Irmão de Macri depõe sobre esquema de corrupção e nega ter pago suborno

Citado no caso dos 'cadernos de corrupção', Gianfranco diz que não sabe se o pai pagou propina

Gianfranco Macri, irmão do presidente argentino, após deixar o depoimento em Buenos Aires
Gianfranco Macri, irmão do presidente argentino, após deixar o depoimento em Buenos Aires - Reuters
Sylvia Colombo
Buenos Aires

O irmão do presidente argentino, Mauricio Macri, Gianfranco, que comanda o grupo empresarial da família,  compareceu nesta quinta-feira (13) diante do juiz federal Claudio Bonadio para depor após ter sido citado por um delator em um suposto esquema conhecido como "cadernos da corrupção". 

Os conteúdos do depoimento e de um documento que ele deixou com Bonadio não foram divulgados. Na saída do tribunal, o empresário se dirigiu rapidamente aos jornalistas: "Nunca paguei subornos em minha vida. Quanto a meu pai, não sei, vocês precisam perguntar para ele."

Gianfranco e seu pai, Franco, fundador do Grupo Macri, são investigados pelo pagamento de propinas ao governo de Néstor Kirchner (2003-2007) para ganhar a concessão de construção e administração dos pedágios da rodovia Panamericana, estrada que sai do norte de Buenos Aires e vai até a Bolívia.

Gianfranco chegou por volta das 7h30 locais (8h30 no horário de Brasília), mas seu pai, que também foi chamado para depor, não compareceu. Aos 88 anos, seus advogados alegaram que ele sofre de demência, falta de audição e problemas cardíacos.  

Os filhos, Gianfranco e Mauricio, nunca mantiveram relação muito boa com o pai, chamado por eles de autoritário. Isso foi uma das razões que levaram o primogênito a deixar a carreira empresarial e a entrar na política, embora recentemente tenha se reconciliado com o pai.

Apesar disso, durante a eleição presidencial de 2015, Franco disse publicamente que preferia uma vitória de aliados da então presidente Cristina Kirchner (2007-2015) do que a de seu filho —que acabou eleito. A escolha, afirmou ele, era pragmática: os governos kirchneristas tinham sido bons para seus negócios. 

Gianfranco e o pai foram intimados por Bonadio após serem citados pelo ex-diretor do Órgão de Controle de Concessões Viárias Claudio Uberti, que declarou que, durante o kirchnerismo, os empresários da família Macri fizeram vários acordos semelhantes com o governo. 

O Grupo Macri atua em diversas áreas, principalmente nos setores de construção, automotriz e de coleta de lixo e foi fundado por Franco, um imigrante italiano que chegou a ser um dos homens mais ricos da Argentina. 

O próprio presidente trabalhou muitos anos na empresa, mas por conta da relação difícil com o pai decidiu partir para uma carreira própria. Primeiro foi presidente do Boca Juniors, o clube mais popular do país, e depois fundou um partido político, o PRO, para entrar na vida pública. Foi deputado federal, chefe de governo de Buenos Aires (equivalente a prefeito da cidade) e em 2015 foi eleito presidente do país. .

Ao assumir o cargo, Macri  entregou sua parte no conglomerado para um "fideicomisso cego", um tipo de fundo do qual o titular não tem interferência nos investimentos, exatamente para evitar conflitos éticos.

Apesar disso, seu nome segue ligado a muitas das transações do conglomerado e em 2016 os Panamá Papers revelaram que o Grupo Macri possuía empresas fantasmas em paraísos fiscais, parte delas com Mauricio como diretor. 

O depoimento desta quinta, porém, está ligado a outra acusação contra o grupo.

O caso faz parte de um esquema maior, que ganhou o nome de "cadernos da corrupção", uma vez que se originaram de denúncias feitas a partir das anotações do motorista do ex-ministro do Planejamento, Oscar Centeno. Ele registrou com nome, endereços, fotos e vídeos as entregas que acompanhava de bolsas de dinheiro de empresários para políticos. 

Devido ao escândalo, a legislação argentina, que não permitia o uso da delação premiada para casos políticos, foi alterada neste ano. Com inspiração na Operação Lava Jato, a Lei do Arrependido, antes restrita a casos relacionados ao tráfico de drogas, foi ampliada para investigar também assuntos de corrupção.

Além dos Macri, também foram convocados para dar explicações membros do governo kirchnerista, incluindo a própria ex-presidente Cristina, atualmente senadora. O juiz Bonadio, inclusive, já enviou um pedido formal ao Congresso para que este retire o foro especial a que ela tem direito como senadora, o que permitiria que se tornasse réu no caso. 

Até agora, o juiz já incluiu 42 pessoas na investigação do caso. 

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.