Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Bolsonaro tem alinhamento internacional cego à gestão Trump, critica Haddad

Em Nova York, ex-prefeito de SP participou de discussão sobre o avanço da direita no mundo

O ex-prefeito de SP Fernando Haddad, do PT
O ex-prefeito de SP Fernando Haddad, do PT - Marlene Bergamo/Folhapress
Danielle Brant
Nova York

O governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), promove um alinhamento internacional cego à gestão do americano Donald Trump, afirmou nesta quinta-feira (29) Fernando Haddad (PT), candidato a presidente derrotado nas eleições.

Haddad participou da discussão “What went wrong when Brazil went right?” (“O que deu errado quando o Brasil foi para a direita”, em tradução livre), realizada no The People’s Forum, em Nova York.

O ex-ministro da Educação falou que o novo governo, “do ponto de vista das relações internacionais, promove um alinhamento cego à administração Trump, absolutamente cego, em todos os temas, seja a questão indígena, a questão ambiental ou a mudança da embaixada [brasileira] de Tel Aviv para Jerusalém”, disse.

Segundo ele, tudo é colocado nos mesmos moldes de um alinhamento num mundo que o governo quer que volte a ser bipolar.

“São governos que estão empurrando o mundo para a bipolaridade, que não aceitam o mundo multipolar por preconceito. Porque veem no mundo multipolar espaços para projetos emancipatórios, para projetos progressistas.”

As declarações foram dadas um dia depois de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, ser fotografado em Nova York com um boné com a frase “Trump 2020”, em apoio a uma eventual reeleição do republicano.

Também ocorreram no mesmo dia em que Bolsonaro recebeu em sua casa, no Rio, o assessor de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, a quem prestou continência, em gesto criticado.

“A coisa que me chamou atenção ao encontro, em primeiro lugar, foi o fato de nosso presidente ter batido continência para o assessor do presidente americano”, afirmou.

“Eu fico me perguntando se houve algum encontro desconhecido dos brasileiros entre o Trump e o Bolsonaro para combinar o jogo. Porque até o presente momento só o Bolsonaro diz o que vai fazer a favor dos EUA. Eu não ouvi, até agora, nenhum compromisso do Trump com o Brasil.”

Para Haddad, ao acenar na direção dos EUA, o Brasil pode perder a objetividade de fazer uma escolha de parceiro preferencial com base nas vantagens que o país pode ter com isso.

“Perdemos essa visão. Não faz sentido o Brasil, com toda sua tradição diplomática, ajudar a empurrar o mundo para uma situação bipolar, tendo tido tantas vantagens em adotar uma perspectiva multipolar que sempre foi a prática da diplomacia brasileira.”

Haddad está em Nova York para lançar, neste sábado (1º), a chamada Internacional Progressista, uma aliança que terá o ex-prefeito, mas também o senador democrata Bernie Sanders e o ex-ministro das Finanças grego Yanis Varoufakis.

O objetivo declarado é conter o avanço de governos de extrema-direita no mundo.

O ex-ministro da Fazenda afirmou que não é mais possível fazer política apenas localmente.

“O que está acontecendo no mundo tem algo por trás que não conhecemos inteiramente, mas que, podemos imaginar, está alterando a face do planeta numa direção perigosa, contra direitos que foram, com tropeços, idas e vindas, de uma história de 200 anos de ampliação dos horizontes”, disse.

“Essas questões não vão ser resolvidas se não tivermos uma atuação em nível internacional.

Haddad falou ainda sobre a cobrança de uma autocrítica do PT.

“É engraçado, porque às vezes a imprensa insiste muito nessa questão da autocrítica. Nunca cobraram autocrítica nem da ditadura militar nem dos governos anteriores, só do governo do PT”, disse.

“Mas isso não é motivo para que nós não apontemos as nossas falhas. E eu tenho feito isso em todas as oportunidades, mas sem demonizar a esquerda como a direita gostaria que nós fizéssemos.”

Haddad falou ainda sobre o risco à democracia no país. Segundo ele, isso decorre do crescimento do autoritarismo dentro das instituições democráticas. “O golpe está acontecendo de dentro para fora. A democracia está sendo corroída por dentro das instituições”, diz.

Sem querer citar o ex-juiz Sérgio Moro, ele disse ser estranho deixar de ser um magistrado “num governo que ele ajudou a construir.” “Mas isso não causa comoção no Brasil de hoje.”

O Fórum que abrigou o evento se define como um movimento incubador para a classe trabalhadora e comunidades marginalizadas com o objetivo de construir unidade em um cenário de divisão nos EUA e no exterior.

Antes de apresentar o ex-prefeito, Manolo de Los Santos, diretor executivo do Fórum, gritou “Lula Livre” e afirmou que “perdemos as eleições”, mas não “somos um povo derrotado.”

Afirmou ainda que o grupo era anti-imperalismo e anticapitalismo, além de apoiar o MST, o PT e as forças da resistência que estão “lutando pela democracia no país”. “Esse é um espaço em que Haddad é nosso presidente”, afirmou.

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