Opção de 'brexit' sem acordo pode causar retração de 7,7% no PIB britânico em 15 anos

Estimativas mostram que saída da UE prejudica economia em qualquer cenário

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São Paulo

O governo britânico divulgou nesta quarta-feira (28) uma análise que mostra retração na economia do país em 15 anos sob qualquer cenário do "brexit", a saída do Reino Unido do bloco europeu. A situação, contudo, seria pior se os britânicos preferirem uma saída sem acordo.

Os dados apontam que, se o acordo base aprovado pela premiê, Theresa May, e pelo bloco europeu for  implementado, a economia britânica ficará 2,1% menor do que seria se o país permanecesse na União Europeia.

A previsão considera que o acordo não muda as regras de imigração, mas impõe até 50% mais barreiras comerciais não tarifárias. 

Já se o acordo, que enfrenta resistência no Parlamento britânico, não for aprovado e o país deixar o bloco sem esses parâmetros, a previsão é de uma retração de 7,7% no PIB britânico no mesmo período.

Imagem retirada de vídeo mostra a premiê britânica, Theresa May, em sessão semanal de questionamento no Parlamento britânico - AFP

O governo britânico desenhou diversos cenários para contabilizar todas as variáveis. No pior deles, em caso de não haver um acordo, o PIB britânico recuaria 10,7% em 15 anos, sob impacto dos obstáculos ao fluxo de pessoas e mercadorias entre o Reino Unido e o bloco europeu. 

No melhor deles, que tem como base o acordo de Chequers (nome da residência de campo do governo), que originou a base para o documento aprovado pela UE, o encolhimento da economia do país seria de 0,6% até 2035 e 2036.

Outra possibilidade analisada foi a proposta da Noruega, cenário defendido por parte da oposição em que o Reino Unido, como o vizinho europeu, seria incluído na Aérea Econômica Europeia e seguiria como integrante do mercado único europeu (o mais perto que um país pode chegar da UE sem ser efetivamente um membro do bloco). Neste caso, a economia britânica perderia 1,4% no período.

Já o acordo ao estilo canadense, apoiado pelo ex-chanceler britânico Boris Johnson e pelo ex-secretário responsável pelo "brexit" David Davis, levaria o PIB do Reino Unido a encolher 4,9%, aponta o jornal The Guardian. Neste cenário, entre outros itens, quase todos os tributos de importação entre os países seriam retirados e haveria estímulo para contratação de empresas dos países parcerios em contratos públicos locais.  

Todos os cenários têm como base a premissa de que as regras de imigração da União Europeia não serão alteradas. Caso o trânsito de britânicos pelo bloco seja dificultado gravemente, o impacto negativo no PIB pode chegara a 1,8% em 2035/2036. 

Davis criticou o relatório do Tesouro como ferramenta de propaganda do governo May para tentar conquistar apoio ao acordo através do medo. "As previsões do Tesouro quase nunca acertaram no passado e frequentemente estiveram drasticamente erradas", disse o ex-secretário, citado pelo Guardian.

Ele cita como exemplo a previsão de que a economia britânica se contrairia 2,1% nos 18 meses após o referendo que aprovou a saída do bloco europeu. Na realidade, a economia cresceu 2,8% no período.

A premiê May defendeu o estudo e disse ser evidência de que o acordo negociado por ela com Bruxelas é a melhor forma de garantir o cumprimento do referendo de 2016 que aprovou o "brexit" e proteger a economia. 

"O que a análise mostra é que este acordo que nós negociamos é o melhor acordo para nossos empregos e nossa economia", disse a premiê ao Parlamento.

As estimativas do Tesouro britânico apontam ainda que, caso não haja acordo, o nordeste da Inglaterra será o mais afetado, e Londres, o menos.

Já no melhor cenário, Londres e o sudeste da Inglaterra sofreriam a maior parte dos efeitos. Escócia e a Irlanda do Norte sentiriam menos a contração.

O documento, aprovado no domingo passado (25) pelos líderes europeus, precisa passar pelo Parlamento britânico, em votação prevista para a segunda semana de dezembro.

Esse, contudo, tem se mostrado o passo mais difícil da jornada para sair do bloco europeu. Pelo menos 80 membros de seu Partido Conservador já anunciaram que se opõem ao acordo, o que torna altamente improvável sua ratificação –o governo precisa de 320 votos favoráveis, e os correligionários de May são 315.

Uma ala mais radical da legenda inclusive tentou articular um movimento pela destituição da primeira-ministra, até aqui sem sucesso.

Reuters

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