O G20 caminhava na tarde de sexta-feira (30) para remeter a tensão comercial entre China e Estados Unidos para o âmbito de uma futura reforma da OMC (Organização Mundial de Comércio).
Mas a declaração final da cúpula de Buenos Aires ainda não estava fechada e dependia de uma negociação a ser continuada à noite.
Não é o fim da guerra entre as duas grandes potências comerciais do planeta, mas é tudo o que os negociadores poderiam conseguir, se a reunião noturna fechasse, por fim, o texto. A evolução da guerra dependia de outro tipo de reunião, o jantar deste sábado (1º) entre os líderes Donald Trump e Xi Jinping.
“Estamos todos esperando”, comentou Christine Lagarde, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, com Marcello Estevão, chefe da Assessoria Internacional do ministério brasileiro da Fazenda, ele também à espera desse encontro.
“Não é um tema que vá ser resolvido aqui”, disse por sua vez o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia.
Tem razão. Tanto que a ideia de remeter à reforma da OMC a discussão das tensões comerciais já havia sido definida em setembro, em reunião dos ministros de Economia do G20. Se, nas inúmeras discussões dos dois meses e meio seguintes, não se chegou à outra solução é porque as divergências continuam enormes.
Em consequência, Trump tanto pode brecar a escalada do conflito com a China como mantê-lo aceso e aumentado, se duplicar as tarifas de importação de produtos chineses em janeiro, como está programado.
Ainda assim, colocar a OMC no jogo é uma decisão festejada pelo seu diretor-geral, o brasileiro Roberto Azevedo: “É a posição que venho defendendo há tempos”.
Também o presidente Michel Temer é favorável, como ficou claro no discurso que fez na manhã desta sexta-feira em encontro dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul): “Reafirmamos nosso respaldo à Organização Mundial de Comércio e a seu mecanismo de solução de controvérsias. E estamos dispostos a dar nosso aporte a debates, que tenham lugar na própria OMC, sobre o futuro de uma organização que queremos mais forte e atuante”.
Os demais integrantes dos Brics seguiram idêntica linha, o que significa que a China, um dos dois lados do conflito, está de acordo.
Marcello Estevão justifica o apoio à reforma da organização internacional: “Renovar faz sentido. O que não faz sentido é demolir tudo”, ou seja, todo o sistema multilateral de comércio.
Reformar a OMC é uma maneira de ganhar tempo, até porque o texto que estava sendo negociado nesta sexta previa que a cúpula seguinte do G20 —em Osaka, no Japão, em 2019— debateria os progressos alcançados até então.
O problema para a reforma é que não está claro o que exatamente se quer reformar. “Cada país tem a sua reforma na cabeça”, diz Azevedo, o diretor-geral da OMC. Completa: “Mas a OMC precisa tomar a decisão estratégica de dizer para onde vai”.
Reforça Marcos Galvão, o vice-chanceler brasileiro: “O texto até agora elaborado fala de reforma mas sem prescrições detalhadas, porque entrar nos detalhes exigiria uma negociação complicada”.
Essa acomodação devolveria o tema comercial à senda multilateral, a que menos agrada a Trump. O que significa que ele pode, com um tuíte amanhã ou depois, destruir tudo o que negociadores de 19 países, inclusive dos Estados Unidos, levaram meses tentando construir.
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