Oferendas pouco nutritivas causam epidemia de obesidade em monges tailandeses

Tigelas de arroz deram lugar a batata frita e bebidas energéticas

Joe Freeman Anusak Konglang
Bancoc | AFP

Os monges budistas tailandeses recebem diariamente milhares de oferendas na forma de bebidas açucaradas ou doces industriais. O costume está provocando uma onda de obesidade entre os religiosos.

"Antes de vir para cá e fazer dieta, mal conseguia andar cem metros sem me cansar", diz o monge Pipit Sarakitwinon, que chegou a pesar 180 quilos.

Ele procurou um hospital especializado no tratamento de monges para um checkup e, sob dieta desde o início do ano, chegou aos 150 quilos.

A Tailândia tem forte tradição budista entre seus 70 milhões de habitantes. Há pelos menos 300 mil monges no país.

Devota entrega oferendas a monges budistas em Bancoc, na Tailândia - Romeo Gacad-23.out.2018/AFP

A tradição de fazer oferendas aos monges para atrair a boa sorte está profundamente enraizada na Tailândia e também em Mianmar e no Camboja, onde as estátuas representam o Buda bem rechonchudo.

O problema é que a clássica tigela de arroz foi transformada em cestas cheias de comida calórica e pouco nutritiva, como batata frita e bebidas energéticas. Nos supermercados, há prateleiras inteiras dedicadas a estas ofertas, com os alimentos já prontos para entregar em cestas amarelas.

"Se eles comem nossa comida e estão satisfeitos, acreditamos que a comida e a felicidade serão passadas para o nosso ente querido já falecido", explica Prachaksvich Lebnak, do Ministério da Saúde. "Alguns até oferecem cigarros", acrescenta.

O efeito das oferendas muito calóricas, repletas de açúcar ou sal, pode ser visto no aumento no número de casos de diabetes e hipertensão entre o clero budista tailandês. Um estudo realizado neste ano no nordeste da Tailândia analisou a saúde de 3.500 monges e concluiu que 15% deles sofrem de obesidade.

O principal inimigo são as bebidas açucaradas, as quais os monges consomem em grandes quantidades já que não podem comer alimentos sólidos depois do meio-dia.

O Ministério da Saúde tenta conscientizar os monges sobre a importância de uma dieta mais saudável. Em um hospital de Bancoc voltado para monges, um grande cartaz na entrada diz: "a água é a melhor bebida". "Devem consumir menos de seis colheres de açúcar por dia", afirma outro cartaz, que mostra uma lista de bebidas açucaradas mais vendidas e o correspondente em açúcar contido nelas.

Em dezembro de 2017, a junta militar no poder na Tailândia publicou uma “carta da saúde” para os monges, incentivando-os a cuidarem de si mesmos. Aulas sobre dieta alimentar foram organizadas, mesmo em mosteiros em áreas rurais, para tentar mudar seus hábitos.

Uma das dificuldades é que os monges são obrigados a aceitar todas as ofertas porque, "de acordo com os ensinamentos de Buda, é preciso aceitar tudo o que é oferecido", recorda Phra Rajvoramuni, um monge que participou da redação da carta.

Além disso, na Tailândia, os monges não devem praticar esportes. Para aliviar o impacto do veto, Phra Rajvoramun propõe exercícios como "caminhar meditativamente, limpar o templo pela manhã, varrendo de maneira dinâmica".

Pipit seguiu os conselhos. Caminha mais e tenta comer menos. "Agora presto mais atenção no tipo de comida que me oferecem", diz.

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