Julian Assange está sendo processado pelos EUA em segredo, diz Wikileaks

Fundador do site que vazou documentos secretos vive exilado em embaixada em Londres e teme extradição

Washington | AFP

Um erro ao copiar e colar um arquivo de uma ação judicial indica que Julian Assange, fundador do site Wikileaks, pode estar sendo processado de forma secreta nos Estados Unidos. 

Assange e o Wikileaks foram responsáveis por um enorme vazamento de documentos confidenciais do governo dos EUA em 2010. Em 2012, Assange se refugiou na embaixada do Equador em Londres.

Julian Assange durante discurso que fez na varanda da embaixada do Equador em Londres, em 2017
Julian Assange durante discurso que fez na varanda da embaixada do Equador em Londres, em 2017 - Justin Tallis - 19.mai.2017/AFP

"O Departamento de Justiça 'acidentalmente' revelou a existência de acusações confidenciais (ou um rascunho para elas) contra o editor do WikiLeaks Julian Assange, em um aparente erro de 'copiar e colar' em um caso não relacionado", escreveu o WikiLeaks no Twitter.

As acusações contra Assange, 47, foram reveladas pela promotora Kellen Dwyer no momento em que arquivava um caso separado e pedia a um juiz para manter o arquivo como confidencial. Mas, por erro, a promotora mencionou Assange ao invés do arquivo em questão, provavelmente ao "colar" o parágrafo de outro.

Ela escreveu que "devido à sofisticação do acusado e da publicidade ao redor do caso, é improvável que outro procedimento possa manter confidencial o fato de que Assange foi acusado", informou o jornal The Washington Post.

Em seguida, Dwyer escreveu que o indiciamento deve "permanecer confidencial até que Assange seja preso".

O Departamento de Justiça não confirmou a revelação, trazida à tona na quinta-feira (15) por Seamus Hughes, um especialista em terrorismo da Universidade George Washington, e depois publicada pelo WikiLeaks.

A natureza das acusações contra Assange não foi divulgada, mas poderia ter implicações na investigação comandada pelo procurador Robert Mueller sobre um suposto conluio da campanha presidencial de Donald Trump de 2016 com a Rússia, e que também apura se o atual presidente obstruiu a Justiça na investigação.

Em julho, Mueller acusou 12 espiões russos de conspiração ao hackear os computadores do Comitê Nacional Democrata, assim como por roubo de informação e publicação dos arquivos com o objetivo de distorcer o resultado da votação.

Uma das acusações faz referência ao WikiLeaks, descrito como "Organização 1" e plataforma usada pelos russos para divulgar os e-mails roubados.

Assange vive desde 2012 na embaixada do Equador em Londres, onde buscou refúgio ante o temor de uma extradição aos Estados Unidos pela divulgação, em 2010, de milhares de documentos confidenciais americanos.

O fundador do WikiLeaks procurou asilo depois que um juiz britânico decidiu a favor de sua extradição à Suécia, onde Assange enfrentava acusações de estupro, depois arquivadas.

Ele considerava a extradição uma desculpa para ser levado para os Estados Unidos.

Londres afirma agora que ele deve enfrentar a Justiça por não cumprir as regras da liberdade condicional ao buscar refúgio na representação equatoriana, mas Assange teme que a situação termine com sua extradição aos Estados Unidos.

Barry J. Pollack, um dos advogados de Assange, disse que "a única coisa mais irresponsável do que acusar uma pessoa por publicar informação verídica seria ventilar, em um caso público, informação que claramente não era destinada ao público, e sem nenhuma notificação ao sr. Assange".

"Uma investigação criminal contra o WikiLeaks cria um precedente perigoso para todos os meios (...) Todos devem se preocupar com o significado desse possível indiciamento", disse a sua advogada Jennifer Robinson ao programa Democracy Now.   

"Qualquer acusação a Assange pelas atividades de publicação do WikiLeaks não teria precedentes e seria inconstitucional, e abriria a porta para que outros meios de comunicação sejam investigados criminalmente", disse Ben Wizner, do maior grupo de direitos humanos dos Estados Unidos, a ACLU.

Seria "profundamente preocupante se o governo Trump, que mostrou pouco respeito pela liberdade de imprensa, indiciasse Assange por receber informação sigilosa de um funcionário e publicá-la, exatamente o que os jornalistas fazem o tempo todo", disse o diretor da Human Rights Watch (Observatório de Direitos Humanos), Kenneth Roth.

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