Descrição de chapéu The Washington Post

CIA conecta príncipe herdeiro saudita à morte de jornalista Khashoggi

Irmão do príncipe teria dito ao jornalista que era seguro ir ao consulado

Washington | Washington Post

A CIA, agência de inteligência americana, concluiu que o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, ordenou o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, ocorrido no mês passado, no consulado saudita em Istambul, na Turquia. 

A monarquia saudita alega que o príncipe não teve nenhuma relação com o crime.

Nas últimas semanas, os sauditas ofereceram múltiplas e contraditórias explicações para o que aconteceu no consulado. Nesta quinta (15), o procurador-geral da Arábia Saudita culpou pelo assassinato um grupo de agentes enviados a Istambul para repatriar Khashoggi

Muçulmanos oram pelo jornalista Jamaal Khashoggi na Grande Mesquita de Meca, local mais sagrado da religião  - Amer Hilabi/AFP

A operação teria saído do controle quando o jornalista foi amarrado e recebeu uma injeção com grande quantidade de uma droga que lhe causou overdose e sua posterior morte. 

O procurador acusou 11 suspeitos pelo crime e pediu a pena de morte para cinco deles.

A avaliação da CIA é a prova mais direta da ligação de Mohammed com a operação e complica os esforços do governo de Donald Trump de preservar sua relação com o reinado, importante parceiro econômico e aliado na região.

Uma equipe de 15 agentes sauditas chegou em Istambul em uma aeronave do governo e matou Khashoggi, crítico da monarquia do país e colaborador do Washington Post, no consulado. O jornalista estava ali para pegar documentos necessários para seu casamento com uma mulher turca. 

Segundo a Procuradoria-geral saudita, seu corpo foi esquartejado e retirado do edifício. Não se sabe onde estão seus restos mortais.

A agência americana analisou múltiplas fontes de informações sobre o caso, incluindo um telefonema que o irmão do príncipe Khalid bin Salman, embaixador saudita nos EUA, fez para Khashoggi, segundo fontes que tiveram acesso ao relato da CIA. 

Khalid disse ao jornalista que ele deveria ir ao consulado em Istambul para pegar documentos e deu a ele garantias de que estaria seguro. 

Não está claro se Khalid sabia que Khashoggi seria morto, mas ele fez a ligação, interceptada pela inteligência americana, a pedido de seu irmão.

Fatimah Baeshen, porta-voz da Embaixada Saudita em Washington, disse que o embaixador e Khashoggi nunca discutiram nada relacionado a sua ida à Turquia. Ela disse ainda que as conclusões da CIA são falsas. “Nós ouvimos diversas teorias sem ver até agora nenhuma base para estas especulações.”

A conclusão da CIA foi baseada ainda na avaliação da própria agência de que o príncipe herdeiro é o comandante real do país e controla cada aspecto, por menor que seja, do reinado saudita.

“Não há como isso ter acontecido sem ele estar consciente ou envolvido”, disse uma autoridade americana com conhecimento do relatório.

Mohammed é visto pela agência como um bom tecnocrata, mas também volátil e arrogante. “Alguém que não entende que há certas coisas que você não pode fazer.”

Os analistas da CIA acreditam que seu posto no reinado saudita não será ameaçado pelo caso Khashoggi. “Ele deve sobreviver”, disse a autoridade americana.

Um porta-voz da CIA não quis comentar o caso.

O assassinato de Khashoggi causou uma crise diplomática para a Casa Branca e levantou questões sobre a confiança do governo americano na Arábia Saudita como um aliado importante no Oriente Médio e baluarte contra o Irã.

Trump evitou relacionar Mohammed ao crime. O príncipe herdeiro mantém relação próxima com Jared Kushner, genro e conselheiro do presidente americano. 
 

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