A quantidade de fake news e material de ódio distribuída nas redes sociais sobre assuntos políticos está crescendo nos EUA e já é maior hoje do que era em 2016 durante a eleição de Donald Trump, mostra um estudo da Universidade de Oxford.
O levantamento, divulgado na quinta (1º), analisou o material compartilhado no último mês no Twitter e no Facebook relacionado à eleição americana, que ocorre na próxima terça-feira (6), quando os democratas tentarão tirar dos republicanos o controle da Câmara e do Senado.
Os pesquisadores concluíram que os esforços prometidos pelas duas empresas para combater a disseminação desse tipo de material nas redes não surtiu o efeito esperado."
Assim, o número de notícias falsas ou não confiáveis distribuídos no atual ciclo eleitoral americano já superou o de 2016, quando o assunto ganhou destaque.
"As plataformas tomaram medidas, mas enquanto pessoas continuarem a divulgar desinformação, o problema vai continuar", disse Nahema Marchal, doutoranda do Instituto de Internet de Oxford e uma das autoras do estudo.
Ela e três colegas se debruçaram sobre as "junk news" (notícias lixo), uma classificação que engloba não apenas conteúdo falso, mas que também inclui teorias da conspiração e material ofensivo.
Ao todo o grupo analisou 2,5 milhões de tuítes e encontrou as contas que mais espalharam esse tipo de notícia. Com isso em mãos, os pesquisadores buscaram os perfis de Facebook ligadas a estes sites —7.000 páginas da plataforma foram observadas.
A equipe de Oxford criou um site que mostra em tempo real o material que está sendo divulgado por essas páginas.
É possível encontrar, por exemplo, um artigo que acusa o ex-presidente Barack Obama de financiar organizações terroristas. Outro diz que um imigrante da caravana de centro-americanos que se dirige aos EUA tentou derrubar um helicóptero a pedradas no México.
Para os pesquisadores, a distribuição de fake news antes era restrita a perfis ligados a ação da Rússia ou às franjas do espectro político, em especial a sites de extrema-direita. Em 2018, porém, o modelo se disseminou entre grupos mais moderados, em especial do lado conservador.
As páginas no Facebook foram agrupadas conforme sua posição política e receberam uma avaliação que varia de 0 (nenhuma interação com "junk news") a 100 (só interage com esse tipo de material).
Os perfis da extrema-direita receberam a maior nota, 89, enquanto o grupo da direita tradicional, que inclui o Partido Republicano, recebeu 83.
Já as páginas ligadas a causas progressistas, como o feminismo e o direito ao aborto, receberam 46. E a esquerda institucional, de oposição a Trump, recebeu 24, nota mais alta apenas do que o 20 recebido pelos sites jornalísticos.
"A raiva e a emoção se disseminam mais rápido que a informação nas redes sociais", disse Marchal.
O aumento da distribuição de "junk news" se refletiu também na proporção em que esse tipo de material pode ser encontrado no Twitter.
Em 2016, 20% das notícias foram classificadas dessa forma, número que agora subiu para 25%, contra 19% das notícias feitas pelo jornalismo profissional e 5% de fontes oficiais, como partidos políticos, governos e universidades.
Nunca os pesquisadores de Oxford tinham encontrado um número tão alto de "junk news" nos países pesquisados —o que inclui a eleição presidencial brasileira e outros cinco pleitos, entre eles os de Alemanha e México.
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