Turquia diz ter gravação que comprova tortura e assassinato de jornalista saudita

Imprensa e empresas cancelam participação em evento econômico em Riad

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Ancara, Dubai e Londres | AFP e Reuters

A Turquia informou aos EUA que obteve gravações de áudio e vídeo que mostram o interrogatório, a tortura, a morte e o esquartejamento do corpo do jornalista saudita Jamal Khashoggi no consulado de seu país em Istambul, informou nesta sexta-feira (12) o jornal The Washington Post.

Crítico da monarquia do golfo Pérsico e colaborador do Post, Khashoggi não é visto desde que entrou na representação diplomática no dia 2 para conseguir documentos para seu casamento. O regime saudita afirma que o jornalista deixou o prédio, mas não ofereceu provas

Autoridades sauditas entram no consulado do país em Istambul nesta sexta (12)
Autoridades sauditas entram no consulado do país em Istambul nesta sexta (12) - Petros Giannakouris/AP

Membros dos serviços de inteligência americano disseram à publicação que, em um dos áudios, é possível ouvir homens espancando o jornalista. Procurados pelas agências de notícias AFP e Associated Press, o Ministério das Relações Exteriores turco e o Departamento de Estado americano não comentaram a existência das gravações.

Na quarta (10), o jornal havia publicado, também com base em agentes de inteligência americanos, que membros ligados ao príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, haviam tentado no ano passado atrair Khashoggi para o país para prendê-lo.

O Post ainda questiona se os EUA souberam da operação de antemão, mas não alertaram o jornalista, que vivia em território americano. Segundo uma diretiva de 2015, agências de inteligência têm o dever de alertar pessoas que corram risco de sequestro, ferimentos graves ou morte.

A informação foi divulgada horas antes de uma delegação da Arábia Saudita chegou a Ancara para reuniões com as autoridades locais para tentar esclarecer o desaparecimento. Um dos pontos que devem ser acertados pelo grupo é a revista ao consulado.

A monarquia deu a autorização na última terça (9), mas os investigadores não haviam entrado no prédio até esta sexta. Segundo o jornal turco Sabah, os dois países discordaram em relação às condições da investigação, já que os sauditas desejavam uma observação superficial e os turcos, uma busca mais profunda.

Manifestantes acusam o príncipe da Arábia Saudita Mohammed bin Salman de matar o jornalista Jamal Khashoggi
Manifestantes acusam o príncipe da Arábia Saudita Mohammed bin Salman de matar o jornalista Jamal Khashoggi - Jim Watson/AFP

A imprensa turca também informou que parte das gravações às quais os investigadores tiveram acesso veio de um smartwatch usado por Khashoggi. O relógio estava ligado a um celular que o jornalista havia deixado com sua noiva, Hatice Cengiz, que o esperava fora do consulado.

Nesta sexta, a França pediu explicações aos sauditas. “Os fatos apontados são graves, muito graves. Espero que se revele a verdade e se esclareça completamente”, disse o presidente Emmanuel Macron.

O porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, declarou que a chanceler Angela Merkel acompanha o caso com preocupação e pediu respostas ao regime saudita.

Enquanto isso, a noiva do jornalista reiterou seus pedidos ao presidente dos EUA, Donald Trump, para pressionar o aliado do golfo Pérsico a revelar onde está Khashoggi. 

“E sobre Jamal Khashoggi?”, disse Cengiz noTwitter em resposta a uma mensagem de Trump em que ele comemorava a libertação do pastor Andrew Brunson, que estava detido na Turquia.

Na quinta (11), o republicano havia dito que as relações com a Arábia Saudita eram excelentes e que não gostaria  de sabotar o acordo fechado entre os dois países para a compra de US$ 110 bilhões (R$ 413 bilhões) em equipamento militar acertada em 2017.

A agência de notícias Reuters informou que parte das empresas envolvidas na transação começa a pressionar o governo para não ceder à exigência dos democratas de suspender a exportação de armas para os sauditas devido ao desaparecimento.

Por outro lado, cresce o boicote de empresários e jornalistas a uma cúpula econômica marcada para o dia 23 em Riad. Os CEOs da Viacom, Bob Bakish, e da Uber, Dara Khosrowshahi, confirmaram que não irão.

“Estou muito perturbada com os relatos até agora sobre Jamal Khashoggi”, afirmou Khosrowshahi em nota.

O fundo soberano saudita é um grande investidor na Uber. O presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, disse que também não irá, enquanto o empresário Richard Branson, da Virgin, suspendeu a negociação sobre o aporte saudita de US$ 1 bilhão para um projeto espacial.

Em retaliação ao sumiço, a revista The Economist, os jornais The New York Times e Financial Times, o site Huffington Post e os canais CNN e CNBC cancelaram sua ida à conferência Future Investment Initiative. O New York Times também tirou o patrocínio ao evento.

Já o secretário do Tesouro americano, Steve Mnuchin, e os principais bancos de Wall Street mantiveram sua participação confirmada.

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