Descrição de chapéu The New York Times

Guatemalteco tem visto negado para ir ao funeral de sua filha assassinada nos EUA

Hania Aguilar, 13, foi sequestrada diante de sua casa na Carolina do Norte e morta

Matthew Haag
The New York Times

O Departamento de Estado americano negou visto temporário a um pai guatemalteco que tenta comparecer ao funeral de sua filha adolescente neste sábado (8). Hania Aguilar, 13, foi sequestrada diante de sua casa na Carolina do Norte, no mês passado, e mais tarde encontrada morta à beira de uma estrada rural.

O pai da menina, Noé Aguilar, foi à Embaixada dos Estados Unidos na Cidade da Guatemala nesta segunda-feira (3), e solicitou tramitação acelerada para um visto que permitisse sua viagem ao país. Ele teve o visto negado de imediato, porque funcionários americanos consideraram que ele não tinha elos fortes com a Guatemala, seu país de origem, e poderia não retornar da viagem aos EUA, de acordo com a advogada de Aguilar, Naimeh Salem.

"Para dizer a verdade, em governos anteriores nunca tivemos problemas como esse", disse Salem, advogada de imigração radicada no Texas. "Mas com este governo, tudo aquilo que pode ser negado vem sendo negado."

Menina posa para foto abraçando os joelhos
Hania Aguilar, 13, que foi sequestrada e morta em Lumberton, na Carolina do Norte - FBI/The New York Times

Quando surgiu a notícia de que o pedido de visto de Aguilar havia sido negado, na quinta-feira (6), alguns políticos importantes da Carolina do Norte prometeram apoiar o governador, o democrata Ray Cooper, que pretendia escrever uma carta ao Departamento de Estado solicitando que o pedido do pai fosse reconsiderado, segundo Salem. O gabinete do deputado federal Mark Meadows, republicano, também intercedeu.

"Tenho esperança de que possamos conseguir o visto", disse a advogada.

Procurados pelo New York Times, os gabinetes de Cooper e Meadows não se pronunciaram. 

Nicola Thompson, porta-voz do Departamento de Estado, afirmou que não podia comentar sobre casos individuais de pedidos de visto. "O Departamento de Estado faz todos os esforços para facilitar viagens legítimas de visitantes internacionais", disse Thompson. "Também temos o compromisso de ministrar plenamente as leis de imigração americanas e garantir a integridade e segurança das fronteiras de nosso país.”

Hania foi sequestrada na manhã de 5 de novembro, diante da casa de sua mãe, em um conjunto de trailers em Lumberton, uma cidade de 21,5 mil moradores ao sul de Fayetteville.

Testemunhas disseram ter visto um homem usando roupas escuras e um lenço amarelo na cabeça arrastando Hania para dentro de um utilitário esportivo, a polícia informou.

A busca por Hania dominou o noticiário do estado e o do sul dos Estados Unidos, e o FBI (Polícia Federal americana) passou a atuar no caso e coordenou uma vasta busca que durou semanas.

As autoridades tinham poucas pistas. Divulgaram imagens de câmeras de vigilância que mostravam um utilitário esportivo e solicitaram que o público ficasse atento a calçados como os que Hania foi vista usando antes do sequestro: tênis Adidas brancos com listras pretas e um logotipo colorido no calcanhar.

Depois de quase três semanas de buscas, a polícia localizou o corpo de Hania à beira de uma estrada rural cerca de 11 quilômetros ao sul de Lumberton, informaram as autoridades. O FBI se recusou a revelar por que buscas foram conduzidas no local, mas disse que seus agentes estavam seguindo "pistas na investigação".

Uma porta-voz do FBI, que tem informações sobre o caso expostas com destaque em seu site, declarou na quinta-feira que o homicídio continua sem solução.

Em seu pedido de visto, Aguilar declarou que era dono de uma empresa na Guatemala e não tinha intenção de ficar nos Estados Unidos depois do funeral, disse Salem. Mas funcionários da embaixada negaram a solicitação porque seu saldo bancário era baixo.

"Ele não tinha um histórico negativo de imigração", disse Salem. "Nenhuma deportação".

Aguilar viveu nos Estados Unidos quando sua filha era pequena, mas voltou à Guatemala por volta de 2005 disse a advogada.

Embora o presidente Donald Trump tenha concentrado as ações de sua política de imigração principalmente na fronteira, com grande alarido, seu governo vem discretamente reordenando a entrada legal de estrangeiros nos Estados Unidos, seja para fins de turismo, trabalho ou estudo.

Vistos de trabalho vêm sendo negados ou postergados em grande número, dizem empresas. As universidades se preocupam sobre como poderão atrair estudantes estrangeiros que necessitam de vistos. E os estrangeiros que já estão nos Estados Unidos enfrentam mais dificuldades para prolongar suas estadias.

Salem disse ter trabalhado em numerosas solicitações semelhantes nos últimos anos, para familiares que desejavam visitar um parente doente ou comparecer a um funeral nos Estados Unidos. Ela disse que não se recordava de outro caso de circunstâncias semelhantes no qual o visto tivesse sido negado.

"Ele jamais tentou voltar aos Estados Unidos", disse a advogada. "Não tem desejo de voltar aos Estados Unidos. Só queria se despedir da filha".

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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