EUA anunciam sanções a 17 sauditas por morte do jornalista Khashoggi

Foi a primeira reação concreta do governo Trump à morte do jornalista

Washington | Reuters

O Departamento do Tesouro dos EUA impôs sanções a 17 sauditas nesta quinta-feira (15) por seu papel no assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, no mês passado, no Consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia.

Esta foi a primeira reação concreta do governo de Donald Trump à morte do jornalista. Segundo a Procuradoria-geral saudita, Khashoggi, crítico da monarquia do país e colaborador do Washington Post, foi morto com uma injeção letal no consulado do país em Istambul em 2 de outubro após uma luta. Seu corpo foi esquartejado e retirado do edifício.  

Entre os sancionados estão Saud al-Qahtani, que foi demovido do cargo de assessor do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman; Mohammed Alotaibi, cônsul geral do país; e membros de uma equipe de 15 pessoas identificadas pela Turquia como parte do esquema de assassinato de Khashoggi.

Manifestante segura foto do jornalista Jamal Khashoggi em vigília do lado de fora do Consulado da Arábia Saudita em Istambul, na Turquia, em outubro - Lefteris Pitarakis-25.out.2018/AP

A lista não inclui quatro membros da equipe de inteligência saudita demitidos no mês passado pelo envolvimento com o crime: os generais Ahmed Asiri, Rashad bin Hamed al-Hamadi, Abdullah bin Khaleef al-Shaya, Mohammed Saleh al-Ramih.

O anúncio é uma medida pouco comum de Washington, que raramente impõe sanções a sauditas. O governo americano não adotou a medida nem ao menos após os ataques de 11 de Setembro, em que 15 dos 19 terroristas que sequestraram os aviões usados nos atentados eram do reino árabe.

A punição foi implementada sob a Lei de Responsabilidade Global de Direitos Humanos Magnitsky, que mira violações dos direitos humanos e corrupção. Os sauditas inclusos nas sanções passam a ter acesso limitado ao sistema financeiro americano e seus bens são congelados.

"Estes indivíduos que mataram brutalmente um jornalista que morava e trabalhava nos Estados Unidos precisavm encarar as consequências de suas ações", disse o secretário do Tesouro, Steve Mnuchin, em comunicado. 

"O governo da Arábia Saudita precisa tomar ações apropriadas para acabar com os ataques a dissidentes políticos ou jornalistas."

As restrições impostas pelos EUA, contudo, não atingem o governo de Riad, importante aliado econômico americano. A preocupação do governo Trump é não colocar em risco o lucrativo acordo de venda de armas que os EUA mantém com a Arábia Saudita.

O presidente dos EUA saiu, inclusive, em defesa do governo de Riad nas semanas seguintes ao desaparecimento do jornalista, quando sua morte ainda não era confirmada. 

O secretário de Estado, Mike Pompeo, classificou o anúncio das sanções como um passo importante em resposta à morte de Khashoggi e disse que seu departamento continuaria a buscar os fatos por trás do crime e a trabalhar com outros países para levar à Justiça os envolvidos.

As sanções foram anunciadas horas depois da procuradoria-geral da Arábia Saudita pedir a pena de morte para cinco dos 11 suspeitos acusados.

O porta-voz, o vice-procurador-geral Shaalan al-Shaalan, disse a repórteres que Khashoggi foi morto depois que "negociações" para sua volta ao reino fracassaram. 

Segundo ele, o subdiretor de serviços de inteligência do país, general Ahmed al Asiri, ordenou que trouxeram Khashoggi "por bem ou por mal", e o chefe da equipe de "negociadores" enviados a Istambul para repatriá-lo ordenou sua morte.

Em resposta à pergunta de um jornalista, o vice-procurador afirmou que o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, conhecido como MbS, não estava ciente do caso

Segundo ele, o paradeiro do corpo de Khashoggi continua desconhecido.

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