Descrição de chapéu Governo Trump

Insistência de Trump em defender saudita gera críticas até de aliados

Presidente questiona apuração da CIA sobre envolvimento de príncipe em morte de jornalista

O presidente dos EUA, Donald Trump, fala com soldados em seu resort na Flórida - Eric Thayer/Reuters
Nova York

A relutância do presidente americano, Donald Trump, em aceitar a conclusão do relatório da CIA —agência de inteligência dos EUA— sobre a culpa do príncipe saudita Mohammed bin Salman na morte do jornalista Jamal Khashoggi transformou o republicano em alvo de críticas até da base aliada.

Trump falou novamente sobre o assunto nesta quinta-feira (22), em entrevista a repórteres na Flórida, onde passou o feriado de Ação de Graças. O presidente contestou a conclusão e afirmou que a agência tinha “impressões”, mas não havia chegado a uma resposta firme sobre a responsabilidade do príncipe.

“Ele nega veementemente”, afirmou Trump, em referência a Salman.

Khashoggi, crítico da monarquia da Arábia Saudita, foi morto em outubro dentro do consulado saudita em Istambul, na Turquia. Desde então, a Casa Branca tem resistido em aceitar a teoria de que o assassinato foi um pedido do príncipe.

O republicano afirmou que sua própria conclusão era de que “talvez ele tenha, talvez não tenha” ordenado a morte de Khashoggi —mesma expressão que usou na terça (20), quando questionou pela primeira vez a apuração da CIA.

“Odeio o crime, odeio o acobertamento. Eu vou dizer isso a vocês: o príncipe herdeiro odeia isso mais do que eu, e eles [as autoridades sauditas] negaram isso veementemente”, disse Trump nesta quinta.


Questionado sobre quem deveria ser responsabilizado pelo assassinato, ele não quis apontar culpados.

“Talvez o mundo tenha que ser considerado responsável, porque o mundo é um lugar muito, muito terrível”, afirmou.

O republicano sugeriu também que os aliados americanos deveriam ser considerados culpados de manter o mesmo comportamento, afirmando que se fosse exigido desses países o mesmo padrão reivindicado para a Arábia Saudita recentemente, os EUA não seriam “capazes de ter ninguém como aliado”.

A insistência do presidente em defender o saudita atraiu críticas dentro do próprio Partido Republicano. À CNN, o senador Bob Corker afirmou que autoridades do governo precisavam informar imediatamente os legisladores sobre a situação da Arábia Saudita.

Ele disse ainda que a forma como Trump conduziu o assunto “levou nossa nação a um nível muito baixo”.

O senador pelo Tennessee afirmou que o secretário de Defesa, Jim Mattis, a diretora da CIA, Gina Haspel, e o secretário de Estado, Mike Pompeo, precisam informar o Senado sobre as circunstâncias envolvendo o assassinato. 

“Em essência, o que o presidente está dizendo é que se você fizer elogios generosos a mim e gastar um monte de dinheiro em nosso país, nós vamos virar a cara para o lado no que disser respeito a você matando jornalistas ou fazendo outras coisas.”

Corker afirmou que o “posicionamento moral” do país foi contestado.

O senador republicano Lindsey Graham, da Carolina do Sul, também criticou o presidente. Em mensagens em uma rede social na terça, ele disse que uma coisa que aprendeu durante o governo de Barack Obama é que, quando você olha para o lado no que diz respeito aos problemas no Oriente Médio, raramente dá certo.

Retrato do príncipe Mohammed bin Salman (MBS) em Riad - Fayez Nureldine/AFP


Graham afirmou que Obama “escolheu olhar para o outro lado conforme o Irã tomou ações cada vez mais provocadoras”. A cada vez que fez isso, acrescentou, o democrata “levou a uma piora no comportamento iraniano e criou problemas maiores no futuro”.

“Do mesmo modo, não é do interesse da nossa segurança nacional olhar para o outro lado no que diz respeito ao assassinato brutal do sr. Jamal #Khashoggi”, escreveu.

Nesta quinta, um colunista do jornal turco Hürriyet Daily News afirmou que a CIA tinha em seu poder uma ligação em que o príncipe herdeiro daria a ordem para “silenciar Jamal Khashoggi assim que possível”.

O colunista afirmou que a diretora da CIA sinalizou durante viagem a Ancara em outubro a existência da gravação telefônica entre o príncipe herdeiro e seu irmão, Khaled bin Salman, embaixador saudita nos EUA.

O assassinato do jornalista saudita continua tendo repercussão internacional. Nesta quinta, a França impôs sanções a 18 cidadãos sauditas ligados ao crime. Na segunda (19), a Alemanha também baniu 18 sauditas e anunciou a suspensão da venda de armas ao país árabe, decisão acompanhada pela Dinamarca.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do afirmado, ​Lindsey Graham é um senador e não uma senadora. O texto foi corrigido.

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