Queremos que nossos filhos sejam norte-americanos, dizem grávidas em caravana

Três grupos de migrantes centro-americanos rumam aos EUA

Migrante hondurenha grávida faz ultrassom durante caravana em direção aos EUA, em Huixtla, no México - Johan Ordonez - 23.out.18/AFP
Tapanatepec (México) | AFP

Ela caminha lentamente, às vezes ziguezagueando pelo asfalto quente. Marisol Hernández, 23, se diz enjoada mas decidida a que seu filho nasça dentro de uns seis meses nos EUA. 

Trabalhava em uma loja de roupas quando decidiu se unir ao contingente de pessoas que fugiram da violência e da pobreza em Honduras para rumar em caravana para os EUA.

Tomou a decisão quando gangues mataram seu marido há dois meses, na porta de casa, quando voltava de uma obra em que era pedreiro. "Se negou a trabalhar com extorsão", disse.

No dia seguinte, recebeu ameaças de que ela seria a próxima. 

Nas últimas duas semanas, tem dormido no chão, nem sempre sob um teto, e caminhado 10 horas por dia, quando não consegue subir num caminhão que transportam gratuitamente os migrantes por alguns quilômetros. 

Marisol deixou os dois filhos com a avó "porque mal conseguia dar a eles o que comer". Ela confessa que às vezes pensa em desistir. 

"Por vezes quero voltar porque creio que nem eu nem o menino [que espera] vamos suportar", diz. 

A hondurenha grávida Sandra Aracely Gutierrez, 22, dá de mamar à filha em San Pedro Tapanatepec, no México - Guillermo Arias - 28.out.18/AFP

Como ela, há dezenas de grávidas na caravana de migrantes que agora tentar alcançar a fronteira mexicana com os EUA.

Marisol sonha com que seu terceiro filho seja "formado em algo, que estude, que fale inglês, que saiba computação e essas coisas". 

Pensa que essa é a chave para que seu filho esteja longe "dos parasitas", como chama as gangues de seu país, que costumam recrutar pessoas sob ameaça de morte desde que são crianças. 

Também tem claro que não quer ficar no México, apesar da oferta do presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, porque condicionou a que peçam refúgio e fiquem nos estados majoritariamente indígenas e pobres de Oaxaca e Chiapas.

"Seria igual a viver em Honduras!", disse. 

A ONU estimou na semana passada que a caravana contava com 7 mil pessoas, a maioria hondurenhos, mas os coordenadores agora acreditam que sejam 4 mil.

Uma segunda caravana cruzou a fronteira entre a Guatemala e o México neste fim de semana, e uma terceira deixou San Salvador, em El Salvador, no domingo (28).

Não se sabe exatamente quantas grávidas estão no contingente, mas Marisol disse ter ouvido médicos voluntários somarem 42.

A hondurenha Delmer Roxana Martinez em Escuitla, no México - Johan Ordonez - 24.out.18/AFP

Julia Martínez, enfermeira que distribuiu vitaminas entre mulheres que estiveram em um consultório improvisado, disse ter visto grávidas de 12, 15 e 30 semanas de gestação. 

Delmer Roxana Martínez, 29, grávida de três meses, viaja com o marido, um filho de três anos e um primo.

"Deus sabe que não é pela ambição", diz, mas "seria um benefício para a família" que o filho nasça nos EUA. Ela deixou uma filha de nove anos de idade em San Salvador. 

Por uma rua de Jijijiapan, em uma das paradas da caravana em Chiapas, Stephanie Guadalupe Sánchez, 15, caminha com dificuldade com a barriga de sete meses de gravidez.

"Quero um bom trabalho e um futuro para meu filho. Teria uma vida melhor se vivermos nos EUA", afirma.

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