Descrição de chapéu Coreia do Norte

Coreia do Norte quer união com o sul, mas em regime de separação política

Estados Unidos são vistos como principais adversários de colaboração entre Coreias

Ana Estela de Sousa Pinto
Pyongyang

O que pensa da reaproximação das Coreias? E da reaproximação com os EUA? Não existem mapas da Coreia do Norte na Coreia do Norte. Eles estampam a península toda, e o slogan “A Coreia é uma!” está em cartazes, apresentações musicais, selos e no discurso da população.

guia militar caminha em direação a prédio do museu
Soldado feminino mostra museu sobre a Guerra da Coreia, em Pyangyong - Ana Estela de Sousa Pinto/Folhapress

Fundado no século 10, o Estado Goryô (que deu origem a Koryo, e daí Coreia) reuniu habitantes da Ásia Central que migraram para a península há entre 6.000 e 8.000 anos. 

Anexada em 1910 pelo Japão, a Coreia só saiu do jugo vizinho em 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial, para ser dividida entre os Estados Unidos, que ocuparam o sul do paralelo 38, e a União Soviética, que ficou com o norte.

Incapazes de achar uma solução de governança para toda a península, eles a dividiram em dois governos, em 1948.

A reunificação ambicionada pela ditadura norte-coreana segue o modelo “1 Estado, 2 governos”. Haveria um chefe de Estado comum, e atividades de defesa e diplomacia seriam unificadas, mas os regimes continuariam separados.

Reuniões nesse sentido vêm sendo feitas com o governo sul-coreano, pró-reunificação. Nos últimos encontros, os países firmaram acordos de “fomentar a reconciliação nacional, criar um ambiente pacífico de colaboração e avançar em uma reunificação que assegure economia equilibrada”.

A questão da economia é especialmente delicada, porque há um abismo de renda entre as Coreias do Norte e do Sul. 

Os norte-coreanos não publicam estatísticas, mas analistas acreditam que a renda média dos sul-coreanos chegue a 40 vezes a de seus vizinhos do norte —mais de dez vezes a diferença de rendimento entre alemães ocidentais e orientais em 1989, quando caiu o Muro de Berlim.

Já nas relações com os EUA, “após 60 anos de enfrentamento, a confiança só voltará pouco a pouco”, segundo Ko Kun-chol, do Comitê Coreano de Intercâmbio Cultural com o Exterior.

O governo Kim Jong-un baixou neste ano o tom do discurso contra os americanos. Retirou das ruas cartazes em que caricaturas deles eram esmagadas pelos norte-coreanos e não desfilou armas nucleares da parada militar de 70 anos da República, em setembro.

Mas os EUA ainda são descritos como o principal inimigo externo do país.

“Os imperialistas americanos querem que abandonemos o programa nuclear, mas todos vimos o que aconteceu na Líbia. Agora há o caos, muito pior que antes. Assassinatos, destruição da economia, como na Síria, no Iraque, no Afeganistão, e os EUA não fazem nada. Estamos bem conscientes disso tudo”, diz Ko.

O governo americano é apontado como o maior empecilho à reunificação. “Juntas, as Coreias seriam uma nova potência mundial, e os EUA temem isso. Eles também não teriam mais desculpas para deixar suas tropas no sul”, diz Ko.

 

Folha leva à Coreia do Norte perguntas de leitores

"O que você gostaria de perguntar a um norte-coreano, se tivesse a oportunidade de visitar esse que é um dos países mais fechados do mundo?" foi a questão feita pela Folha a seus leitores antes de embarcar.

Foram enviadas mais de 70 questões, parte delas respondidas durante a viagem, no final de outubro.

Muito foi visto e ouvido, mas o número de vozes e pontos de vista ausentes deixa sempre muitas questões em aberto.

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