Austrália reconhece Jerusalém como capital de Israel, mas não mudará embaixada

País se comprometeu a reconhecer as aspirações de um futuro Estado para os palestinos

A cidade velha de Jerusalém, onde fica a mesquita do Domo da Rocha - Ahmad Gharabli - 7.dez.2018/AFP
Sidney e São Paulo | AFP

A Austrália reconheceu Jerusalém Ocidental como a capital de Israel, anunciou neste sábado (15) o primeiro-ministro Scott Morrison, mas a transferência da embaixada de Tel Aviv só ocorrerá após um acordo de paz com os palestinos.

Morrison também se comprometeu a reconhecer as aspirações de um futuro Estado para os palestinos tendo Jerusalém Oriental como sua capital quando o status desta cidade for estabelecido em um acordo de paz.

"A Austrália reconhece, a partir de agora, Jerusalém Ocidental —onde estão o Knesset (Parlamento) e numerosas instituições governamentais— como capital de Israel", afirmou Morrison em um discurso em  Sidney. 

O primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison - Mick Tsikas/Reuters

"Pretendemos transferir nossa embaixada para Jerusalém Ocidental quando for factível, após a conclusão de um status final" para esta cidade, informando que as obras no novo local da embaixada já estavam em andamento.

Enquanto isto, a Austrália estabelecerá um escritório encarregado de Defesa e Comércio na parte oeste da Cidade Santa. 

"Reafirmando nosso compromisso em uma solução de dois Estados, o governo australiano também está decidido a reconhecer as aspirações do povo palestino para um futuro Estado com capital em Jerusalém Oriental", acrescentou o primeiro-ministro.

Ele disse ainda que a Austrália não vai mais se abster na ONU sobre resoluções que, segundo ele, "atacam" Israel, como a que exige o não estabelecimento de missões diplomáticas em Jerusalém.

Jerusalém é reivindicada tanto por israelenses como por palestinos, mas a maioria dos países prefere não instalar suas representações diplomáticas na cidade. 

O presidente americano, Donald Trump, reconheceu a cidade como capital de Israel em dezembro de 2017 e em maio de 2018 transferiu a embaixada dos EUA de Tel Aviv para Jerusalém. 

A cerimônia coincidiu com um banho de sangue na Faixa de Gaza, palco de violentos confrontos entre palestinos e soldados israelenses ao longo da fronteira. Ao menos 62 palestinos morreram baleados.

O presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, anunciou planos de transferir a embaixada brasileira de Tel  Aviv para Jerusalém durante a campanha. Depois de eleito, ele disse que a decisão ainda não estava tomada. 

Durante viagem aos EUA, no fim de novembro, o filho do presidente eleito, Eduardo Bolsonaro, disse que a mudança estava decidida. "A questão não é perguntar se vai, a questão é perguntar quando será", afirmou.​

Segundo a colunista Mônica Bergamo, Bolsonaro não pretende recuar da ideia, mas pretende deixar o assunto em banho-maria, sem anunciar uma data para a mudança. 

No início de dezembro, a Liga Árabe alertou o presidente eleito em uma carta que a transferência da embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém poderia prejudicar as relações com os países árabes.

O premiê australiano já havia mencionado em outubro, antes de uma eleição crucial para sua estreita maioria, essa mudança de direção na política externa australiana. Mas havia dado um passo atrás após a comoção política provocada na Austrália.

Aclamado na época pelo primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, o anúncio irritou a vizinha Indonésia, que possui a maior população muçulmana do mundo, e causou o congelamento de negociações para um acordo comercial bilateral.

Antecipando o anúncio de sua decisão, Canberra aconselhou cautela aos australianos que viajem à Indonésia.

O primeiro-ministro procura seduzir o eleitorado judeu e cristão conservador e conquistar as boas graças da Casa Branca, embora tema um revés eleitoral no ano que vem.

Ao comentar a decisão de Morrison, o embaixador palestino na Austrália, Izzat Abdulhadi, disse à AFP que seu governo pretende incitar os países árabes e muçulmanos a "retirar seus embaixadores" e adotar "medidas de boicote econômico" contra a Austrália.

A ONG Australia Palestine Advocacy Network (APAN) afirmou neste sábado que a decisão do primeiro-ministro Morrison "não serve aos interesses australianos". Ela "mina qualquer possibilidade real de alcançar um acordo futuro e encoraja Israel em suas violações diárias dos direitos dos palestinos", segundo seu presidente, o bispo George Browning.

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