Descrição de chapéu Governo Trump

Aliado de Trump, interino na Justiça é crítico de inquérito sobre Rússia

Matthew Whitaker pediu limites a investigação de interferência de Moscou na eleição de 2016

Whitaker aparece sentado, olhando para o lado. Ele é fotografado de uma plateia.
Então chefe de gabinete, Matthew Whitaker participa de evento no Departamento de Justiça em agosto passado - Allison Shelley - 29.ago.18/Reuters
Washington

Aliado do presidente Donald Trump e crítico das investigações conduzidas pelo procurador especial Robert Mueller sobre a interferência da Rússia na campanha eleitoral de 2016, Matthew Whitaker substituirá Jeff Sessions no posto de secretário de Justiça dos Estados Unidos.

Sessions foi demitido pelo presidente nesta quarta (7), um dia após as eleições legislativas americanas, nas quais os republicanos mantiveram o controle do Senado e os democratas conquistaram a maioria das cadeiras da Câmara dos Representantes.

A nomeação de Whitaker, chefe de gabinete de Sessions desde 2017, põe em xeque o futuro do trabalho de Mueller, já que o secretário comandará o departamento que cuida das apurações sobre o suposto elo entre Moscou e a equipe republicana no pleito de dois anos atrás.

Em artigo escrito para a CNN em agosto de 2017, o novo secretário de Justiça afirmou que o procurador especial passaria dos limites caso decidisse investigar as finanças de Trump e de sua família.

Segundo ele, isso "levantaria sérias preocupações" de que o seu trabalho é "uma mera caça às bruxas", ecoando expressão usada por Trump para descrever as apurações. 

Mueller exigiu documentos relacionados à Rússia à Organização Trump.

No mesmo mês, compartilhou em uma rede social um artigo de opinião intitulado "Nota para o advogado de Trump: não coopere com a turba linchadora de Mueller". Ele disse que o texto "valia a leitura."

Whitaker defendeu ainda o encontro de Donald Trump Jr., filho mais velho do presidente, com russos que teriam oferecido informações comprometedoras sobre Hillary Clinton em meio à campanha de 2016, ocorrido em junho daquele ano na Trump Tower. O incidente pode levar a família do presidente a ser um alvo de Mueller.

Trump Jr. nega ter recebido informações que poderiam prejudicar a adversária do pai na corrida presidencial.

Além dos comentários alinhados com a visão de Trump sobre o andamento do inquérito, Whitaker é um visitante frequente da Casa Branca e costumava atuar para reduzir as tensões entre o Departamento de Justiça e o presidente, segundo o jornal americano The New York Times.

Enquanto Sessions se declarou impedido de participar da investigação, por ter atuado na campanha do republicano à Presidência e ter se encontrado com o embaixador russo Sergey Kislyak no período, deixando a supervisão a cargo de Rod Rosenstein, ainda não se sabe qual será a decisão de Whitaker.

Democratas já agem para que o aliado de Trump siga a mesma direção de Sessions, para afastar o risco de conflito de interesses: além de criticar Mueller, ele também é próximo de uma das testemunhas do inquérito, Sam Clovis, um ex-assessor da campanha do presidente.

O líder dos democratas no Senado, Chuck Schumer, afirmou em comunicado que Whitaker deveria se recusar a assumir a função por já ter defendido "a imposição de limites" às apurações do procurador especial.

A decisão pode ficar a cargo de conselheiros de ética do Departamento de Justiça. Nesse caso, Rosenstein continua no comando.

Mesmo assim, ele poderia impedir ou criar obstáculos para a entrega de um relatório final por Mueller com informações sobre um eventual conluio entre assessores de Trump e o Kremlin para interferir nas eleições de 2016.

Seria um passo arriscado, que poderia gerar conflitos com a maioria democrata na Câmara. Poderia servir como um combustível para que os congressistas iniciassem investigações contra o republicano —o que já é esperado por analistas políticos— ou um processo de impeachment.

Em comunicado, Whitaker disse que está "comprometido em liderar um departamento justo com os mais altos padrões éticos que sustentam o estado de Direito e buscam justiça para todos os americanos". Também chamou Sessions de "um homem íntegro".

O novo secretário de Justiça serviu como procurador federal de Justiça do distrito de Iowa de 2004 a 2009. 

Depois, tentou concorrer ao Senado americano pelo Partido Republicano, mas não passou das primárias.
Antes da carreira política, ele estudou negócios e direito na Universidade de Iowa. Ele fez parte do time de futebol americano da instituição, o Iowa Hawkeyes.

O Senado não precisa aprovar a indicação de Whitaker para o cargo, já que ele assume de forma interina. 

Segundo Trump, um "substituto permanente" para Sessions será nomeado mais adiante. Não há ainda indícios de quem poderia ser o novo titular da pasta.

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