Ex-presidente do Equador diz ser perseguido político e se compara a Lula

Acusado de participar de sequestro, Rafael Correa foi intimado pela Suprema Corte a voltar ao país

Ottignies-Louvain-la Neuve, Bélgica | AFP

O ex-presidente do Equador, Rafael Correa, disse nesta quinta-feira (8) ser vítima de "perseguição política" por ter sido convocado a comparecer a um julgamento que decidirá sobre sua culpa em um caso de sequestro. 

Correa é suspeito de ser o mentor do rapto do ex-deputado opositor Fernando Balda, em 2012 na Colômbia. Ele diz ser inocente e acusa seu vice-presidente e atual líder do Equador, Lenín Moreno, de criar um complô para prejudicá-lo.

Rafael Correa, ex-presidente do Equador, durante entrevista na Bélgica - Emmanuel Dunand/AFP

"Como não podem nos vencer nas urnas, procuram nos derrotar com essas desculpas tremendamente graves. É uma perseguição política", disse Correa em entrevista para a AFP realizada na Bélgica, onde reside com a família desde sua saída do poder.

Para o ex-mandatário, as ações contra ele fazem parte de uma estratégia regional baseada em uma "perseguição judicial terrível, o famoso lawfare (guerra jurídica), por parte das elites locais conectadas com os países hegemônicos. Veja o que aconteceu com [Luiz Inácio] Lula e o mundo não reage", comentou, sobre a prisão do ex-presidente brasileiro, condenado e preso por corrupção e lavagem de dinheiro.

 

O ex-presidente, que chefiou o Equador entre 2007 e 2017, teve sua prisão decretada em julho deste ano. Na quarta-feira (7), a Suprema Corte do Equador o intimou a comparecer para o julgamento do caso. Foi assinada uma ordem que determina o congelamento de suas contas bancárias e a emissão de um mandado internacional de prisão.

De acordo com a lei equatoriana, ele só pode ser julgado se estiver presente no tribunal. Caso condenado, a pena pode chegar a sete anos de prisão. Como Correa e outro acusado do crime estão foragidos, o julgamento foi suspenso até que os dois sejam capturados ou se apresentem. 

​"[A decisão] é uma fraude total. Pretendem com isso me manterem exilado por sete, oito anos, até que prescreva, e me deixarem de fora do país na próxima campanha [eleitoral], em março de 2019", considera.

Ele descarta a possibilidade de comparecer. "Seria regressar para que me massacrem com a injustiça que vive o país. O Equador vive um golpe de Estado. Não temos corte constitucional, a destituíram", disse.

O advogado de Correa negou que ele tenha pedido asilo à Bélgica, país que ganhou reputação de ser relutante à extradição de pessoas que alegam perseguição política. Foi a razão pela qual o líder da Catalunha, Charles Puigdemont, fugiu para lá em 2017, quando a Espanha tentou prendê-lo após o governo regional organizar um referendo pela independência.

Correa, um político de esquerda, ganhou visibilidade internacional quando o Equador concedeu asilo ao fundador do WikiLeaks Julian Assange, que passou os últimos seis anos vivendo na embaixada do país em Londres após ser investigado por assédio sexual na Suécia.
 

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