Jornalista da Nicarágua é presa acusada de terrorismo

O Ministério Público do país acusa Lucía Pineda de provocação, proposição e conspiração para cometer atos terroristas

Nicaraguense segura um cartaz com os retratos dos jornalistas de oposição Miguel Mora (no alto) e Lucia Pineda. - Ezequiel Becerra/AFP
Nicarágua | AFP

Lucía Pineda, diretora de imprensa do canal de televisão 100% Noticias, da Nicarágua, fechada pelo governo, foi acusada de terrorismo e colocada em prisão preventiva, segundo nota da Justiça em Manágua.

O Ministério Público acusou Pineda, que tem dupla nacionalidade nicaraguense e costa-riquenha, de "provocação, proposição e conspiração para cometer atos terroristas", segundo a comunicação distribuída pela Presidência da República.

Os argumentos da Justiça nicaraguense contra Pineda são de "incitar o ódio por razões de discriminação política, difundindo na emissora de TV e em redes sociais informações falsas e sem checar, com a intenção de gerar desânimo e ódio radical contra os simpatizantes e membros do partido (governista) Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN)".

Também acusa a jornalista de incitar o ódio "à instituição de ordem, à Polícia Nacional, em clara provocação e indução a cometer crimes graves conexos, como danos à propriedade pública e privada, ameaças e assédios, entre outros".

No sábado, o dono da emissora de TV a cabo e de programação contínua 24 horas, o jornalista Miguel Mora, já tinha sido preso, acusado dos mesmos crimes.

Ele foi apresentado algemado e com uniforme de presidiário a um tribunal.

O canal 100% Notícias, que transmite 24 horas via cabo, foi um dos veículos de comunicação com cobertura mais constante sobre a crise na Nicarágua desde a explosão dos protestos contra o governo em 18 de abril.

A repressão aos protestos deixou, segundo organizações humanitárias, pelo menos 320 mortos, 600 presos e milhares de exilados em países vizinhos.

O processo inicial contra Pineda foi marcado para 25 de janeiro no Sexto Juizado Distrital de Audiência de Manágua, aonde foi enviado um forte contingente da tropa de choque.

A jornalista tinha sido apresentada sob sigilo à Justiça neste domingo, 36 horas após ter sido presa na noite de sexta-feira, quando a Polícia vasculhou e ocupou a sede do 100% Notícias, disse à AFP o advogado da Comissão Permanente de Direitos Humanos (CPDH), Pablo Cuevas.

O traslado de Pineda, de 45 anos, foi feito sem o acesso da imprensa, nem notificação aos seus familiares para que lhe conseguissem um advogado.

Uma equipe da CPDH que permanece nos tribunais para dar assistência aos detidos foi que alertou sobre a presença de Pineda no juizado e assumiu sua representação legal, disse o advogado.

Os arredores do complexo judicial estavam fortemente resguardados pela tropa de choque.

​Com 23 anos de exercício profissional, Pineda é a segunda jornalista acusada no contexto dos protestos antigovernamentais que explodiram em 18 de abril contra uma reforma da Previdência Social, que o governo qualifica de tentativa de golpe de Estado.

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