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Suprema Corte americana dispensa quase 9.000 processos de deportação

Precedente se abriu após caso de brasileiro notificado para audiência de deportação sem data

Grupo solta balões perto de grade de fronteira
Membros de famílias de imigrantes morando nos EUA e no México participam de um evento contra o muro na fronteira entre Sunland Park, no estado americano do Novo México, e a mexicana Ciudad Juárez - Herika Martinez - 13.out.18/AFP
Nova York

O precedente aberto por um brasileiro levou a Suprema Corte americana a dispensar quase 9.000 casos de deportação baseados em uma notificação considerada irregular pela máxima instância judicial dos EUA.

Em julho e agosto, foram dispensados 8.559 processos envolvendo imigrantes que entraram na justiça para evitar serem enviados de volta a seus países de origem. Os dados são do escritório executivo de revisão de imigração e foram compilados pela agência Reuters.

O número representa um aumento de 181% em relação ao mesmo período de 2017, quando foram dispensados 3.046 processos. Também é o maior patamar de casos dispensados por mês na história.

A base legal para a apelação foi uma decisão tomada em junho pela mesma Suprema Corte e envolveu o mineiro Wescley Pereira, 38.

Os juízes decidiram que o governo americano não poderia enviar notificações para imigrantes comparecerem à audiência de deportação sem marcar dia e local para que esse encontro ocorresse, como aconteceu com o brasileiro.

Quando a notificação é emitida, congela a contagem do tempo que um imigrante ilegal está nos EUA. Com dez anos contínuos no país, seria possível pedir o cancelamento de remoção, mediante cumprimento de outras condições como pagamento de impostos, e requisitar a cidadania americana.

No caso de Pereira, ele estava havia seis anos nos EUA quando a notificação foi emitida sem data nem local fixados —as informações só foram enviadas quase 18 meses depois, e o caso só chegou a Justiça em março de 2013.

Amparados pela vitória de Wescley, advogados de imigração nos Estados Unidos começaram a entrar com apelações nos processos envolvendo seus clientes.

A situação era parecida: os imigrantes recebiam notificações sem data e horário para a audiência. A Suprema Corte, então, passou a dispensar casos com as mesmas características dos de Wescley.

Mas a onda de dispensas teve vida curta: em 31 de agosto, a corte de apelações de imigração determinou que emitir documentos sem data e hora poderia ser considerado válido.

Para isso, porém, que o imigrante deveria receber uma notificação subsequente para comparecer a uma audiência com os detalhes em falta, como um procedimento comum.

No entender do Departamento de Segurança Doméstica, a decisão da Suprema Corte não tinha o propósito de invalidar os procedimentos de remoção de imigrantes adotados pelo governo americano.

“Se interpretado de uma maneira muito favorável ao requerente, o impacto prático seria encerrar virtualmente todos os procedimentos de imigração”, indicou o departamento, referindo-se a um processo de San Diego.

Para o órgão, as apelações estavam baseadas em uma “interpretação errada” da decisão da Suprema Corte.

Depois da decisão envolvendo o mineiro, alguns imigrantes passaram a receber a informação incorreta, com datas e horários marcados para uma audiência que nunca ocorreu.

Em tese, o serviço de Alfândega e Proteção das Fronteiras dos Estados Unidos (ICE, na sigla em inglês) precisa consultar o calendário das cortes de imigração antes de fixar uma data para a audiência. Mas a comunicação é falha, principalmente pelo grande volume de casos que os tribunais têm que julgar.

Por isso, a vitória de Wescley acabou inaugurando uma discussão sobre a capacidade do sistema judiciário americano de conseguir julgar todos os processos de remoção de imigrantes.

Há mais de 11 milhões de imigrantes ilegais no país, e as projeções indicam que poderia levar até 50 anos para que um processo seja julgado, com a atual estrutura das cortes de imigração.

A dispensa do processo não regulariza a situação do imigrante. Mas retira a ameaça de deportação iminente e dá tempo para que ele entre com ações legais para tentar se manter no país.

Ele pode, por exemplo, ingressar com um pedido de asilo ou mesmo buscar o reconhecimento de que reside nos EUA pelo período mínimo necessário para dar entrada no cancelamento de remoção.

O Departamento de Segurança Doméstica pode apelar de casos que são rejeitados ou pode reiniciar o procedimento de deportação, emitindo uma nova notificação para comparecimento.

Até o final de agosto, os advogados do governo recorreram de apenas 2.100 dos casos dispensados na esteira da decisão, segundo levantamento da agência Reuters.

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