveriam ver os fatos?", questionou Schumer. "Eu discordo do comunicado do senador Grassley de que de que não há pistas de má conduta." 

A investigação do passado de indicados pelo presidente à Suprema Corte pela polícia federal americana é um procedimento padrão, para checar, por exemplo, se não representam um perigo à segurança nacional. 

A aprovação do juiz está na mão de alguns senadores que poderiam votar contra as indicações do partido: os republicanos Susan Collins, Jeff Flake e Lisa Murkowski e o democrata Joe Manchin. 

Alguns já se posicionaram sobre o relatório. Flake disse que ele não revelou informações adicionais que corroborem a versão de Ford. E Collins disse que "parece ter sido uma investigação bastante minuciosa." 
A lista de indecisos também incluía a republicana Heidi Heitkamp, que declarou durante a tarde que vai votar contra Kavanaugh. 

A oposição também veio de um ex-integrante da Suprema Corte americana. O conservador John Paul Stevens, membro do tribunal entre 1975 e 2010, disse que Kavanaugh não poderia ser indicado por seu potencial enviesamento político.

"Acho que sua performance na sabatina definitivamente me fez mudar de ideia", disse ao Palm Beach Post. "Acho que há motivo para este questionamento e que os senadores deveriam realmente prestar atenção nisso."

Três mulheres acusam o juiz de algum tipo de delito sexual. Ele nega todas as acusações. 

Nesta quinta, Kavanaugh voltou a se defender em um artigo ao jornal The Wall Street Journal. Nele, afirma ser alvo de acusações infundadas e que sua vida estudantil foi distorcida. “Minha mulher e filhas receberam ameaças vis e violentas.”

Sobre o depoimento, admite ter falado com um tom forçado e passional. “Meu depoimento [...] foi um reflexo da minha absoluta frustração de ter sido acusado erroneamente de uma conduta horrível completamente contrária aos meus antecedentes e ao meio caráter.”

Ele é o segundo nome indicado por Trump para a Suprema Corte. O primeiro foi Neil Gorsuch, conservador moderado que assumiu em abril de 2017. 

Caso seja aprovado, o equilíbrio da corte será alterado: serão quatro juízes progressistas contra cinco conservadores. 

Mas se a nomeação não for adiante, e as eleições legislativas de novembro resultarem em uma maioria democrata no Congresso, o processo pode se alongar para até depois de 3 de janeiro, quando assume a nova legislatura, o que dificultaria os planos de Trump.

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