A relutância do presidente americano, Donald Trump, em aceitar a conclusão do relatório da CIA —agência de inteligência dos EUA— sobre a culpa do príncipe saudita Mohammed bin Salman na morte do jornalista Jamal Khashoggi transformou o republicano em alvo de críticas até da base aliada.
Trump falou novamente sobre o assunto nesta quinta-feira (22), em entrevista a repórteres na Flórida, onde passou o feriado de Ação de Graças. O presidente contestou a conclusão e afirmou que a agência tinha “impressões”, mas não havia chegado a uma resposta firme sobre a responsabilidade do príncipe.
“Ele nega veementemente”, afirmou Trump, em referência a Salman.
Khashoggi, crítico da monarquia da Arábia Saudita, foi morto em outubro dentro do consulado saudita em Istambul, na Turquia. Desde então, a Casa Branca tem resistido em aceitar a teoria de que o assassinato foi um pedido do príncipe.
O republicano afirmou que sua própria conclusão era de que “talvez ele tenha, talvez não tenha” ordenado a morte de Khashoggi —mesma expressão que usou na terça (20), quando questionou pela primeira vez a apuração da CIA.
“Odeio o crime, odeio o acobertamento. Eu vou dizer isso a vocês: o príncipe herdeiro odeia isso mais do que eu, e eles [as autoridades sauditas] negaram isso veementemente”, disse Trump nesta quinta.
Questionado sobre quem deveria ser responsabilizado pelo assassinato, ele não quis apontar culpados.
“Talvez o mundo tenha que ser considerado responsável, porque o mundo é um lugar muito, muito terrível”, afirmou.
O republicano sugeriu também que os aliados americanos deveriam ser considerados culpados de manter o mesmo comportamento, afirmando que se fosse exigido desses países o mesmo padrão reivindicado para a Arábia Saudita recentemente, os EUA não seriam “capazes de ter ninguém como aliado”.
A insistência do presidente em defender o saudita atraiu críticas dentro do próprio Partido Republicano. À CNN, o senador Bob Corker afirmou que autoridades do governo precisavam informar imediatamente os legisladores sobre a situação da Arábia Saudita.
Ele disse ainda que a forma como Trump conduziu o assunto “levou nossa nação a um nível muito baixo”.
O senador pelo Tennessee afirmou que o secretário de Defesa, Jim Mattis, a diretora da CIA, Gina Haspel, e o secretário de Estado, Mike Pompeo, precisam informar o Senado sobre as circunstâncias envolvendo o assassinato.
“Em essência, o que o presidente está dizendo é que se você fizer elogios generosos a mim e gastar um monte de dinheiro em nosso país, nós vamos virar a cara para o lado no que disser respeito a você matando jornalistas ou fazendo outras coisas.”
Corker afirmou que o “posicionamento moral” do país foi contestado.
O senador republicano Lindsey Graham, da Carolina do Sul, também criticou o presidente. Em mensagens em uma rede social na terça, ele disse que uma coisa que aprendeu durante o governo de Barack Obama é que, quando você olha para o lado no que diz respeito aos problemas no Oriente Médio, raramente dá certo.
Graham afirmou que Obama “escolheu olhar para o outro lado conforme o Irã tomou ações cada vez mais provocadoras”. A cada vez que fez isso, acrescentou, o democrata “levou a uma piora no comportamento iraniano e criou problemas maiores no futuro”.
“Do mesmo modo, não é do interesse da nossa segurança nacional olhar para o outro lado no que diz respeito ao assassinato brutal do sr. Jamal #Khashoggi”, escreveu.
Nesta quinta, um colunista do jornal turco Hürriyet Daily News afirmou que a CIA tinha em seu poder uma ligação em que o príncipe herdeiro daria a ordem para “silenciar Jamal Khashoggi assim que possível”.
O colunista afirmou que a diretora da CIA sinalizou durante viagem a Ancara em outubro a existência da gravação telefônica entre o príncipe herdeiro e seu irmão, Khaled bin Salman, embaixador saudita nos EUA.
O assassinato do jornalista saudita continua tendo repercussão internacional. Nesta quinta, a França impôs sanções a 18 cidadãos sauditas ligados ao crime. Na segunda (19), a Alemanha também baniu 18 sauditas e anunciou a suspensão da venda de armas ao país árabe, decisão acompanhada pela Dinamarca.
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