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Bolsonaro participará de uma convergência antibolivariana?

Incógnita não esclarecida é quais papéis o presidente e o Brasil vão exercer na América Latina

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O presidente da Colômbia, Ivan Duque, que deve ser um dos aliados de Jair Bolsonaro, cumprimenta repórteres 
O presidente da Colômbia, Iván Duque, que deve ser um dos aliados de Jair Bolsonaro, cumprimenta repórteres  - Arnulfo Franco-10.set.2018/Associated Press
Carlos Malamud

O próximo presidente do Brasil quer “desideologizar” a política externa. Isso implica abandonar as grandes causas do PT, como o apoio à Alba (ou ao que resta da aliança bolivariana) e à Unasul (União das Nações Sul-Americanas).

Para isso ele quer reconfigurar o Mercosul e rever suas alianças regionais. Onde antes se olhava para os governos populistas e para a esquerda, agora se olhará em outra direção. 

Uma incógnita que ainda não foi esclarecida nesta mudança radical é o papel que o Brasil e o presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), vão exercer na América Latina.

Bolsonaro indicou que o presidente chileno, Sebastián Piñera, será um interlocutor privilegiado. O colombiano Iván Duque pode ser outro. Mas os dois países fazem parte da Aliança do Pacífico, bloco comercial criticado pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e seus assessores internacionais. 

Mais problemática será a relação com o argentino Mauricio Macri e com o paraguaio Mario Abdo, condicionada pelo futuro do Mercosul. 

Como a maioria dos países sul-americanos, o Brasil sofre os efeitos da crise humanitária na Venezuela e seus quase 4 milhões de emigrantes, muitos dos quais buscam refúgio e trabalho nos países vizinhos. Vem daí que um dos temas articuladores de uma possível convergência conservadora será a resposta regional ao governo de Nicolás Maduro, tachado de ditatorial pelo Grupo de Lima e pelo secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), Luis Almagro.

O próximo dia 10 de janeiro será crucial por marcar o início do próximo mandato na Venezuela, depois das eleições irregulares de maio passado. 

Alguns presidentes latino-americanos anunciaram que não reconhecerão um novo governo de Maduro e estudarão novas medidas conforme a evolução dos acontecimentos. Neste ponto será importante a atitude do presidente mexicano, López Obrador

Recentemente o assessor de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, descreveu Cuba, Venezuela e Nicarágua como “troica da tirania” e disse que vai estudar possíveis ações conjuntas com outros países do hemisfério. Foi precisamente esse um dos motivos de sua reunião com Bolsonaro no Rio de Janeiro.

Não será difícil para os governadores conservadores da região coordenar políticas tanto dentro como fora do Grupo de Lima, inclusive com os EUA. 

O problema é até onde vão querer chegar, cientes de que a pauta das relações regionais não se resume à crise venezuelana. Inclui a convergência entre o Mercosul e a Aliança do Pacífico, além das outras questões comerciais, a energia (não apenas as fontes renováveis), a mudança climática, a corrupção e a relação com os EUA, China e a União Europeia.

Será mais fácil para Bolsonaro promover esse processo do que para seus colegas. Com a exceção de Piñera, que se mostrou disposto a acompanhar o Brasil, enxergando-o mais como uma oportunidade que como um risco.

 

Os outros presidentes terão dificuldade maior, dada a forte rejeição que o novo presidente brasileiro gera na opinião pública do continente. A Cúpula Conservadora de Foz do Iguaçu é apenas um caminho, se bem que, devido às ausências governamentais, ela será marcada mais pela retórica que por suas opções reais.

A preocupação maior dos governos latino-americanos com o que ocorre na região é boa notícia, independentemente da cor política de quem a promove. Mas, para que isso prospere, é necessário que a convergência se dê a partir de consensos amplos em que os interesses nacionais pesem mais que a ideologia. 

Já vimos como fracassaram redondamente os experimentos promovidos pelo projeto cubano venezuelano. A direita também deveria aprender a lição.

Tradução de Clara Allain

 

Carlos Malamud é historiador argentino e analista sênior para América Latina do Real Instituto Elcano

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