Descrição de chapéu Governo Trump

Jornalista da CNN que entrou em embate com Trump tem credencial cassada

Em entrevista coletiva, presidente chamou Jim Acosta de 'rude' e 'pessoa terrível'

Momento em que uma auxiliar da Casa Branca tenta pegar o microfone de Jim Acosta enquanto ele debate com Donald Trump
Momento em que uma auxiliar da Casa Branca tenta pegar o microfone de Jim Acosta enquanto ele debate com Donald Trump - Jonathan Ernst - 7.nov.18/Reuters
Júlia Zaremba
Washington

O presidente americano, Donald Trump, decidiu suspender a credencial que dá acesso à Casa Branca do jornalista da CNN Jim Acosta após os dois se envolverem em um embate durante uma entrevista coletiva nesta quarta (7).

Na ocasião, o republicano chamou Acosta de "rude" e "pessoa terrível" após o jornalista ter insistido em perguntas sobre a caravana de imigrantes que se aproxima dos Estados Unidos.

O repórter se recusou a dar o microfone para uma auxiliar da Casa Branca quando Trump tentou cortá-lo.

A secretária de imprensa da Casa Branca, Sarah Sanders, acusou o repórter de ter empurrado a auxiliar nesse momento e disse que ele foi "completamente desrespeitoso" com os colegas que queriam fazer perguntas.

"O presidente Trump acredita em uma imprensa livre e espera e acolhe perguntas duras sobre ele e sua administração", afirmou, em comunicado. "Nós nunca iremos, no entanto, tolerar um repórter colocando as suas mãos em uma jovem mulher que só tentava fazer o seu trabalho como estagiária da Casa Branca."

Também criticou a CNN, dizendo que o fato de "estar orgulhosa da forma com que seu funcionário se comportou não é apenas repugnante, mas um exemplo do seu desprezo absurdo por todos, inclusive jovens mulheres que trabalham nessa administração."  

A emissora divulgou um comunicado afirmando que os ataques do presidente contra a imprensa foram "longe demais". "Eles não são apenas perigosos, eles são perturbadoramente anti-americanos", disse a nota.

Em uma rede social, Sanders compartilhou um vídeo para comprovar que Acosta tocou no braço da auxiliar enquanto a mulher tentava tirar o microfone de suas mãos.

Mas a gravação teria sido editada para que a reação do jornalista parecesse mais agressiva do que realmente foi. Usuários de uma rede social compartilharam publicações durante o dia comparando as imagens das câmeras que registraram a coletiva com o conteúdo que foi divulgado por Sanders.

A gravação compartilhada pela secretária de imprensa foi publicada originalmente pelo portal de notícias InfoWars, que promove teorias da conspiração e contéudo de extrema direita. 

Ao site BuzzFeed News, o editor do vídeo negou ter alterado as imagens para distorcer o que, de fato, ocorreu. Mas admitiu que, como a gravação foi feita a partir de um gif (um formato de imagem) publicado por outro veículo, na hora da conversão para outro formato, as imagens podem parecer "um pouquinho diferentes".

Colegas de Acosta saíram em sua defesa, tanto da CNN quanto de emissoras e jornais concorrentes. O jornalista agradeceu o apoio recebido. "Nós não vamos desistir", afirmou ele, que tem uma relação tensa com o presidente desde que ele assumiu o governo.

A associação que representa os jornalistas que cobrem a Casa Branca classificou a suspensão da credencial de "inaceitável". "Nós pedimos a Casa Branca para reverter imediatamente essa ação frágil e equivocada", afirmaram.

Já a ACLU (American Civil Liberties Union) afirmou que "é inaceitável e anti-americano" que um presidente expulse um repórter por fazer o seu trabalho e exigiu que a administração reverta a decisão imediatamente.

Durante a entrevista coletiva desta quarta, a primeira após as eleições legislativas, Trump afirmou que considerava a chegada de uma caravana de imigrantes da América Central uma invasão, mas que eles poderiam entrar desde que seguissem um processo legal.

​Acosta o questionou sobre o fato de chamá-los de invasores e também sobre um vídeo que o republicano divulgou na última semana no qual os imigrantes são pintados como criminosos e violentos.

O presidente disse que as cenas eram reais e que não foram protagonizadas por atores de Hollywood. "Deixe que eu administre o país e você administra a CNN. Chega", disse, enquanto a auxiliar tentava tirar o microfone do repórter.

Acosta não cedeu, tentou emendar com perguntas sobre as investigações contra a Rússia. Trump disse que ele não deveria trabalhar na CNN. "Quando você publica fake news, o que a CNN faz muito, você se torna inimigo do povo."

Trump disse ainda ao jornalista da NBC Peter Alexander, que saiu em defesa de Acosta, que "também não era um grande fã" dele. "Você não é melhor", disse o mandatário.

Já quando a repórter da American Urban Radio Networks April Ryan tentou dirigir uma pergunta ao republicano enquanto ele ainda respondia a um questionamento de outra pessoa, ele mandou que a mulher se sentasse.  "Eu não te chamei. Me dê licença, eu não estou respondendo para você", disse. "É uma imprensa tão hostil, tão triste".

O presidente também destilou sua fúria contra contra a repórter Yamiche Alcindor, da PBS NewsHour, classificando a sua pergunta sobre o apoio do partido republicano a nacionalistas brancos de "racista". A jornalista é negra. "Foi uma coisa muito terrível o que você disse", disse ele.

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