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Apesar de 'brexit', Reino Unido não quer se afastar muito da Europa

Próximo passo da separação depende de aprovação do Parlamento britânico

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Bruno Theodoro Luciano

No último dia 25 líderes europeus concordaram com o acordo assinado entre o Reino Unido e Bruxelas para a saída britânica da União Europeia ("brexit").

O acordo se divide em dois documentos, um que de fato diz respeito aos termos da saída dos britânicos da UE e um segundo que trata do relacionamento futuro entre os dois lados após o "brexit".

Entre os principais pontos definidos estão a saída do Reino Unido das instituições europeias (Comissão, Parlamento e Corte de Justiça, entre outras agências europeias), o pagamento das obrigações britânicas à União Europeia –estimado em 39 bilhões de libras R$ 189 bilhões)– a garantia de residência e direitos dos cidadãos europeus no Reino Unido e britânicos na União Europeia até a efetiva saída do Reino Unido e o estabelecimento de um período de transição que vai de março de 2019 a dezembro de 2020.

Manifestantes pró-União Europeia (esq.) e a favor do "brexit" protestam na frente do Parlamento britânico
Manifestantes pró-União Europeia (esq.) e a favor do "brexit" protestam na frente do Parlamento britânico - Daniel Leal-Olivas/AFP

Alguns temas centrais como o futuro da fronteira entre Irlanda e Irlanda do Norte e a situação do estreito de Gibraltar (enclave britânico ao sul da Espanha) não foram tratados de forma definitiva, o que já tem gerado forte resistência de setores europeus e britânicos ao acordo negociado pela primeira-ministra Theresa May.

O próximo passo do "brexit" será a votação do acordo no Parlamento britânico, que deve ser realizada em meados de dezembro.

May vai enfrentar fortes obstáculos tanto do lado dos partidos da oposição –especialmente dos trabalhistas, liberais e nacionalistas escoceses– quanto de seus próprios correligionários, já que alguns ardentes defensores do "brexit" do partido conservador não estão satisfeitos com os termos do acordo, considerados muito mais favoráveis aos europeus do que aos britânicos.

Há alguns parlamentares que ainda apostam em um segundo referendo, no qual seria feita uma nova consulta à população, agora sobre os termos do acordo negociado pela primeira-ministra.

Se o acordo for rejeitado pelo Parlamento, tanto o segundo referendo quanto sair da UE sem nenhum acordo (no-deal) seriam cenários possíveis para o Reino Unido no próximo ano. Isso geraria grandes incertezas para os próximos anos, impactando fortemente a economia britânica e os investimentos estrangeiros nesse país.

Caso aprovado pelo Parlamento britânico, o "brexit" daria ao Reino Unido grande autonomia para buscar acordos comerciais ao redor do mundo, com países como Estados Unidos, China e Brasil/Mercosul.

Todavia, os discursos protecionistas de Donald Trump e o difícil relacionamento dos britânicos com a Argentina por conta das ilhas Malvinas/Falklands indicam que esses acordos não devem sair facilmente, como propagam os defensores do "brexit".

A conclusão do "brexit", no entanto, não deve significar uma total ruptura de laços com os europeus. Grande parte das regras e leis entre o Reino Unido e a União Europeia já são compartilhadas e devem assim se manter para os próximos anos.

Além disso, a declaração política sobre o futuro da relação Reino Unido-União Europeia demonstra que o Reino Unido está especialmente interessado em não se afastar dos europeus em temas de defesa e combate ao terrorismo, no qual cada vez mais os países necessitam formular ações coletivas para garantir sua própria segurança.  

Mesmo com a possível aprovação do acordo do separação pelo parlamento britânico e pelos líderes europeus, ainda pairam diversas incertezas quanto aos reais impactos econômicos, sociais e migratórios do "brexit", não somente ao Reino Unido, mas também aos países europeus que têm vínculos históricos com as ilhas britânicas.

A assinatura do acordo é um importante passo para a "carreira solo" do Reino Unido, mas detalhes relevantes ainda precisam ser definidos antes desse caminho tornar-se realidade.


 

Bruno Theodoro Luciano é pesquisador em ciência política e estudos internacionais na Universidade de Birmingham, no Reino Unido e foi pesquisador Konrad Adenauer em estudos europeus na Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro

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