Quando Sandra Parks estava na sexta série, escreveu uma redação premiada sobre crime e violência armada em sua cidade, Milwaukee.

Na segunda-feira (19), dois anos depois de escrever na redação que “vivemos em estado de caos”, ela foi vítima de um disparo fatal quando uma pessoa na rua atirou contra sua casa e uma bala perdida entrou em seu quarto.

Sandra, 13, estava assistindo à televisão quando foi baleada, como sua irmã Tatiana Ingram contou à estação de TV WISN.

“Minha irmã reagiu como soldado: ela entrou na sala e falou ‘Mamãe, levei um tiro’”, contou Ingram. “Ela só levou um tiro, no peito. A bala nem era para ela.”

A mãe de Sandra, Bernice Parks, disse ao The Milwaukee Journal Sentinel que sua filha era “tudo o que este mundo não é”.

“Minha filha não gostava de violência”, ela disse. “Ela foi meu anjo desde o momento que estava em meu ventre até ir embora.” Sandra era sua filha do meio.

Em sua redação, que ficou em terceiro lugar no concurso Martin Luther King Jr. de redação de seu distrito escolar em 2016, Sandra pediu mais empatia e menos negatividade. Ela destacou a importância do estudo para fazer do mundo um lugar melhor.

“Nós somos os líderes do futuro”, ela escreveu, “mas, se não estudarmos, não vamos realizar nada.”
Ela descreveu um mundo onde “criancinhas são vítimas de violência armada sem sentido” e onde “há crimes demais de negros contra negros”.

“Às vezes eu me sento e preciso escapar do que vejo e ouço todos os dias”, ela escreveu. “Chego à mesma conclusão... vivemos em um estado de caos.”

Sandra, que estava na sexta série na época, disse à Rádio Pública de Wisconsin que optou por escrever sobre violência porque “só ouvimos falar de gente morrendo, gente sendo baleada e gente que não pensa que foi o pai, o filho, a neta ou o neto de alguém que acaba de ser morto”.
 

Vickie Brown Gurley, que foi diretora da escola Keefe Avenue quando Sandra estava na quinta e sexta série, se recordou dela como uma aluna autoconfiante com ótimo senso de humor.

Uma representante do distrito escolar disse que 12 alunos de escolas públicas de Milwaukee foram vítimas de homicídio nos últimos dois anos. Sandra foi a sétima a morrer desde janeiro.

“Faz parte da insanidade toda que vemos acontecendo em Milwaukee”, disse o prefeito Tom Barrett na terça-feira, falando com jornalistas. “Olho onde estamos agora como cidade e estou de coração partido. Como pai, isso me parte o coração.”

Na tarde de quarta, a promotoria pública do condado de Milwaukee acusou criminalmente Isaac D. Barnes, 26 anos, e Untrell Oden, 27, de homicídio culposo em primeiro grau pela morte de Sandra, além de outras acusações. Ambos têm condenações anteriores por assalto à mão armada e foram acusados de posse de arma de fogo por um criminoso.

Durante revista realizada numa casa das proximidades, policiais localizaram Oden e encontraram Barnes “escondido em um armário”.

Um detetive que processou a cena do crime recuperou um revólver de uma lata de lixo na sala, além de um fuzil semiautomático que estava no quarto. Especialistas dispararam o revólver, compararam os cartuchos com os que foram encontrados na casa de Sandra e constataram que correspondiam.

“O motivo do crime ainda está sendo determinado”, disse a sargento Sheronda Grant, da polícia de Milwaukee, na quarta-feira.

Na página da família de Sandra no GoFundMe, Bernice Parks disse que sua filha queria fazer faculdade e se tornar escritora.

“Sandra era especial”, disse Parks à estação de TV WITI. “Ela não merecia deixar o mundo desse jeito.”

_{Tradução de Clara Allain}