EUA e Otan condenam Rússia e pedem que navios ucranianos sejam libertados

Captura de embarcações elevou tensão na região da Crimeia; ONU se reuniu para tratar do assunto

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Bruxelas, Kiev e Moscou | Reuters, AFP e Associated Press

Os Estados Unidos e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) condenaram nesta segunda-feira (26) a captura pela Rússia de três navios da Ucrânia, criticando o que chamaram de violação da soberania ucraniana e pedindo a libertação das embarcações e de suas tripulações.

No domingo (25), dois navios pequenos de guerra e um rebocador ucranianos foram detidos por guardas de fronteira russos quando tentavam entrar no mar de Azov pelo estreito de Kerch —território compartilhado entre os dois países.  

Moscou, que acusa as embarcações de terem entrado ilegalmente nas águas territoriais russas da Crimeia anexada, abriu fogo contra os navios e feriu alguns tripulantes. Kiev, por sua vez, diz que as embarcações avisaram que passariam pelo local e acusa a Rússia de agressão militar.

Navios militares ucranianos capturados pela Rússia no porto de Kerch, na Crimeia
Navios militares ucranianos capturados pela Rússia no porto de Kerch, na Crimeia - STR/AFP

"O que vimos ontem foi muito sério”, disse Jens Stoltenberg, secretário-geral da Otan, após uma reunião de emergência da aliança militar ocidental sobre o tema. "Todos os aliados expressam total suporte à integridade territorial e à soberania da Ucrânia”, afirmou.

Segundo ele, a Rússia “tem que entender que suas ações têm consequências”. “Não há justificativa para o uso de força militar contra os navios ucranianos e os funcionários navais, então pedimos que a Rússia liberte imediatamente os marinheiros ucranianos detidos ontem”.

O Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) também se reuniu nesta segunda-feira para abordar o assunto.

Após o encontro, a embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Nikki Haley, alertou a Rússia que sua captura dos navios foi uma “violação ultrajante da soberania do território ucraniano” e "um ato arrogante que a comunidade internacional precisa condenar.”

Haley disse que conversou com o presidente President Donald Trump e com o secretário de estado Mike Pompeo e que seu comunicado "reflete as preocupações do mais alto nível".

"Como disse o presidente Trump várias vezes, os EUA quer manter uma relação normal com a Rússia. Mas ações irregulares como essa continuam a tornar isso impossível", disse ela.

A embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley, durante reunião sobre a tensão entre Rússia e Ucrânia
A embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley, durante reunião sobre a tensão entre Rússia e Ucrânia - Don Emmert/AFP

Moscou tem ignorado os pedidos de países ocidentais para libertar os três navios e sua tripulação. Segundo a agência de notícias Interfax, 24 marinheiros ucranianos estão detidos, dos quais três se feriram, mas sem gravidade.

O presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, declarou lei marcial no país à raiz dos acontecimentos e aguarda o Parlamento aprovar a proposta. Em um pronunciamento na TV, ele disse que a medida começa na quarta-feira (28) e durará 30 dias.

Segundo ele, a mudança não inclui restrições a direitos dos cidadãos nem adiar eleições previstas para o próximo ano.

Em um telefonema a Poroshenko, a chanceler alemã, Angela Merkel, demonstrou preocupação em relação a um confronto armado entre os dois países disse que “fará de tudo” para desescalar a tensão entre os dois lados.

A primeira-ministra britânica, Theresa May, condenou o “ato de agressão” de Moscou e afirmou que o incidente é “mais uma evidência do comportamento desestabilizador da Rússia na região”.

"A posição do Reino Unido é clara, navios devem ter passagem livre até os portos da Ucrânia no mar de Azov”, disse May, pedindo enfaticamente que os dois lados ajam com cautela.  

A Rússia se defendeu nesta segunda-feira por meio do porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, que disse que os guardas de fronteira que capturaram os navios agiram "em estrita conformidade com a lei internacional".

Ele declarou a jornalistas que ocorreu uma "invasão de navios de guerra estrangeiros nas águas territoriais da Federação Russa". "E esses navios de guerra estrangeiros entraram nas águas da Rússia sem responder a qualquer alerta de nossos guardas de fronteira", continuou o porta-voz do Kremlin.

Segundo Peskov, Vladimir Putin foi informado no domingo do incidente e do "movimento desses navios".

Para um jornalista ucraniano que perguntou se foi o presidente russo quem ordenou o ataque, o porta-voz respondeu que "não chamaria isso de ataque, mas sim uma ação necessária para a preservação das fronteiras da Rússia".

"Uma investigação criminal foi aberta pela violação da fronteira russa", continuou ele, sem falar dos marinheiros ucranianos capturados.

A passagem pelo estreito de Kerch, que separa a Crimeia da Rússia continental, foi fechada no domingo e liberada na segunda.

Com as relações ainda difíceis após a anexação da península da Crimeia pela Rússia em 2014, a crise entre os dois países pode levar a um conflito mais amplo.

As tensões no estreito de Kerch aumentaram nas últimas semanas. Após a Ucrânia deter um navio de pesca que tinha saído da Crimeia em março, a Rússia aumentou sua presença militar na área e começou a inspecionar todas as embarcações com origem ou destino em portos ucranianos, causando atrasos de dias e atrapalhando o comércio.

A Ucrânia protestou, chamando essas inspeções de “bloqueio econômico”. No início deste mês, a União Europeia já havia manifestado preocupação com o tema.

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